Na intervenção até agora mais aplaudida da convenção da AD, o ex-líder do CDS-PP nunca se referiu explicitamente ao Chega, mas pediu aos eleitores que tenham "tentações populistas" para que "tenham cuidado" com os exemplos do que estes movimentos e políticos fizeram quando chegaram ao poder, como o Brexit ou o assalto ao Capitólio nos Estados Unidos.
"Como já todos notámos, anda por aí uma tenaz virtual a que querem submeter a coligação: esta eleição disputar-se-ia entre um PS supostamente reinventado e um populismo supostamente interessante. Essa tenaz virtual tem um único objetivo: perpetuar o PS no poder", acusou.
Para o ex-líder do CDS-PP, "os dois polos beneficiam mutuamente desta tenaz virtual" e deixou a receita para a AD se libertar dela.
"Eu sugiro, como aliás tem sido feito, que a coligação oponha a essa tenaz virtual a bipolarização entre dois projetos de Governo, a bipolarização nunca foi radicalização, mas a clarificação de opções, porque há dois modelos para governar Portugal e um está muito deteriorado", afirmou.
Paulo Portas deixou ainda um conselho aos eleitores que tenham "tentações populistas" para que meditem não entre opiniões, mas entre "factos que aconteceram".
"Lembrem-se do Brexit, foram os populistas que levaram à decisão de que os britânicos estão arrependidos e que fez o Reino Unido perder investimento, exportações, acordos comerciais", disse.
Como outros exemplos a não seguir, deixou o assalto ao Capitólio nos Estados Unidos a 06 de janeiro ou o negacionismo da pandemia no Brasil, que fez mais de 600 mil mortos.
"Tomem cuidado, problemas complexos não se resolvem com 142 carateres (...) Tomem cuidado com os que desdizem, desprezam e insultam o trabalho a da ciência e dos cientistas", pediu.
O antigo vice-primeiro-ministro de Passos Coelho -- que não está nesta convenção da AD -- pediu que, no futuro programa eleitoral da coligação, sejam colocados quatro temas que considerou essenciais: a demografia, a produtividade, a inovação e a poupança.
"Eu olho sempre para o modelo da Coreia do Sul: foi a aliança entre o setor privado e o setor público que fez da Coreia do Sul um dos países mais prósperos do mundo, tendo sido um dos mais pobres", sublinhou.
No final de uma intervenção de cerca de meia hora, Paulo Portas apontou ainda que o Governo PS se "esqueceu de assinalar" duas efemérides que se comemorarão em 2024: o quinto centenário do nascimento de Luís de Camões e os 500 anos da morte de Vasco da Gama.
"É preciso pôr termos a esta insanidade, isto não é digno de um país com memória e com futuro e que sabe celebrar com universalismo e rigor histórico o que os portugueses foram capaz de fazer. Vamos lá mudar isto", apelou, levantando a sala da convenção, como aconteceu por várias vezes durante o seu discurso.
Pela convenção "Por Portugal", que decorre no Centro de Congressos do Estoril, passarão durante o dia mais de 20 oradores, entre eles vários cabeças de lista da AD, que juntará PSD, CDS-PP e PPM nas legislativas antecipadas de 10 de março.
[Notícia atualizada às 14h37]
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