O epidemiologista Manuel Carmo Gomes alertou, esta quarta-feira, que o número de casos de Covid-19 é bastante superior ao conhecido, numa altura em que a doença se está a intensificar.
O especialista falava sobre os recentes dados, que indicam que Portugal está com uma média diária de 12 óbitos por Covid-19 e perto de 400 novos casos.
"Nós temos muito mais de 400 casos. Os 400 casos são aqueles de que nós temos conhecimento. Eu multiplicaria, pelo menos por 10, este número de casos que temos conhecimento, para estar mais próximo da realidade", disse Manuel Carmo Gomes, em declarações na CNN Portugal.
Segundo o epidemiologista, existem outros indicadores que "sugerem que a circulação do vírus esta a intensificar-se", nomeadamente os óbitos, "que aumentaram de três para 12 numa questão apenas um mês" e as hospitalizações.
Como razões para este aumento de casos, Carmo Gomes apontou, tal como já havia referido anteriormente, a evolução do vírus SARS-Cov-2, com o surgimento de novas linhagens com "capacidade de fugir aos anticorpos", nomeadamente aa KP.1, KP.2 e KP.3.
Por outro lado, já passou algum tempo desde a última campanha de vacinação, tendo a proteção das pessoas contra o vírus baixado.
"Quando nos vacinamos adquirimos dois tipo de proteção. Uma proteção contra infeção, que decai ao longo do tempo. Passados três, quatro meses, a quantidade de anticorpos que temos a circular no sangue diminui para um nível que já não confere proteção contra a infeção", precisou, ressalvando, contudo, que a "vacinação também nos traz proteção contra doença mais grave", evitando complicações nos órgãos mais internos, como, por exemplo, nos pulmões.
“As vacinas, nos que diz respeito a infeção, têm de facto limitações no tempo, mas conseguem a proteção contra doença grave e isso é muito importante", frisou ao canal.
Apesar de tudo, o epidemiologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 notou que não crê que "estejamos numa situação de grande preocupação". "Se olharmos ao Serviço Nacional de Saúde e se compararmos com a nossa experiência dos dois, três anos anteriores não tem nada a ver uma coisa com a outra. Para quem é que isto é preocupante? Para as pessoas mais vulneráveis", alertou.
O epidemiologista aconselhou assim as pessoas de maior risco a evitarem estar em espaços não arejados com pessoas fora do seu círculo habitual.
"Nós sabemos como o vírus se transmite - através do ar, por aerossol. Se nós estivermos num ambiente em que o ar não circula, na presença de outras pessoas, e em que algumas das quais podem estar infetadas, nós temos um risco elevado de inalar as partículas virais. E, se isso acontecer, somos infetados. Porque neste momento, uma vez que tomámos todos vacinas já há muito tempo, não temos um nível de proteção de anticorpos que evitem infeção", rematou.
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