"Normalmente falamos dos Açores como importante no panorama geoestratégico e costumamos falar da base das Lajes", afirmou o professor. "Mas há mais dimensões estratégicas que a militar, há também a diplomática e económica".
Numa palestra intitulada "A Transatlantic Handshake: Island diplomacy in the Azores" (Um aperto de mão transatlântico: diplomacia insular nos Açores), dada em inglês, o professor da Universidade da Beira Interior defendeu que os Açores são um local privilegiado para servir como anfitriões diplomáticos ao mais alto nível.
"É uma dimensão estratégica dos Açores", considerou, referindo que o arquipélago está situado entre o continente europeu e o americano, funcionando como um "meio caminho", e a sua localização remota e segura tornam-no um ativo que Portugal nem sempre tem valorizado como devia.
Tomé Ribeiro Gomes falou da importância de investir em capacidade e infraestrutura nos Açores, exemplificando com projetos relevantes -- o Atlantic Centre, o AIR Centre e o Porto Espacial de Santa Maria.
"Os Açores são geograficamente importantes aconteça o que acontecer", salientou o investigador. Não só da perspetiva militar, por causa da Base das Lajes, mas também pela enorme diáspora que tem nos Estados Unidos.
"Há países que têm usado as suas diásporas para efeitos estratégicos, como Irlanda e Arménia", disse. "Usam as suas comunidades fora do país para fins estratégicos e talvez Portugal não o tenha feito tanto quanto podia", sublinhou.
Depois de enumerar as várias ocasiões em que os Açores foram palco de cimeiras internacionais ou considerados para tal, desde o início do século XX, Tomé Ribeiro Gomes falou do que pode vir a acontecer no futuro.
Com as relações entre os Estados Unidos e a Europa a tornarem-se voláteis e difíceis por causa da nova administração de Donald Trump, os Açores podem desempenhar um papel importante.
"Se houver uma remilitarização do Atlântico e a ideia de Trump de comprar a Gronelândia apontar para uma interface conflituosa, talvez sejam precisas mais cimeiras e locais onde se discutem temas de alto nível", sugeriu o professor. "Isto pode acontecer nos Açores como aconteceu no passado".
Por outro lado, pode ser mais difícil conseguir estabelecer uma base diplomática virada para a Europa se os Estados Unidos não estiverem interessados.
Trata-se de um "despertar" da Europa para a necessidade de reforçar o investimento na sua defesa e olhar para as ameaças não só a Leste mas também a norte e sul.
"O Ártico é um teatro que vai ser relevante no futuro e a União Europeia ainda não está a olhar para isto como deve", apontou Ribeiro Gomes, falando da atividade crescente de russos e chineses na região.
"Para Portugal, isto significa ser um dos países que tem os meios navais para agir no Atlântico Norte e na interface com o Ártico se for necessário", defendeu. Tal inclui a capacidade de patrulhas aéreas e marítimas, além do mapeamento e monitorização do chão do oceano por onde passam cabos de fibra ótica essenciais.
"Temos de saber o que está a acontecer no mar", disse o professor. "Portugal vai ter de investir nestas capacidades militares".
Leia Também: Açores a 'laranja' e 'amarelo' devido a agitação marítima, vento e chuva