"O Presidente da República fez um discurso em que fez uma excelente contextualização histórica daquilo que são as debilidades de uma democracia quando deixa que populistas, nacionalistas, autoritários se aproveitem das regras do jogo para subverter o próprio jogo, ou seja, para acabar com a democracia. Isso é uma lição da história que não tem tanto tempo quanto isso, e com a qual devemos estar muito atentos", referiu Rui Tavares em declarações à RTP.
O deputado do Livre recordou que há 100 anos enfrentava-se um período de pós-guerra e pós-pandemia e que, apesar de a história não se repetir, "os paralelismos estão lá".
"A única coisa que pode fazer a diferença é a nossa capacidade de, em conjunto, e agora que vamos fazer 50 anos do 25 de Abril, lutar pela nossa democracia e reforçá-la do ponto de vista social", insistiu Rui Tavares.
O deputado eleito pelo círculo de Lisboa considerou que o pedido de "reformas a sério" para uma democracia mais forte é "uma mensagem importante nestes dias".
"Nós vemos, por exemplo, que a nossa Constituição, que tem 50 anos, diz que deveríamos regionalizar, nunca regionalizámos. Hoje em dia temos um país que está partido ao meio e temos políticos com medo de falar de regionalização", apontou.
Rui Tavares pediu ainda que o país seja "coerente em relação aos direitos humanos", depois do anúncio da organização conjunta do Mundial de 2030 com, entre outros, Marrocos.
"Portugal esteve do lado de Timor-Leste, por exemplo, contra a ocupação indonésia, e ontem acabámos de ver anunciado que vamos fazer um campeonato do mundo com Marrocos, que ocupa o Saara Ocidental, como a Indonésia ocupava Timor-Leste", referiu, acrescentando que não lhe agrada que a República Portuguesa "esteja em contradição consigo mesma e acabe por estar aliada com quem ocupa".
Questionado sobre o anúncio feito pelo Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, sobre a celebração do 25 de Novembro, Rui Tavares acusou o chefe do executivo camarário de se "esquecer que o 25 de Abril é a data que possibilita tudo o que vem a seguir".
"Depois do 25 de Abril há muitas datas que nós devemos comemorar", disse, dando o exemplo das datas em que foram realizadas as primeiras eleições livres, das primeiras eleições em que as mulheres puderam votar em Portugal, a celebração da Constituição ou do regresso de um parlamento democrático.
O antigo eurodeputado reconhece o 25 de Novembro como "uma data importante" e que o seu partido não nega.
"É uma data de uma caminhada longa, que inclui elementos tão importantes como termos entrado no Conselho da Europa, termos entrado na União Europeia, tudo isso nasce do 25 de Abril", registou, acusando Carlos Moedas de escolher ser polarizador.
"Num discurso em que apelou a não se polarizar e apelou à unidade, foi, logo a seguir, escolher um momento de polarização, o que tem sido infelizmente muito típico do seu mandato aqui na presidência da câmara", afirmou Rui Tavares.
Para o deputado do Livre, o presidente da câmara lisboeta apresenta "uma face de moderado", mas, depois, acaba "muitas vezes a entrar em guerras culturais e em polarizações artificiais, como de automobilistas contra ciclistas".
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