"Até hoje, os vereadores da câmara não conhecem nenhum processo, não temos caderno de encargos, não temos consulta ao mercado, não temos orçamento, nada, absolutamente nada. Isto é como se diz na gíria: Se o senhor é o rei da transparência, é caso para dizer que o rei vai nu", declarou o vereador do PS Pedro Anastácio, referindo-se à disponibilização de toda a documentação sobre a JMJ, evento que se realiza em agosto em Lisboa.
Na reunião pública do executivo camarário, o socialista voltou a reclamar transparência sobre os investimentos do município de Lisboa na JMJ, queixa que apresentou na Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, e criticou os custos que têm vindo a público relativamente a três palcos na cidade, um no Terreiro do Paço por 700 mil euros, um na Alameda por 700 mil euros e outro na Bela Vista por 600 mil euros.
"Como é que é possível que o palco do Terreiro do Paço custe 700 mil euros? [...] sabe quanto é que custa um palco aqui, por exemplo, para o fim de ano na cidade? Custa cerca de 150 mil euros", indicou Pedro Anastácio, referindo que o município vai "gastar 400% mais em relação àquilo que custa um palco normal".
O vereador do PS considerou que Lisboa vai conseguir realizar o evento da JMJ "mais caro do mundo" e responsabilizou o presidente da câmara, acusando-o de "descoordenação, despesismo e falta de rigor com o dinheiro público".
Apontando a "falta de capacidade" de coordenar um evento desta dimensão, o socialista afirmou que o social-democrata Carlos Moedas "era o pretenso rei da transparência, mas hoje, na verdade, é o supremo líder da opacidade, do segredo e até um imbatível jogador numa partida de escondidas", por continuar sem partilhar todos os documentos sobre a JMJ, o que inviabiliza o escrutínio.
"O senhor presidente [Carlos Moedas] está a conseguir ser o presidente menos transparente da história desta cidade", apontou Pedro Anastácio, referindo que o PS vai pedir para ver todos os palcos, por considerar que, neste momento, "são obscuros, opacos e, sobretudo, extremamente caros".
Em resposta, Carlos Moedas reforçou que não era presidente da Câmara de Lisboa quando se decidiu acolher a JMJ: "Eu não estava cá, mas o país quis, o Partido Socialista quis, o Governo da altura quis, o presidente da câmara da altura quis e eu quero".
O social-democrata lamentou que a JMJ tenha sido motivo de "uma politização total, chocante para o país", considerando que "é muito interessante" que, quando se falou do custo do altar-palco no Parque Tejo, não se tenha falado do concurso que o Governo lançou para as iluminações e para as casas de banho, no valor de oito milhões de euros.
"É difícil quando coisas tão importantes vão a este nível de politização. Pedia, encarecidamente: Não politizemos este tema, é demasiado importante para a cidade", declarou o presidente da câmara.
Em complemento, o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), que tem delegada a competência de preparar a JMJ, disse que o vereador do PS Pedro Anastácio "tem vindo a agravar na adjetivação e isso, normalmente, é sinal de desespero do próprio", criticando a intervenção "com um conjunto de graçolas a propósito da transparência".
"Numa semana em que a câmara, mais uma vez, por más razões, está ligada a suspeições criminais. Seria a primeira vez que envolveria um presidente da câmara, um ex-presidente da câmara", apontou Anacoreta Correia, referindo-se à investigação que envolve o socialista Fernando Medina relativamente à contratação, entre 2015 e 2016, dos serviços de consultadoria de Joaquim Morão, ex-presidente dos municípios de Idanha-a-Nova e Castelo Branco.
O vice-presidente da câmara referiu que a intervenção do vereador do PS é demonstrativa de "alguma necessidade de criação de casos onde eles não existem", lembrando que os compromissos do município foram deliberados pelo executivo e estão na proposta aprovada com o voto favorável do PS, e assegurando que os três palcos no Terreiro do Paço, Parque da Bela Vista e Alameda, em conjunto, custarão "abaixo de 700 mil euros".
Anacoreta Correia reiterou que o investimento de Lisboa na JMJ é até 35 milhões de euros, dos quais cerca de 25 milhões ficarão para a cidade, ou seja, 10 milhões serão diretamente para o evento.
A JMJ, considerada o maior acontecimento da Igreja Católica, vai realizar-se este ano em Lisboa, entre 01 e 06 de agosto, sendo esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas.
O Papa Francisco deve participar também na Jornada Mundial da Juventude.
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