Face à crise política em que o Governo de António Costa se viu mergulhado, após a recusa do primeiro-ministro em aceitar a demissão do responsável pela pasta das Infraestruturas, João Galamba, e o consequente 'ralhete' do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Marques Mendes equacionou, este domingo, que o chefe do Governo poderá ter cometido "o pior erro político do mandato", atirando que Galamba "é um cadáver político que ainda mexe".
Considerando que tudo isto poderia ter sido "completamente evitável", tendo acontecido somente por "falta de maturidade e falta de sentido de Estado", o social democrata argumentou que o 'salvamento' do ministro das Infraestruturas não passou de "um pretexto para romper com o Presidente da República", tendo em conta as intervenções do chefe de Estado sobre uma eventual dissolução do Parlamento.
"No momento em que vê o Presidente da República a questionar a presença de João Galamba no Governo, [António Costa] achou que tinha aqui uma oportunidade de bater o pé. Mostrar quem manda. Impor o seu território e o seu terreno. E isto é legítimo, tanto que o primeiro-ministro o fez, mas é muito arriscado", disse Marques Mendes, no seu habitual espaço de comentário na SIC.
E prosseguiu: "António Costa até pode ter alguma razão de queixa quanto às intervenções de Marcelo Rebelo de Sousa, mas devia ter agido de outra forma, noutro momento e por outras vias. Porquê? Porque esta reação na declaração ao país, na terça-feira, foi comprar uma guerra com o Presidente da República. António Costa pode ter cometido, esta semana, o pior erro político de todo o seu mandato", atirou.
Na ótica do comentador, o primeiro-ministro não esperava a "reação muito dura e muito marcante que Marcelo Rebelo de Sousa teve" à polémica no Ministério das Infraestruturas, tendo, por isso, "menosprezado" e "humilhado" o chefe de Estado.
"Acho que António Costa pensou que Marcelo faria uma nota de circunstância, ou então dissolvia o Parlamento, que lhe dava jeito. Mas Marcelo fez um discurso diferente, que marca o presente e que marca o futuro do Governo e da legislatura", complementou.
Este "erro político" por parte do primeiro-ministro evidenciou que o responsável "agiu numa perspetiva de curto prazo e esqueceu o médio prazo", tendo conseguido uma "vitória" que durou apenas até ao discurso do Presidente da República.
"No médio prazo, António Costa tem os mesmos problemas que já tinha, mas comprou mais um problema. Esta mais valia que António Costa tinha, que era a ideia de ter um Presidente aliado e uma boa cooperação, deitou-a fora", lançou o social democrata, ressalvando que o chefe do Executivo "tem um Governo com menos um ministro".
"João Galamba continua formalmente no papel, mas na prática já não tem autoridade. É um cadáver político que ainda mexe, e os próximos tempos vão ser muito difíceis", disse.
Apontando que, a partir de agora, o tema da dissolução será recorrente entre a opinião pública, Marques Mendes considerou que o aviso de Marcelo atuou como um "anúncio de uma pré-dissolução", que se avizinha "bastante provável".
Na mesma linha, o comentador indicou que "uma remodelação profunda com gente de qualidade e prestígio é quase do domínio da ficção a partir de agora", alertando que o Governo tem à sua frente um desafio, que passa por "tentar fazer melhor, governar melhor, ter menos trapalhadas e mais resultados, apesar de as condições serem mais adversas".
Contudo, Marques Mendes deixou um recado aos restantes partidos: "Se a oposição achar que o Governo já acabou, acho que comete um erro, porque menosprezar o adversário é sempre um erro. Se a oposição comete o mesmo de António Costa, não vai longe", rematou.
Recorde-se que em causa está a 'salvação' de João Galamba, cujo pedido de demissão foi recusado por António Costa, que optou por remar "contra a maré" – chocando mesmo com a posição de Marcelo Rebelo de Sousa.
De notar ainda que a polémica 'estalou' com demissão do ex-adjunto, que acusou o responsável de "querer mentir" à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da TAP sobre a existência de notas de uma reunião entre membros do Governo, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista (GPPS) e a ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, antes da audição da mesma no Parlamento.
Após a exoneração, Frederico Pinheiro ter-se-á dirigido às instalações do Ministério, em Lisboa, "procurando levar o computador de serviço" com informações classificadas, "recorrendo à violência junto de uma chefe de gabinete e de uma assessora".
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