"Os futuros comissários europeus também prestam provas, escritas e orais"

Artigo de opinião assinado por Dantas Rodrigues, advogado, professor de Direito e especialista em Direito Internacional.

Notícia

© Dantas Rodrigues

Notícias ao Minuto
18/09/2024 08:40 ‧ 18/09/2024 por Notícias ao Minuto

País

Artigo de opinião

"A escolha do Comissário Europeu pelo governo de um país integrante da União Europeia envolve um processo específico que combina decisões nacionais e aprovação ao nível da União Europeia.

 

Cada Estado-membro tem por competência nomear um candidato para o cargo de Comissário Europeu. Essa nomeação é feita pelo primeiro-ministro do respetivo governo nacional, que, durante o processo de decisão, consulta os membros do seu governo, informa da decisão o seu presidente da república ou o seu soberano, se se tratar de uma monarquia, e, por razões de ética política, antes de divulgar publicamente quem nomeou, explica a escolha que fez ao dirigente da oposição. Estas são as práticas políticas e constitucionais que, às vezes, por mera arrogância de mando, nem sempre são seguidas.

Depois do governo de cada Estado-membro escolher o seu candidato, devendo fazê-lo, o mais tardar, até 30 de agosto, o nome desse candidato é proposto à presidente da Comissão Europeia – Ursula von der Leyen –, que decidirá se o aceita ou não.

A presidência da Comissão Europeia desempenha um papel importante na distribuição das pastas (áreas de responsabilidade) entre os comissários

A presidência da Comissão Europeia desempenha um papel importante na distribuição das pastas (áreas de responsabilidade) entre os comissários, e pode negociar com os Estados-membros se a pessoa indicada é adequada ou não serve para as funções a que se propõe.

Aceites as candidaturas pela presidência, o passo seguinte é a indispensável aprovação das mesmas pelo Parlamento Europeu, o qual determina, após uma série de questionários escritos e orais, se elas preenchem os quesitos exigidos. Assim, os candidatos terão de responder a uma série de perguntas e submeterem-se a uma prova oral de três horas, na qual se analisa a sua idoneidade e se indaga a respeito da sua competência para o desempenho do futuro cargo. 

O regulamento interno do Parlamento Europeu inclui igualmente outros critérios a exigir aos nomeados, designadamente conhecimento específico da pasta a atribuir, compromisso, independência, capacidade de comunicação, ou equilíbrio político e de género, embora este último, por si só, não possa constituir motivo para discriminação de um candidato, já que o entendimento é o de alcançar paridades, não devendo existir mais de 60% de pessoas do mesmo género.

Caso obtenham o apoio dos grupos parlamentares (sete no total) – necessitam de apoio de dois terços na reunião de coordenadores –, a aprovação é notificada à conferência de presidentes.

A decisão final cabe à sessão plenária do Parlamento Europeu, que só pode aprovar ou rejeitar todo o colégio proposto numa votação coletiva

A decisão final cabe à sessão plenária do Parlamento Europeu, que só pode aprovar ou rejeitar todo o colégio proposto numa votação coletiva. Isto significa que, na prática, o Parlamento Europeu não pode vetar um candidato individual porque a composição da Comissão é votada em bloco. Mas se um candidato não passar no exame parlamentar, e receber uma avaliação negativa, isso poderá tornar-se um elemento de pressão, suscetível de obrigar o Estado-membro em causa a reconsiderar a sua proposta e a mudar de candidato.

Os comissários europeus podem recandidatar-se a um novo mandato, dependendo a decisão de recandidatura da vontade dos mesmos em continuar, bem como do beneplácito dos governos dos seus países de origem, que devem nomeá-los novamente.

No caso concreto de Portugal, a Comissária para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, não obteve o tal beneplácito do atual governo para ser reeleita.

Do presente colégio de comissários continuam em funções Wopke Hoekstra (Países Baixos),  com a pasta da ação climática; Maros Sefcovic (Eslováquia), vice-presidente do executivo  preponente do pacto ecológico europeu e responsável pelas relações com o Reino Unido; o vice-presidente executivo e responsável pelo comércio, Valdis Dombrovskis, vice-presidente do executivo com a pasta da  economia; Thierry Breton (França), comissário para o mercado interno; Olivér Várhelyi (Hungria), comissário para a vizinhança e alargamento da União Europeia; e Dubravka Suica (Croácia), vice-presidente do executivo para a democracia e demografia.

Se o Parlamento Europeu aprovar a Comissão, ela será então oficialmente nomeada pelo Conselho Europeu, o qual é composto pelos chefes de estado ou de governo dos Estados-membros.

Por fim, a nova Comissão Europeia assumirá funções a 1 de dezembro de 2024.

E eis como funcionam os mecanismos do comissariado europeu."

Por Dantas Rodrigues, advogado, professor de Direito, especialista em Direito Internacional e sócio-partner da Dantas Rodrigues & Associados

Partilhe a notícia

Produto do ano 2024

Descarregue a nossa App gratuita

Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas