A deputada e candidata à liderança do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, considerou esta segunda-feira que "João Galamba é um ministro que não tem a confiança do país", em declarações proferidas no programa 'Linhas Vermelhas', da SIC Notícias.
Ainda assim, o responsável máximo pelo Ministério das Infraestruturas mantém-se "como ministro, apesar de ser relativamente consensual que não o devia ser, pela sucessão de casos em que esteve envolvido".
Na perspetiva da bloquista, seria "razoável e sensato" que João Galamba deixasse o cargo que agora ocupa, "até porque está enfraquecido politicamente" e tem "dossiers muito importantes" em mãos, como é o caso da TAP. E acrescentou, sobre o tema: "é importante que um ministro com esses dossiers tenha poder político e capacidade para ter uma palavra credível" a propósito das pastas que tutela.
"Maioria absoluta banalizou a mentira no Governo"
No rescaldo do mais recente caso a afetar o Executivo socialista, Mariana Mortágua apontou também que as "duas últimas semanas ofereceram ao país um espetáculo" que, na sua ótica, "envergonhou toda a gente" - e que vai bastante além da continuidade (ou não) de João Galamba no cargo que atualmente ocupa, explicou.
Isto porque, elaborou, foi um exemplo de como a "maioria absoluta banalizou a mentira no Governo", que tem sido usada como uma "forma de jogo político". Para a deputada do Bloco de Esquerda, "isso é errado, porque corrói as bases da democracia".
Mas não só. O 'caso Galamba' foi ainda ilustrativo da "negligência da maioria absoluta", que está "à vista na comissão de inquérito à TAP", argumentou.
Porém, Mariana Mortágua enumerou ainda um "terceiro problema" - o "mais evidente" de todos eles -, que descreveu como sendo a "política do palácio". E explicou, trazendo Marcelo Rebelo de Sousa para a discussão: "São os jogos palacianos de que António Costa tanto gosta, e que o Presidente da República também".
No seguimento desta ideia, a bloquista afirmou ainda que o chefe de Estado tem sido, em diversas ocasiões, "aliado do Governo", pois "participou no jogo palaciano" ao "criar as condições" para o Executivo socialista "ter a maioria absoluta" - afirmou, fazendo referência à dissolução da Assembleia da República em finais de 2021.
As declarações da candidata à liderança do Bloco de Esquerda surgem já após o primeiro-ministro, António Costa, ter recusado o pedido de demissão de João Galamba - contrariando, até, a assumida posição do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que acreditava que o ministro visado com a polémica não tinha condições para se manter no cargo.
Em causa está um caso que se foi adensando com a exoneração de Frederico Pinheiro, que acusou João Galamba de "querer mentir" à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da TAP sobre a existência de notas de uma reunião entre membros do Governo, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista (GPPS) e a ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, prévia à audição da mesma no Parlamento.
Sobre Frederico Pinheiro pendem ainda denúncias pela alegada prática dos crimes de violência física no Ministério das Infraestruturas e furto de um computador portátil, na sequência da demissão, tendo o Serviço de Informações e Segurança (SIS) recebido ordens para recuperar o dispositivo.
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