Menos de 24 horas depois de ser nomeado presidente do Conselho Europeu, António Costa comentou, em Bruxelas, na Bélgica, o voto contra deixado pela primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni, quando chegou a hora de escolher o novo líder do órgão.
"O Conselho não é propriamente uma agremiação de tecnocratas, mas de políticos. Todos têm as suas famílias políticas e orientações e, portanto, votam manifestam-se de acordo com essas preferências. É normal que isso aconteça. Compreendo perfeitamente o voto da primeira-ministra de Itália, com quem conto colaborar com enorme proximidade - como é óbvio, como farei com os outros 26 [Estados-Membros]", disse, em declarações aos jornalistas em Bruxelas, na Bélgica.
Questionado sobre se este voto contra - o único - pode ser um mau presságio, nomeadamente, tendo em conta alguma resistência que tem vindo a ser apresentada por Giorgia Meloni, e a existência de executivos europeus apoiados por Extrema-Direita. "Uma das grandes qualidades da União Europeia é ser uma união de vários Estados, todos eles Estados de Direito democrático, e onde os respetivos governos são fruto da vontade popular. São democraticamente escolhidos", afirmou.
Costa saiu 'em defesa' de Meloni, recordando mesmo que quando tomou posse como primeiro-ministro nas últimas eleições houve quem criticasse e dissesse que a forma de governo que este tinha não era adequada, mas "foi a que resultou da vontade dos portugueses. "O governo de Itália, como o governo dos outros 26 países é que resulta do voto e expressão democrática dos respetivos povos que devemos respeitar", atirou, sublinhando que as diferenças são normais. O grande esforço que é preciso fazer é, perante as diferenças, o bloco ser capaz "de, em conjunto, tomar decisões".
Ainda em declarações aos jornalistas, Costa sublinhou a forma "muito clara" como se expressou o Conselho Europeu na hora da votação. "Foi um voto de confiança que obviamente me honra", garantiu, acrescentando que esperava nos próximos dois anos e meio "contribuir para o prestígio do nosso país, para corresponder àquilo que tem sido o exemplo dos portugueses que trabalham no estrangeiro, nas comunidades".
Após declarações de Marcelo, Costa reforça: "Fui eleito porque sou socialista"
O Presidente da República, Marcelo de Sousa, não demorou a felicitar Costa logo na noite de quinta-feira, mas já hoje disse que o seu nome era indicado por ser aceite pelo Centro-Direita, por liberais, e também pela direita mais radical. Questionado sobre se se revia nesta declaração de Marcelo, Costa reforçou: "Toda a gente sabe qual é a minha família política. Estou no Partido Socialista Europeu porque sou socialista. Fui eleito porque sou socialista. Para além disso, o presidente do Conselho tem que se saber colocar acima das famílias políticas para o exercício das suas funções - e ter uma noção clara e precisa para que todos os 27 têm igual direito e merecem igual respeito", asseverou.
Costa reforçou ainda que é necessário ajudar e contribuir para que consensos se formem, seja em maioria qualificada ou na generalidade das decisões que o Conselho Europeu toma, e ainda citou Mário Soares. "É como a expressão que Mário Soares criou para os Presidentes da República, 'ser o Presidente de todos os portugueses'. O presidente do Conselho tem de ser o presidente de todos aqueles que se sentam no Conselho Europeu", disse.
Costa foi ainda questionado sobre a possibilidade de se recandidatar a um segundo mandato, e respondeu que por agora se deveria aguardar pelo primeiro dia de dezembro, quando tomará posse, para "iniciar a contagem". Até lá, Costa diz que vai fazer algo que "não faz desde a faculdade", que é tirar umas "largas semanas consecutivas" de férias.
Um dia depois de ser eleito o próximo presidente do Conselho Europeu, António Costa encontrou-se com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a futura alta representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas.
Depois de uma breve conversa com o secretário-geral do Partido Socialista Europeu (PES), Giacomo Filibeck, o presidente eleito “disse que vai querer falar com todo os líderes” para perceber como é que pode “melhorar os métodos de trabalho no seio do Conselho, ouvir as ideias de todos”.
“Conheço-os pessoalmente quase todos, só ainda não conheço o primeiro-ministro da Irlanda, entretanto vão também mudar alguns primeiros-ministros, pelo menos o da Holanda irá seguramente mudar, outros também estão na perspetiva de mudar. Tenho bastante para fazer”, completou.
[Notícia atualizada às 18h35]
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