O estudo 'Práticas de leitura dos alunos dos ensinos básico e secundário - Barómetro'23' incidiu sobre uma amostra de mais de 31 mil alunos e foi feito em parceria com a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e a Rede de Bibliotecas Escolares, contando com a Associação de Restaurantes McDonald's como mecenas.
Se no 3.º ciclo há 45,1% de alunos a dizer que os livros de leitura obrigatória são interessantes, essa percentagem desce para 33,8% no secundário, nível de ensino onde 62,7% dos alunos classificam as leituras obrigatórias como aborrecidas ou que não lhes dizem nada.
No secundário, 3,5% dos alunos consideram os livros de leitura obrigatória como divertidos.
"Esta constatação convida, uma vez mais, à reflexão sobre a escolha dos livros de leitura obrigatória, abrindo espaço para posicionamentos mais flexíveis sobre as leituras e os materiais de leitura. Importa no quadro deste debate não perder de vista o objetivo principal: a promoção da leitura e o incremento das práticas de leitura", escrevem os autores do estudo, coordenado por João Trocado da Mata e José Soares Neves.
No 10.º ano, a lista de obras e textos para "educação literária" inclui a poesia trovadoresca, Fernão Lopes (1380-1460), Gil Vicente (1465-1536) e Luís de Camões (1524-1580), enquanto no ano seguinte a lista vai do padre António Vieira (1608-1697) a Cesário Verde (1855-1886), passando por Almeida Garrett (1799-1854), Eça de Queirós (1845-1900) e Antero de Quental (1842-1891), entre outros.
No 12.º ano, aborda-se Fernando Pessoa (1888-1935), contos de autores como Manuel da Fonseca (1911-1993), Maria Judite de Carvalho (1921-1998) e Mário de Carvalho, e um romance de José Saramago ("Memorial do Convento" ou "O Ano da Morte de Ricardo Reis"), para além de vários nomes da poesia do século XX como Miguel Torga, Alexandre O'Neill, António Ramos Rosa, Herberto Helder ou Ana Luísa Amaral, entre outros.
O estudo recorda a frase do sociólogo João Teixeira Lopes, segundo a qual existe um "curioso paradoxo: aparentemente a escola mata a leitura".
De acordo com o estudo, a percentagem de alunos que diz possuir os seus próprios livros em casa ultrapassa os 90% em todos os escalões de ensino, com uma diminuição gradual à medida que o nível sobe, ou seja, no 1.º ciclo 97% dos alunos dizem ter livros em casa, praticamente a mesma do 2.º ciclo, descendo para 93,5% no 3.º ciclo e para 90,3% no secundário.
Também o gosto pela leitura cai à medida que avança o ensino: de acordo com o estudo, os alunos portugueses passam de 73,3% que dizem gostar de ler no 1.º ciclo para 35,4% no secundário.
"Os resultados apontam para a importância do capital cultural e das dinâmicas familiares na associação às práticas de leitura entre alunos do ensino não superior. A presença de livros em casa e a relação familiar com a leitura são os fatores mais fortemente associados à leitura dos alunos, superando a escolaridade dos pais, cuja força da correlação não é tão expressiva quanto a das restantes variáveis", pode ler-se no documento.
O objetivo do estudo era proceder "à construção de um sistema de recolha regular de informação sobre a evolução das práticas de leitura dos alunos do ensino não superior, respondendo a uma necessidade há muito diagnosticada pelas principais entidades com responsabilidades na promoção da leitura em Portugal".
Leia Também: Um em quatro alunos até ao secundário tem menos de 20 livros em casa