Miguel Sousa Tavares criticou, esta segunda-feira, no espaço de comentário político habitual no Jornal das 8, da TVI, os partidos que defendem o projeto de lei que visa alterar as regras de nomeação do governador do Banco de Portugal, para evitar que Mário Centeno ocupe o lugar.
"Há alguém mais competente para este lugar? Conhecem alguém mais competente? Os partidos que querem apresentar uma lei que é, especificamente, para uma pessoa, dirigida a uma pessoa - o que é uma coisa que é inadmissível -, conhecem alguém mais competente para este cargo? Indiquem um nome. Este senhor foi ministro das Finanças, teve o primeiro superavit da democracia portuguesa. Este senhor era presidente do Eurogrupo, queriam que ele continuasse e vêm dizer que ele não é competente para o Banco de Portugal? Temos assim tantos Ronaldos a jogar em Portugal? O que é que o Zé contribuinte quer mais? Uma pessoa competente no Banco de Portugal ou este 'jigajogo' partidário de invejas? Não percebo", atirou o escritor.
Para Sousa Tavares não há um conflito de interesses e isso ficou claro quando PAN, BE e PSD reagiram à possibilidade de Centeno ser nomeado para cargo.
"Eu acho que não há [inconstitucionalidade] e a prova que não há é que ouvimos três partidos que discordam dessa passagem e nenhum deles deu uma razão coincidente com a dos outros. Um é por razões políticas, outro acha que há incompatibilidade e outro porque ele regulou o sistema bancário e, portanto, não pode supervisionar o sistema bancário, porque são coisas diferentes… portanto, desde logo se vê", relembrou o também jornalista.
Além disso, "ter sido um ministro das Finanças não é um cadastro, não é uma coisa que alguém tenha de pagar por isso", relembrou Sousa Tavares, acrescentando que "não se pode exigir a alguém que foi ministro que não passe diretamente para o setor privado e que também não passe diretamente para o setor público, ou seja, que passe diretamente para o limbo".
"Também não vejo o que é que um período de nojo de quatro ou cinco anos invalidaria a dita incompatibilidade. Não é por ter decorrido o tempo que o invalidaria. Também não vejo que uma pessoa por ter sido ministro de um Governo vá necessariamente deixar de ser independente quando vai para um cargo que exige independência", explicou.
Quanto às acusações de que Mário Centeno abandonou o cargo de ministro das Finanças na pior altura do país, quando Portugal (e o mundo) enfrentam uma pandemia e uma crise económica, Miguel Sousa Tavares defendeu, esta segunda-feira, que isso "não é verdade".
"A objeção de que diz que ele abandona o barco na pior altura não é verdade. A pior altura foi quando ele pegou, quando não havia dinheiro, agora vem aí 36 mil milhões para os próximos quatro anos. Portanto, agora não é a pior altura. Agora vai ser uma boa altura, não quer dizer que seja fácil, nunca é fácil ser ministro das Finanças em Portugal, toda a gente exige dinheiro, mas os tempos já foram bem piores quando ele foi ministro das Finanças", garantiu.
Antes de concluir a análise ao tema, Sousa Tavares recordou que "há três precedentes. Pelo menos de três ex-ministros das Finanças que passaram para governadores do Banco de Portugal", tal como o Presidente da República já tinha lembrado e deixou um recado para o PSD.
"Qual é a legitimidade do PSD que a meses de eleições legislativas, quando está para terminar o mandato do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, sabendo que ele era contestado pelo Partido Socialista, que poderia ganhar as eleições, renova o mandato. Qual é a legitimidade do PSD para vir contestar isto? Nenhuma!", concluiu.