Marta Temido sobre ser líder do PS: "Isso é uma graça... ou uma desgraça"
Ex-ministra da Saúde falou sobre o seu futuro político e sobre a gestão da pandemia da Covid-19 em entrevista à SIC. As relações com Graça Freitas e Gouveia e Melo foram também tema.
© Global Imagens
Política Marta Temido
A antiga ministra da Saúde, Marta Temido, esteve em entrevista à SIC Notícias, e as suas palavras foram, esta quinta-feira, transmitidas no Jornal da Noite. Na conversa, Temido falou sobre o seu futuro político após a saída do Governo e, agora, como líder da concelhia socialista de Lisboa.
Questionada sobre a eventualidade de vir a ser secretária-geral do Partido Socialista (PS), após o próprio António Costa ter acenado com essa possibilidade, Temido riu e retorquiu: "Isso é uma graça... ou uma desgraça."
Se é certo que Temido diz ter tido uma longa conversa com o primeiro-ministro no dia em que decidiu pedir a demissão do cargo de ministra, afirma, no entanto, que as relações com Costa esfriaram desde então. "Não tenho esse atrevimento, continuo a ter um grande respeito pelo primeiro-ministro António Costa e uma grande admiração", afirmou, afastando que mantenha ainda contacto frequente com o líder do Governo.
"Não há aqui nenhum projeto pessoal. Aliás, penso que os projetos pessoais na vida pública tendem a amargurar os próprios e a ter, muitas vezes, efeitos colaterais negativos", garantiu Temido, esperando ter um trabalho que lhe dê "prazer" e que "sirva as pessoas".
Isso sim, a Câmara Municipal de Lisboa não está tão longe dos seus objetivos. "Eu não sou candidata a nada, porque isso exige um pensamento de estratégia pessoal que não tenho", começou por dizer Temido. Logo afirmou, no entanto, quando questionada sobre se um líder de uma concelhia político não seria naturalmente um candidato: "É uma circunstância que pode acontecer, mas o propósito não é esse."
Não há nada pior do que os fantasmas do verão passado. Agora, é outro tempo, são outros protagonistas, é outro processo.
Novos protagonistas
A antiga ministra comentou também o desenvolvimento da área da Saúde em Portugal após a sua saída, principalmente a criação da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde. Marta Temido argumentou, relativamente à nomeação de Fernando Araújo para dirigir este órgão, tê-la recebido "com total despreendimento e também com a expectativa de que a materialização da direção executiva corresponda àquilo que foi o espírito com que foi pensada".
Neste âmbito, aliás, Temido realça a "expectativa" que os portugueses têm "em relação à necessidade de melhorias no SNS". "Espero, francamente, que o princípio de uma maior organização seja aquilo que é trazido pela direção executiva”, disse a antiga ministra, para quem o passado está no passado.
"Não há nada pior do que os fantasmas do verão passado. Agora, é outro tempo, são outros protagonistas, é outro processo. Da minha parte, genuinamente, deixo um voto sincero que tudo corra o melhor possível”, argumentou.
Quando olho para trás, penso que houve muitos dias em que tratei de determinada forma, pelo cansaço e pela exaustão, pessoas que deram tudo por tudo pelos portugueses. É desses momentos que guardo amargo de boca
Gestão difícil na pandemia da Covid-19
Marta Temido foi a cara da resposta do Governo à pandemia da Covid-19 e, por isso, foi alvo de muitas críticas da Esquerda à Direita, bem como na sociedade civil. Nesta entrevista, no entanto, a antiga ministra aproveitou o espaço para referi que tanto o setor privado como o setor social foram "absolutamente essenciais", chegando a ser até "mais solidários do que as próprias entidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS)".
Há exatamente três anos, a 2 de março de 2020, Portugal registava os seus primeiros casos de Covid-19, e foi aí que começou o tumultuoso período para o país, e para Temido. "Quando olho para trás, penso que houve muitos dias em que tratei de determinada forma, pelo cansaço e pela exaustão, pessoas que deram tudo por tudo pelos portugueses. É desses momentos que guardo amargo de boca", lamentou.
"Às vezes, as discussões eram acesas e duras. Nós exaltávamo-nos e eu tenho um feitio bastante intempestivo, fervo em pouca água. Disso, tenho mágoa", confessou. Sobre a sua relação com Graça Freitas, então diretora-geral da Saúde, Temido elogiou a sua "capacidade em resistir". "Agora, as relações entre todas as pessoas que estiveram expostas a uma agressividade externa muito grande e sem poder descansar, tiveram momentos irrepetíveis, mas momentos de muita tensão", acrescentou.
Já quanto à sua relação com o almirante Gouveia e Melo, que liderou o esforço pela vacinação contra a Covid-19, Temido admitiu que, no início, "houve momentos" em que precisaram de se "ajustar" um ao outro.
Sobre um possível voto no almirante numa eventual candidatura à Presidência da República, a antiga ministra preferiu não dar já uma resposta, pelo menos antes de tal sequer se concretizar.
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