Durante a primeira expedição científica portuguesa de veleiro na Península Antártica, depararam-se com as alterações que a mudança do clima está a provocar naquela região do globo, mas também com muito turismo e a aproximação excessiva de barcos de cruzeiro aos glaciares, o que pode vir a causar problemas, assumiram.
"A Antártida está a mudar por causa das alterações climáticas. A península é das zonas mais afetadas pelas alterações climáticas. Além disso, também é das zonas onde há mais bases científicas. Há muito turismo, portanto também é expectável que os níveis de poluição estejam a aumentar", disse à agência Lusa a investigadora Milene Guerreiro, da Universidade de Coimbra, ao falar da importância do projeto que está a desenvolver.
A expedição incluiu 12 investigadores, 10 dos quais portugueses, que levaram outros tantos projetos a bordo. Hoje, em Lisboa, fizeram um balanço positivo da viagem, mas os resultados só serão revelados depois de analisadas as amostras recolhidas.
"O meu o objetivo é estudar a distribuição de microplásticos ao longo da Península Antártica. Queremos estudar e fazer a relação com o zooplâncton, que é a base da cadeia alimentar", explicou Milene Guerreiro, aluna de doutoramento em Ecologia.
"Os microplásticos, além dos perigos que há de serem consumidos pelos organismos, também funcionam um pouco como uma esponja e podem absorver tóxicos que há na água e que depois passam para a cadeia alimentar", acrescentou.
Foram igualmente recolhidas amostras de água para tentar estabelecer uma relação com as bactérias da água em diversos pontos e as bactérias presentes nos microplásticos.
As amostras para este estudo só chegaram agora, seguindo-se o trabalho de análise para averiguar o tipo de poluentes presente nos microplásticos e a distribuição de zooplâncton: "onde é que há mais e onde é que há menos, que espécies há", indicou.
Durante o ano, serão produzidos relatórios sobre o trabalho. No final da apresentação ficou prometido um documentário "brevemente".
Os investigadores chegaram a Portugal há três meses, mas a carga de amostras da expedição Coastantar 2024 teve de ser transportada em diferentes fases.
"Ao todo a missão foi um mês, entre viagens e chegar à Antártida. Estivemos 15 dias a bordo do veleiro e as amostras só agora é que chegaram", contou a investigadora.
No mar, enfrentaram ondas de três a quatro metros, mas no geral, a viagem correu bem, admitiu.
"Para mim superou as expectativas, em termos de recolher amostras foi mesmo muito bom", considerou Milena Guerreiro.
As amostras recolhidas em terra, no âmbito de outros projetos, acompanharam os investigadores na viagem de regresso. No caso de Milene Guerreiro, o material recolhido teve de viajar congelado e acondicionado em álcool, o que é mais complexo em termos de transporte.
Participaram cientistas das universidades de Lisboa, Algarve e Coimbra na apresentação feita hoje na Cidade Universitária, onde foi exposto algum material utilizado, juntamente com fotografias captadas durante a viagem.
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