Um episódio que pode ter criado alguma tensão entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros e as Forças Armadas gerou polémica esta semana. A situação aconteceu no início de outubro, mas só agora foi conhecida, tendo gerado já algumas reações.
Em causa estão alegadas ofensas que terão sido proferidas pelo ministro da tutela, Paulo Rangel, aos militares, quando, a 4 de outubro, num voo de repatriamento de portugueses aterrava em Figo Maduro, vindo do Líbano. Segundo o alegado, o ministro chamou "burros" e "camelos" a dois militares que o impediram de chegar à pista de aterragem e terá proferido algo como "isto com os militares é sempre a mesma merda".
O clima de tensão foi avançado na semana passado pelo jornal Tal & Qual, e também foram captadas imagens obtidas pela CNN Portugal, onde Rangel rejeita um cumprimento às Forças Armadas. Na quarta-feira, o Notícias ao Minuto tentou obter esclarecimentos junto do Ministério, mas até agora ainda não obteve resposta.
"Caso de Estado" ou um "não assunto"?
Esta polémica foi lançada para cima da mesa durante o Congresso do Partido Social Democrata, durante o fim de semana. Paulo Rangel foi questionado pela CNN Portugal acerca do assunto, tendo respondido: "Não vou estar a comentar um não assunto. Estar a alimentar essa novela não faz sentido absolutamente nenhum. Comigo, pelo meu sentido de estado, por aquilo que é a minha história, não contarão comigo para falar desse assunto".
Mas apesar de não comentar, o assunto voltou a vir à tona, e perante as imagens publicadas pela emissora, houve quem pedisse para ouvir Rangel sobre o assunto.
"Foi com profunda preocupação que tomamos conhecimento, através de relatos recentes na imprensa, do comportamento inapropriado do senhor ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, durante um incidente ocorrido no Aeródromo Militar de Figo Maduro, onde foram dirigidos gritos e ofensas ao Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General Cartaxo Alves, e a outros militares em serviço", sustentou o Chega num requerimento conhecido na quarta-feira.
O pedido de audição é subscrito pelo líder parlamentar, Pedro Pinto, e pelos deputados Nuno Simões de Melo, Henrique de Freitas e Nuno Gabriel, que referem que o "comportamento descontrolado do senhor ministro, ao tentar contornar normas de segurança militar e desrespeitar as ordens dos militares que cumpriam o seu dever, é inaceitável e compromete a autoridade, disciplina e dignidade das próprias Forças Armadas, instituição basilar da nossa soberania e defesa nacional".
O Partido Socialista quer ouvir explicações sobre o que aconteceu, tendo o secretário-geral, Pedro Nuno Santos, referido que a polémica envolvendo o ministro e as chefias militares é um "caso de Estado". O socialista salientou ainda que o caso "tem de ser clarificado o quanto antes"
Também na quarta-feira, o PS acabou por pedir uma audição ao ministro.
E o Presidente da República?
Neste clima de tensão, o Presidente da República foi questionado sobre o assunto. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "houve equívocos" relacionados com esta situação, mas as duas versões - Governo e Forças Armadas - são coincidentes,
"A mim o que me chegou foram versões muito coincidentes que minimizaram o problema", esclareceu o chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas.
O Presidente da República realçou que "o Governo diz uma coisa e as autoridades militares dizem a mesma coisa", que "corresponde a uma desdramatização".
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