O antigo primeiro-ministro socialista José Sócrates enviou uma reclamação à Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, questionando o porquê de o Ministério Público (MP) ainda não ter investigado o seu sucessor, o social-democrata Pedro Passos Coelho, devido às suspeitas de a sua campanha eleitoral ter sido financiada pela empresa brasileira Odebrecht.
"Senhora Procuradora-Geral, o Ministério Público brasileiro formulou, em resposta a uma carta rogatória vinda das autoridades portuguesas, uma suspeita concreta de financiamento ilegal da campanha do PSD em 2015 por parte da empresa brasileira Odebrecht", referiu Sócrates na carta, citada pela CNN Portugal.
No documento, enviado a 12 de setembro, o socialista acusou o Ministério Público de "ignorar essa suspeita". "Parece apostado em nada investigar. Pois bem, senhora Procuradora-Geral, gostaria de ser informado porque razão isso acontece. Que razões existem para não investigar uma suspeita tão concreta e tão indiciada", questionou.
O antigo primeiro-ministro instou Lucília Gago a fazer o "pequeno exercício de trocar, na carta, o nome de Pedro Passos Coelho pelo de José Sócrates e imaginasse o que aconteceria nesse caso".
"Não é difícil. Primeiro, a suspeita de que a minha campanha eleitoral tivesse sido paga pela empresa brasileira Odebrecht abriria todos os telejornais durante semanas. Em segundo lugar, não só teria sido interrogado pelo MP, como ainda teriam promovido medidas de coação contra mim", atirou, acrescentando que "como a suspeita visa o líder do PSD, nada acontece".
Segundo a CNN Portugal, a Procuradora-Geral da República enviou a carta de José Sócrates para o diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, que ainda não se pronunciou.
Em causa está uma carta rogatória das autoridades do Brasil enviada ao DCIAP em 2020, que, de acordo com a Sábado, indica que há "informações indiciárias" em que se considera que "é possível que os pagamentos descritos com referência à obra do Baixo-Sabor [barragem] em Portugal, possam referir-se ao financiamento da campanha eleitoral do PSD para a eleição do cargo de primeiro-ministro, disputada em 2015, pelo ex-primeiro ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho".
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