Não sendo a primeira vez que o Livre alerta para "os perigos da influência da extrema-direita na governação dos Açores", o partido fundado por Rui Tavares defendeu, ontem, dia 6 de novembro, que um "acordo de governação nos Açores entre PSD e extrema-direita é uma ameaça democrática".
Em comunicado, após André Ventura ter anunciado que o Chega "vai viabilizar o governo de direita nos Açores" e que tem já "um documento assinado" com a coligação PSD/CDS/PPM, o Livre mostrou-se preocupado "em relação às movimentações dos partidos de direita, no sentido de romper o cordão sanitário à extrema-direita que todas as forças democráticas devem instituir".
"Hoje é anunciado um acordo de governação celebrado entre o PSD e a extrema-direita que viabiliza um governo de direita nos Açores. A verificar-se, este acordo prevê a 'redução significativa de subsidiodependência na região' e ainda a 'redução do número de deputados na região autónoma dos Açores'", pode ler-se na referida nota divulgada pelo 'partido da papoila', esta sexta-feira.
Sublinhando que "a agenda da extrema-direita penaliza os mais pobres", o Livre repudiou também o facto da direita comprometer-se "em retirar apoios sociais numa região com problemas estruturais de desenvolvimento" e manifestou-se contra a deterioração da qualidade de vida dos açorianos.
"A direita acorda na redução da representação parlamentar, reduzindo as possibilidades de todos os açorianos serem representados no seu parlamento. O Livre defende o oposto: a participação democrática tem de ser expandida, e por isso defendeu a criação de Assembleias de Cidadãos na dependência do Parlamento Regional e a melhoria dos orçamentos participativos. Enquanto o acordo do PSD com a extrema-direita quer silenciar os açorianos, o Livre quer dar voz a todos os cidadãos açorianos", é argumentado.
Ainda no mesmo comunicado, o partido de esquerda voltou a frisar a sua preocupação de que o partido de Rui Rio "aceite um acordo com a extrema-direita" e deixou um alerta: "As ameaças do ressurgimento do fascismo são reais, e todas as forças democráticas devem mobilizar-se no combate antifascista e anti-racista".
"É preocupante que o PSD se coloque do lado errado desse combate", atirou ainda o Livre.
O Chega anunciou, esta sexta-feira, que "vai viabilizar o governo de direita nos Açores", após ter chegado a um acordo com o PSD em "vários assuntos fundamentais" para aquela região autónoma e para o país. Quanto à exigência nacional que tinha sido feita pelo partido de que o PSD participasse no processo de revisão constitucional iniciado pelo Chega, André Ventura disse ter obtido garantias para o futuro.
Perante estas declarações, o secretário-geral adjunto socialista considerou que Rui Rio deve aos portugueses "um esclarecimento cabal". "Quais foram os princípios e os valores que o doutor Rui Rio deixou cair relativamente à revisão constitucional para alcançar o poder na região autónoma dos Açores?", questionou José Luís Carneiro.
Ainda durante o dia de ontem, em declarações aos jornalistas no Parlamento, o vice-presidente do PSD André Coelho Lima recusou que haja qualquer acordo nacional com o Chega, quer sobre revisão constitucional quer sobre coligações, e acusou o PS de "topete", dizendo que foram os socialistas os primeiros a fazerem "os entendimentos necessários" para governar.
Durante a noite de sexta-feira e a madrugada deste sábado, o presidente do 'partido laranja' reagiu às críticas do PS, na sua conta oficial da rede social Twitter, acusando a "família socialista de se achar a legítima proprietária dos Açores".
O PS, que fez um acordo escrito e se entregou ao BE e ao PC em muitas leis e em TODOS os OEs desde a Geringonça/2015, veste-se agora de virgem ofendida por não conseguir uma maioria nos Açores.O PS sabe que mente, quando agita acordos nacionais e coligações do PSD com o Chega.
— Rui Rio (@RuiRioPSD) November 7, 2020
É de recordar que o representante da República para a Região Autónoma dos Açores, Pedro Catarino, termina hoje a audição aos partidos que elegeram deputados à Assembleia Legislativa açoriana, devendo depois indigitar o novo presidente do executivo regional.
Em 25 de outubro, o PS venceu as eleições legislativas regionais dos Açores, mas perdeu a maioria absoluta, que detinha há 20 anos, elegendo apenas 25 deputados. O PSD foi a segunda força política mais votada, com 21 deputados, seguindo-se o CDS com três. Chega, BE e PPM elegeram dois deputados e Iniciativa Liberal e PAN um cada. PSD, CDS e PPM, que juntos têm 26 deputados, anunciaram esta semana um acordo de governação, mas necessitam ainda de mais três mandatos para alcançar uma maioria absoluta. Com os dois deputados do Chega e o deputado do Iniciativa Liberal, a coligação PSD/CDS-PP/PPM conseguirá ter o apoio da maioria dos parlamentares na Assembleia Legislativa dos Açores.
À esquerda, o BE já indicou que está disponível para viabilizar um programa de governo do PS, enquanto o PAN disse estar disponível para ouvir todos os partidos, mas rejeitou viabilizar uma solução governativa que envolva o Chega. Contudo, como os socialistas elegeram apenas 25 deputados, mesmo com o BE (que tem dois deputados) e o PAN (com um parlamentar), apenas terão o apoio de 28 deputados, menos um do que o necessário para a maioria.