Num artigo de opinião publicado esta segunda-feira no Diário de Notícias, José Sócrates questiona a mudança da cultura política do Partido Socialista e o silêncio dos seus dois principais candidatos à liderança em relação às escutas de que foi alvo um dos seus ministros no âmbito da 'Operação Influencer'.
Lembrando que o socialismo sempre "recusou sacrificar as liberdades constitucionais em nome de um qualquer fim social, por mais nobre que fosse", lamenta que o partido "fundado por Mário Soares" hesite "agora sobre a importância e o significado da coragem política".
"Os socialistas portugueses nunca aceitaram trocar garantias constitucionais individuais por finalidades coletivas", afirma, referindo que "retiradas as garantias constitucionais ao cidadão, nada mais é seguro".
José Sócrates refere-se neste texto às escutas realizadas a João Galamba, ex-ministro das Infraestruturas, durante quatro anos, embora nunca se refira diretamente a ele.
"Dos dois candidatos à liderança do Partido Socialista, dizem que um é moderado e que o outro é corajoso", começa por dizer, acrescentando depois que Pedro Nuno Santos "carrega consigo essa marca maldita de independência e de atrevimento que a moderna cultura política associa ao radicalismo político" mas que nada disse sobre o assunto.
Afirmando que "o Partido Socialista parece que hesita agora sobre a importância e o significado da coragem política", Sócrates acusa também José Luís Carneiro de ser "moderado, tão moderado que a sua sensibilidade política estará sempre mais próxima do prestígio das instituições que dos direitos individuais".
"É triste, bem sei. Seja como for, é assim que estamos: um ministro socialista foi escutado durante quatro anos seguidos e, no Partido Socialista, ninguém protesta. Ninguém diz nada", atira.
Leia Também: Escutas "não comprometem" Lacerda Machado nem Costa, diz advogado