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BE tem nova líder. Mariana Mortágua garante: "Ainda não viram nada"

Mariana Mortágua foi eleita, oficialmente, coordenadora do Bloco de Esquerda, sucedendo a Catarina Martins.

BE tem nova líder. Mariana Mortágua garante: "Ainda não viram nada"
Notícias ao Minuto

13:36 - 28/05/23 por José Miguel Pires com Lusa

Política Bloco de Esquerda

A bloquista Mariana Mortágua é, oficialmente, a nova coordenadora do Bloco de Esquerda, sucedendo a Catarina Martins.

Na XIII Convenção Nacional do partido, Mortágua dedicou o seu discurso às várias causas do BE, bem como a quem está no partido há mais tempo e a quem chegou há pouco, e deixou uma promessa: "Não deixamos a política entregue ao calculismo nem a esse pântano em que verdade e mentira se confundem."

Mortágua acusou a atual "degradação da vida pública" e disse que "é precisamente quando a vida pública se degrada que é mais preciso mostrar que no BE a política é e sempre será o lugar das causas e das convicções", esclarecendo que a política do partido é "uma paixão maior do que qualquer circunstância, uma forma de impaciência e uma vontade que ninguém pode domar".

"Os nossos 24 anos, estas 13 convenções, esta sala cheia... são só o começo do BE. Aos nossos adversários, para quem a esquerda é sempre um projeto condenado e a prazo, deixo um recado muito franco: já nos conhecem, mas não viram nada da força que vamos saber criar, reinventar, construir, unir", argumentou a nova coordenadora do Bloco de Esquerda, perante uma plateia efusiva.

Ovação em pé

Plateia esta, aliás, que quando Mortágua - que saudou a "raça alentejana" que a motiva - dedicou palavras de afeto à sua irmã e ao seu pai, Camilo Mortágua, se levantou em ovação durante cerca de 30 segundos.

"Foi a Joana [Mortágua] que me convenceu que no BE encontraria gente como eu, que acha que a vida vale a pena quando lutamos por aquilo em que acreditamos. Herdamos do nosso pai uma memória de resistência contra a ditadura", disse a bloquista, fazendo erguer a plateia de camaradas presentes no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa.

No seu discurso, Mariana Mortágua atirou ainda farpas: "Bem sei que vemos hoje alguns vampiros que querem resgatar o ódio salazarento e que para isso tentam enxovalhar essa geração que os derrubou no passado. Por isso quero dizer de novo o orgulho que sinto naquelas pessoas como o meu pai que, quando tudo era treva, souberam encontrar beleza na luta pela liberdade, entregando-nos a democracia e a honra de nascer num país sem tirania e sem colonialismo."

"Catarina, contamos contigo"

A nova coordenadora do BE dedicou ainda palavras a Catarina Martins e à sua "força imparável", que "provou ser a melhor". "Celebramos contigo, sofremos contigo, vibramos sempre contigo. Fizemos o que muitos achavam inviável", disse Mariana Mortágua, deixando um aviso: "Podes ter a certeza, Catarina, que contamos contigo para todos os anos que estão para vir."

De seguida, a bloquista apontou miras aos seus adversários políticos... e não só. "Contamos com toda a gente, e, se escolheram contar comigo, mesmo sabendo que teremos de lidar com as perseguições da extrema-direita ou com um magnata da comunicação social, então vamos a isso", disparou, numa alusão à polémica entre a nova líder do Bloco e Marco Galinha, CEO da Global Media Group.

Governo "só parece preocupado em sobreviver ao dramalhão do 4.º andar do ministério"

No seu longo discurso, Mortágua não deixou de fora o Governo de António Costa, do qual o Bloco de Esquerda largou a mão em 2021. "Vivemos um tempo tremendo, é um novo ciclo de incertezas em que se instalou um poder absoluto em que só parece preocupado em sobreviver ao dramalhão do 4.º andar do ministério, em que para alguns governantes as suas carreiras pessoais são mais importantes que os seus deveres", disse a líder bloquista, acusando um "país humilhado com decisões arbitrárias, questiúnculas grotescas, em que a política é gerida ao sabor de aprendizes de feiticeiro e spin doctors".

"As patologias do poder tornaram a política num triste entretenimento. A esquerda tem que saber olhar para o essencial", apelou, listando várias falhas na governação socialista.

"Será que o Governo acha que o povo não percebe que as urgências hospitalares estão a fechar e que a resposta do ministro é nomear comissões para lhes fazer a autópsia? Achará o Governo que o povo não percebe que há crianças sem aulas enquanto se despreza os professores que ainda estão hoje na escola a lutar para que a escola possa existir?", questionou Mortágua.

Avisos

Assim, neste clima de incerteza, "as sementes do ódio estão aí, há na direita uma ânsia de vingança contra os trabalhadores, de desprezo pelos pobres, de regressão nos direitos conquistados", alertou a coordenadora do BE, avisando que "quem abafar, menorizar ou desvalorizar o pântano criado pela maioria absoluta não está a defender a democracia, mas sim a desresponsabilizar os causadores da fragilização da democracia".

"Não somos biombos de sala, nem cravos de lapela", garantiu Mortágua, marcando já os objetivos políticos para o futuro próximo do BE: Fazer "oposição" ao PSD na Madeira e, na Europa, ser "a terceira força para ultrapassar o Chega e a IL, enfrentando as alianças europeias da extrema-direita".

A nova coordenadora bloquista disse que não aceita que "Bruxelas e Frankfurt imponham austeridade, que destruam a possibilidade de uma política industrial ou que decidam que serviços públicos" os portugueses estão "autorizados a ter".

"Não alinhamos em devoções belicistas, não aceitamos as trincheiras da guerra nem nos deixamos condicionar por tiranos que usam o seu poder para o massacre. Queremos o acolhimento fraterno de exilados, refugiados e imigrantes. Queremos a proteção ambiental acima de todos interesses económicos, geoestratégicos e financeiros", apontou.

A luta pela vida boa

O compromisso do Bloco de Esquerda sob a coordenação de Mariana Mortágua é, afirmou a mesma, "a luta pela vida boa". "Sei que falar de vida boa quando o Governo parece desagregar-se ou vivemos atormentados pela vida triste e pelo medo do futuro pode soar a um acesso romântico. Mas desengane-se quem assim pensar", disse, rejeitando que "viver pior" seja o destino do país.

"Temos o dever de lutar por uma vida boa, que não seja consumida pelo esforço inglório do mínimo dos mínimos, que é ter uma casa, um salário decente, cuidados na doença, quando tivermos filhos, quando a idade pesar, quando a idade pesar aos nossos pais. É exigir demais?", perguntou.

Para Mariana Mortágua, "no meio do vazio ideológico corrosivo, neste nevoeiro em que os governantes não sabem para onde vão e não querem ir para lado nenhum", o compromisso das condições da vida boa "é uma resposta clara".

[Notícia atualizada às 14h04]

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