Numa reação aos cartazes que retratavam o primeiro-ministro com nariz de porco, lábios pronunciados e lápis espetados nos olhos, empunhados por professores durante uma manifestação que decorreu a par das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, no sábado, Luís Marques Mendes condenou, este domingo, a caricatura apresentada pelos docentes, que “é suposto educarem e serem bons exemplos”.
Começando por ressalvar que os professores “têm razão na esmagadora maioria das suas reivindicações”, Luís Marques Mendes considerou que os docentes por detrás do protesto que motivou António Costa a classificar os cartazes que exibiam como “racistas” não têm “razão nenhuma em ter estas formas de luta”.
“Isto é lamentável, censurável, de muito mau gosto, ofensivo; isto não se faz. Posso concordar ou não concordar com o primeiro-ministro, gostar ou não gostar de António Costa, criticar de forma mais severa ou mais cruel as suas decisões. Mas um primeiro-ministro é para respeitar. É inaceitável”, disse, no seu espaço de comentário na SIC Notícias.
E complementou: “É mais inaceitável em professores, que é suposto educarem e serem bons exemplos. Quem é pai ou quem é avô e entrega uma parte da educação dos seus filhos aos professores não gosta de ver isto, seguramente.”
O social-democrata foi mais longe, notando que este comportamento foi “um tiro no pé da parte dos professores, que se pensam que ganham alguma coisa com isto, não, só perdem”. Reconheceu, contudo, de que se trata de “uma minoria”.
“Claro que é uma minoria. Mas é uma minoria que contamina todos os outros”, disse, condenando ainda André Pestana, líder do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P), por não se ter manifestado sobre o tema.
“Acho lamentável que André Pestana, o líder do S.TO.P, que fala por tudo e por nada, não tenha tido tempo [para se manifestar]. Tinha a obrigação de pedir desculpa por este comportamento, que é aquilo que as pessoas de bem fazem quando têm falhas desta natureza”, lançou, advertindo que “os professores deveriam pensar que, se repetem cenas destas, evidentemente que as pessoas viram-se contra eles”.
Sublinhe-se que, entretanto, a organização demarcou-se da polémica, adiantando que “o protesto de professores que teve lugar nas comemorações do 10 de Junho, em Peso da Régua, não foi convocado pelo sindicato”, ao mesmo tempo que rejeitou "qualquer acusação de incitação a atitudes de teor racista".
O organismo apontou o dedo diretamente ao primeiro-ministro que, na sua ótica, "pretende desviar as atenções sobre o gravíssimo problema que atinge a escola pública e que tem levado a que os seus profissionais estejam a dinamizar a maior luta de sempre na educação".
Também a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) já se havia demarcado de insultos e atos de populismo, na sequência destas caricaturas.
“Como não estava a falar de agricultura, nem é especialista em agricultura, admito que estivesse a falar em Galamba”
Ainda no tópico das celebrações desta data, Marques Mendes exaltou o discurso proferido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de ter ressalvado que o chefe de Estado “já nos mostrou de uma forma nítida e clara que faz sempre excelentes discursos, em particular no 25 de Abril e no 10 de Junho”.
Na verdade, o antigo presidente do Partido Social Democrata dividiu o discurso de Marcelo em três pontos, um dos quais considerou tratar-se de “uma resposta às preocupações [dos portugueses], quando diz que precisamos de criar riqueza, de coesão, de unidade, e de distribuir melhor a riqueza produzida”. Por seu turno, uma segunda fatia foi dedicada à estratégica, para “puxar pela alma do país”, aliada a uma “parte mais tática, que dará origem a um debate de uma semana inteira, de cortar os ramos mortos da árvore, que cada um interpreta da forma como entender”.
Sublinhe-se que o chefe de Estado apelou, a dado momento, ao corte dos “ramos mortos que atingem a árvore toda”, no que parece ter sido uma referência ao Governo de António Costa, interpretada por muitos como um ‘recado’ ao ministro das Infraestruturas, João Galamba, tendo em conta a polémica em que se vê mergulhado.
“Se o Presidente vem dizer que não queria referir-se a Galamba, quem sou eu para contrariar”, disse Marques Mendes, entre risos, antes de lançar que “quase toda a gente em Portugal ache que era a isso que ele se queria referir”.
“Como evidentemente não estava a falar de agricultura, nem é especialista em agricultura, admito que estivesse a falar em Galamba”, complementou, assinalando que o ministro “não aplaudiu” o discurso, o que poderá indicar que, possivelmente, “achou que era para ele”.
Na mesma linha, o social-democrata assinalou que o tutelar pela pasta das Infraestruturas foi vaiado à chegada às cerimónias no Peso da Régua, apontando que o primeiro-ministro tem, agora, “um problema que é quase inultrapassável”.
“António Costa não quis substituir Galamba para evitar que Marcelo Rebelo de Sousa, que queria a substituição, não tivesse uma vitória. Agora, tem este problema. Se o substituir nos próximos tempos, vai dar uma prenda ao Presidente da República”, equacionou.
Por outro lado, caso o primeiro-ministro não o faça, “como é o mais provável, tem um peso morto dentro do Governo”.
“É preso por ter cão, preso por não ter, mas foi ele que criou esta questão”, rematou.
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