Soares "preferiu sempre a intervenção do que o sofá e a crítica fácil"
Ferro Rodrigues diz que a perda de Mário Soares, “da Direita à Esquerda, esta dor é partilhada”.
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País Ferro Rodrigues
O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, discursou após a transmissão de um vídeo com a mensagem deixada pelo primeiro-ministro António Costa a partir da Índia.
Mário Soares "preferiu sempre a intervenção e o risco do que o sofá e a crítica fácil". Foi "o militante número um da nossa democracia", lembrou.
Dizendo-se “solidário com a dor dos deputados à Assembleia da República e com os militantes do Partido Socialista que perde o camarada número um", Ferro Rodrigues destacou que "da Direita à Esquerda, esta dor é partilhada".
Na sua intervenção, inserida nas cerimónias fúnebres de Estado, que decorrem nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos, Ferro Rodrigues descreveu o antigo primeiro-ministro e Presidente da República como alguém que "tinha a visão dos grandes estadistas e a intuição dos grandes políticos" e "pôs sempre Portugal em primeiro lugar".
"Tinha uma sintonia impressionante com o povo português. Os portugueses conheciam-no e ele conhecia bem Portugal e os portugueses", afirmou.
Citando o dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht, o presidente do Parlamento colocou Soares entre os imprescindíveis: "Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, e há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis", citou.
"Mário Soares lutou até ao fim", sublinhou, manifestando-se grato a Soares e "solidário com a dor do país que perde um líder político que sempre se bateu por causas e princípios", um "país que se exprime fortemente nestes dias, e marginaliza os saudosistas do ódio".
"Mário Soares costumava dizer que não devem ter existido muitos portugueses que num dado momento, entre 1975 e 2005, não tenham votado pelo menos uma vez nele. E também que em certos momentos ou fases não o tivessem combatido. E de facto foi mesmo assim", disse.
Ferro Rodrigues lembrou ainda que Soares "tinha um gosto contagiante pela vida e pelo país" e sublinhou: "Tinha a coragem política dos grandes. Sempre presente, nos momentos bons e nos menos bons".
"Quero também manifestar admiração pelo espírito solidário de Mário Soares, que pude testemunhar de perto quando liderei o PS. Ser militante número 1 do Partido Socialista não era para ele um simples privilégio, era mais um motivo para ser o primeiro a dar a cara. Preferiu sempre a intervenção e o risco ao sofá e à crítica fácil", declarou.
Lembrando o percurso do antigo Presidente da República, Ferro Rodrigues recordou Mário Soares como "advogado antifascista", "democrata ainda durante a ditadura" e "um homem aberto à Europa e ao Mundo, quando oficialmente o país ainda estava 'orgulhosamente só'".
"Se é costume dizer-se dos grandes políticos que a sua vida se confunde com a do tempo histórico que viveram, no caso de Mário Soares, é mesmo o último quartel do século XX português que se confunde com ele, tendo estado em luta contra a ditadura desde meados do século passado e tendo continuado os seus combates nestes anos do século XXI", afirmou.
Enquanto "deputado e constituinte, honrou a democracia que ajudou nascer ao lado de tantos antifascistas e dos capitães de abril, que hoje não podem nem devem ser esquecidos" e, enquanto primeiro-ministro, deixou "as bases do Serviço Nacional de Saúde e a adesão à então Comunidade Económica Europeia, assinada pelo seu punho precisamente aqui nos claustros dos Jerónimos", salientou.
"Como Presidente da República, moldou o entendimento que temos do cargo, afirmando Portugal no mundo e abrindo a presidência à sociedade e à cultura. O Portugal livre, democrático e europeu, o Portugal dos oceanos, cosmopolita e solidário, é o país de Mário Soares", defendeu.
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