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Inflação provisória? "Essa mentira colapsou agora"

Francisco Louçã olha com reservas para as projeções do Executivo para o próximo ano. Segundo o economista, "para o Governo é muito importante dizer que a inflação é mais baixa" do que a realidade.

Inflação provisória? "Essa mentira colapsou agora"
Notícias ao Minuto

23:32 - 07/10/22 por Notícias ao Minuto

País Francisco Louçã

Francisco Louçã comentou, esta sexta-feira, as projeções económicas do Governo, apontando-lhes "dois paradoxos": o facto de estas desfazerem a "mentira" que Costa dissera há uns tempos - que a inflação era provisória - e o facto de o Executivo querer agora cortar no consumo.

"Claro que não tem nenhum sentido", afirmou, recordando que, em abril, o primeiro-ministro dizia que o país estava a atravessar um pico extraordinário de inflação que não teria continuidade.

"Esta mentira colapsou, vivemos agora a realidade", sublinhou Louçã no seu espaço de comentário habitual às sextas-feiras na SIC Notícias.

O antigo coordenador do Bloco de Esquerda apontou também que, segundo o Banco de Portugal, o que fez subir a economia portuguesa mais do que o previsto para este ano foi o turismo e, sobretudo, o consumo.

"Ou seja, o consumo foi bom para a economia portuguesa", constatou. "Qual é a solução que nos estão a propor? Cortar no consumo."

"Para o Governo é muito importante dizer que a inflação é mais baixa para poder pôr isso na mesa das negociações e impedir uma pressão salarial a que ele não quer atender"

Mas, para o economista, "é preciso ter muito cuidado com estes dados", uma vez que "é no Inverno que vai surgir a crise energética" e "o que puxa os preços da inflação é a energia".

"Esse problema energético só se pode ampliar", avisou.

Por outro lado, defendeu, estas previsões do Governo têm "uma função de condicionamento das expectativas económicas". "Quando nós olhamos para estes dados, já sabemos que o Governo quer dizer algumas coisas com ele, chame-se maquilhagem ou estratégia", expressão utilizada esta sexta-feira pelo Presidente da República para sustentar que as previsões são realistas.

Francisco Louçã alerta que "há alguns aspetos em que estes dados não batem certo com outros divulgados" esta semana.

"O que o Governo diz não é exatamente o que diz o Banco de Portugal ou o que diz o Conselho de Finanças Públicas", esclareceu. "O Banco de Portugal subiu a perspetiva do crescimento do PIB para 6,7%, mas também subiu a perspetiva da subida da inflação a um nível superior àquele que o Governo vem aceitando."

Quanto às negociações que decorrem, paralelamente, com os parceiros sociais, Louçã notou que "as associações patronais estão muito satisfeitas porque alguma da tributação autónoma vai ser contida". "Já perceberam que não vai haver nenhuma alteração estrutural da legislação laboral e vai continuar a ser suficientemente barato este processo de despedimento e flexibilização", acrescentou o bloquista.

"A pressão sobre os salários, mesmo no setor privado, é uma pressão para as empresas que o queiram fazer. Portanto, para as empresas, tudo bem."

Sobre aquilo que já se sabe sobre a proposta de Orçamento do Estado do Governo, que vai ser apresentada na próxima segunda-feira, o antigo coordenador do Bloco de Esquerda diz ainda que, nos escalões do IRS, o que o Governo está a propor é, na verdade, um aumento de impostos.

Já quanto ao aumento do salário mínimo nacional, "era um compromisso do Governo, não pode fugir dele", asseverou. 

Leia Também: Ponto por ponto, eis o que se sabe sobre o Orçamento do Estado para 2023

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