"Houve um vento de insanidade política que varreu sobretudo a Esquerda"
Ferro Rodrigues foi o convidado desta quarta-feira da 'Grande Entrevista'. O presidente da Assembleia da República versou sobre o seu futuro - "há mais vida na política para além da vida partidária" - e sobre o 'afastamento' da Esquerda que levou ao 'chumbo' do Orçamento do Estado e à dissolução do Parlamento.
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Política Ferro Rodrigues
Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, foi o convidado, esta quarta-feira, no programa 'Grande Entrevista', na RTP3, onde começou por versar sobre a sua decisão de não se recandidatar nas listas do PS. "Há mais vida na política para além da vida partidária e da vida na Assembleia da República", apontou.
A ocupar o cargo nos últimos seis anos, a segunda figura do Estado assumiu que "não me estava a ver mais quatro anos" na posição. "Ao contrário do que as pessoas pensam, com a idade não se vai ganhando paciência, vai-se perdendo", acrescentou.
Já questionado sobre como irá ocupar o tempo após sair da vida parlamentar, Ferro Rodrigues foi taxativo: "Nunca tive planos quando fui vivendo a minha vida política. [...] Não tenho planos absolutamente nenhuns a não ser desfrutar durante alguns meses, pelo menos, de uma certa paz e tranquilidade porque, efetivamente, isto, com a idade, a paciência vai diminuindo".
Mais à frente na conversa, e sobre a forma como esta legislatura chega ao fim - com a dissolução do Parlamento e eleições antecipadas -, o presidente da Assembleia da República fez questão de recordar que, "logo no princípio deste segundo mandato tinha dito que seria a última vez que seria deputado e presidente da Assembleia por consequência disso".
"Esta segunda legislatura não correu bem do ponto de vista da solidariedade entre as forças políticas que apoiaram o Governo na primeira legislatura [...] Há pessoas que me consideram pessimista, mas, tendo em conta a realidade portuguesa em que temos dois otimistas muito fortes é natural que eu seja um pouco mais pessimista", dissertou.
Recorde-se que, na semana passada, Ferro Rodrigues comunicou aos líderes das diferentes bancadas parlamentares que não se recandidatará nas listas de deputados do PS nas próximas eleições legislativas, marcadas para 30 de janeiro de 2022.
Como se explica que os partidos de Esquerda se tenham afastado?
Perante a pergunta do jornalista Vítor Gonçalves, Ferro Rodrigues salientou ser "muito difícil dar uma explicação racional para uma atitude que, do meu ponto de vista, é totalmente irracional". "Acho que houve um vento de insanidade política que varreu sobretudo a Esquerda do Hemiciclo", referiu.
"Se for perguntar a todos os líderes e a todos os grupos parlamentares, ninguém queria estas eleições neste momento, mesmo não sabendo que ia haver uma quinta vaga de pandemia. É de uma insanidade política total ter provocado estas eleições e só posso apontar a responsabilidade a quem votou contra o Orçamento e estava envolvido na negociação", considerou o presidente da Assembleia da República.
Eduardo Ferro Rodrigues salientou ainda que o Governo "fez tudo" para que o Orçamento fosse aprovado: "[António Costa] explicou-me qual era o estado em que estava a negociação e de como as cedências que o Governo ia fazendo eram substituídas rapidamente por outras reivindicações, porque não havia vontade de chegar a um acordo do outro lado".
De lembrar que o Parlamento 'chumbou' a proposta de Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) com os votos contra do PSD, BE, PCP, CDS-PP, PEV, Chega e IL. Na votação na generalidade, no plenário da Assembleia da República, o PS foi o único partido a votar a favor da proposta orçamental, que mereceu as abstenções do PAN e das duas deputadas não-inscritas, Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues.
No total, 108 deputados votaram a favor, cinco abstiveram-se e 117 votaram contra.
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