Arrancou, na segunda-feira, e debaixo de várias criticas, a pré-triagem telefónica obrigatória para grávidas. A medida implica que as grávidas tenham de ligar para a Linha SNS Grávida (808 24 24 24) antes de recorrerem à urgência hospitalar de Obstetrícia e Ginecologia.
Para muitos está a colocar-se entraves às mulheres num período delicado da sua vida, tornando a gravidez ainda mais insegura. Já o Governo defende que está a dar-se início a um caminho que já devia ter sido seguido há muito tempo.
O novo modelo, recorde-se, arranca em fase piloto em 11 ULS de Lisboa e Vale do Tejo e no Hospital de Leiria e em três unidades que aderiram voluntariamente ao projeto (Hospital de Gaia, Hospital de Portalegre e Centro Materno Infantil do Norte).
"Caminho errado" num período "arriscado"?
As criticas a este novo modelo começaram logo pela manhã de segunda-feira.
O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, foi o primeiro a opor-se ao modelo referindo que "é arriscado" implementar a medida tão perto do Natal. Afirmou não acreditar que a pré-triagem de grávidas resolva o que caracterizou de "caos estrutural" na saúde e considerou arriscado implementar esta medida perto do Natal, fase de maior pressão no SNS.
Já o Livre defendeu que este é o "caminho errado". "Parece-nos que a obrigação do Estado é proporcionar a qualquer mulher grávida toda a tranquilidade que precisa para viver a sua gravidez e, portanto, um plano que assenta sobretudo numa linha telefónica em que é preciso ligar para perceber para onde é que se pode ir, isto não traz tranquilidade, pelo contrário, traz aqui alguma insegurança, alguma intranquilidade que não ajuda a um período que já por si às vezes é difícil. Este não pode ser o caminho", considerou a líder parlamentar, Isabel Mendes Lopes.
O Chega, foi mais longe, e anunciou que vai entregar um pedido, com caráter obrigatório, para que a ministra da Saúde seja ouvida no parlamento até ao final do mês e acusou o Governo de adotar medidas "de cosmética" e "enganar os utentes".
O Bloco de Esquerda seguiu o mesmo caminho e disse que vai pedir uma audição urgente da ministra, acusando-a de querer dificultar o acesso ao SNS. Para Mariana Mortágua Mortágua o modelo em vigor "é desastroso, complica, dificulta o acesso ao SNS" sem reforçar a sua capacidade.
Já o PCP classificou como "inaceitável" a decisão do Governo de limitar o acesso das grávidas às urgências. Paula Santos defendeu que o novo modelo apresenta-se como "um impedimento, uma limitação, um condicionamento que não vai resolver nenhum problema de fundo".
Caminho é "difícil" mas o objetivo não é "poupar"
O Governo não ficou indiferente às criticas apontadas e veio mais tarde defender-se das acusações de que foi sendo alvo ao longo do dia. Se por um lado, admitiu que o primeiro dia do modelo decorreu com constrangimentos, por outro defendeu que a medida não visa poupar dinheiro.
"Compreendo algumas das reclamações, mas nós temos a obrigação de garantir cuidados e segurança aos nossos concidadãos e isso é o nosso principal objetivo. (...) Não estamos a querer poupar dinheiro com estas medidas, estamos a querer é que não se passe o que vimos no passado, com urgências fechadas", defendeu a secretária de Estado da Saúde
Já a ministra da Saúde foi mais convincente na defesa da medida por si aplicada, defendendo que esta já deveria ter sido aplicada há muitos anos.
"Esta experiência é um modelo que há muitos anos já devia ter começado a ser aplicado em Portugal", afirmou Ana Paula Martins em entrevista à TVI, acrescentando ainda que é preciso esclarecer não está a ser retirado o acesso a cuidados de saúde, mas sim a "garantir que quem precisa de um cuidado urgente ou emergente o vai ter". Apesar disso, reconhece: há "caminho difícil de fazer".
Segundo a governante, a solução que entrou em vigor nas urgências de obstetrícia de vários hospitais garante uma maior orientação para as grávidas que, em situações de doença aguda, têm um encaminhamento correto e permite que as equipas de urgência possam ficar reservadas para os casos urgentes ou muito urgentes.
Recorde-se que segundo o Ministério da Saúde, "ao final de três meses haverá lugar a uma avaliação do impacto, para que o plano possa ser estendido a todo o país".
Leia Também: Pré-triagem de grávidas já deveria ter sido aplicada "há muitos anos"