"Nunca tivemos verdadeiramente um sistema feudal em Portugal. Mas hoje temos feudalismo, temos um regime de corporações não assumido mas verdadeiramente detentor do poder político. Quem manda em Portugal não é o povo. O povo faz parte de um circo que de anos a anos participa nas eleições para vaticinar ou corroborar escolhas previamente feitas pelos grupos corporativos que realmente mandam”. A afirmação pertence a Manuel Monteiro, ex-líder do CDS e fundador do Partido Nova Democracia, em entrevista ao jornal i.
Na opinião de Manuel Monteiro, o “peso” destes grupos é tal que “condicionam as lideranças políticas a admitir excepções aos sacrifícios que são impostos à maioria dos cidadãos”. Por isso, acrescenta, “isto não é democracia, é um simulacro de democracia”, sublinhando que “este é um problema do Sul da Europa”.
A juntar a isto, refere, “os dirigentes partidários” começaram a ser “escolhidos na óptica do treinador, para trazer resultados imediatos” e quando tal não acontece, “é-se substituído”. Opondo-se a esta ‘lógica’, Manuel Monteiro sustenta que “o poder é um meio, nunca um fim, e o político deve ter consciência de que aquilo que lhe é oferecido pelo desempenho de uma função já é em si tão rico que não tem também de ter ambição material para o ser”.
“Eles”, prossegue, “querem ter o dinheiro dos outros que não são políticos e portanto vendem-se” e “deslumbraram-se” mas “com isso perdeu-se a independência”, por isso, “enho muitas dúvidas de que a maioria da classe dirigente seja independente”.
Por isso, revela o fundador do Partido Nova Democracia, “pela primeira vez na minha vida, desde os 18 anos, não vou votar”. E porquê? “Deixei de acreditar nas revoluções de sangue. Lutei para que as pessoas votassem e se abstivessem, mas comecei a acreditar que a mudança do sistema só é viável, ou por uma profunda vaga de abstenção, ou por uma revolução pacífica”.