Na encenação da iniciativa participam uns 50 atores, todos amadores, e de várias idades, que prometem reproduzir "com o realismo possível", as 14 estações da Via-Sacra católica.
"A ideia nasceu de uma conversa com o pároco local que desafiou a população a avançar com o projeto (...). O desafio foi aceite, tendo sido redigido um texto em mirandês, no qual foram feitos acertos de acordo com as leis de Igreja" Católica, disse hoje à agência Lusa Altino Martins, o responsável pela encenação da "Bia Sacra an Mirandés" (Via-Sacra em Mirandês).
Todo o trabalho "tem o consentimento do bispo diocesano", acrescentou o encenador, que sublinhou algumas dificuldades associadas ao projeto: "No passado havia muita gente que falava mirandês. Hoje, esta língua é mais escrita do que falada, o que cria alguns embaraços".
"Mas temos connosco pessoas na casa dos 70 anos que na sua juventude falavam o mirandês. É uma grande ajuda para a tradição oral da língua prevaleça", contrapôs Altino Marfins.
Todos os trajes a utilizar no decurso da Via-Sacra são confecionados com base em recolhas e estudos efetuados pelo ateliê de Susana e Sandra Nobre, onde se produz indumentária regional mirandesa.
"Estamos a confecionar os trajes de época, da forma mais fiel e rigorosa possível", disse Sandra Nobre.
Os promotores da "Bia Sacra an Mirandés" pretendem que esta iniciativa seja um "marco cultural" no Planalto Mirandês, e que venha a cativar turistas, principalmente espanhóis, dada a proximidade com a fronteira.
"Pretendemos que esta representação vá mais longe e que traga dividendos turísticos para Sendim", avançou o presidente da União de Freguesias de Sendim e Atenor, José Almendra.
Para os atores, a tarefa é mais complicada do que noutra representação porque há mais horas de ensaios, por haver muitas falas em mirandês a decorar, e um longo percurso a percorrer.
Ainda assim, Pedro Manhonho, ator que representa o papel de Jesus Cristo nesta Via-Sacra, diz que se se trata de um trabalho "interessante e motivador", considerando que subjacente está a "obrigação" de todos os envolvidos em divulgarem o idioma mirandês.
A organização da iniciativa é da respirabilidade da União de Freguesias de Sendim e Atenor, Centro Cultural de Sendim e que conta com colaboração do município de Miranda do Douro.