Francisco Louçã, antigo coordenador do BE, teceu duras críticas, esta sexta-feira, ao vice-presidente do CDS, Paulo Núncio, que defendeu que deve ser feito um novo referendo ao aborto, defendendo que o centrista foi "extremista" e que "até" André Ventura, líder do Chega, "foi mais moderado".
"Esta semana houve um único extremista que eu vi nesta campanha eleitoral, que foi um vice-presidente do CDS a explicar como é que, se pudesse, iria ensinar a um poder político a violar os direitos das mulheres de ter o acesso ao aborto. Até Ventura foi mais moderado", atirou Francisco Louçã, em declarações na CNN Portugal, num debate que juntou também Manuela Ferreira Leite, Carlos César e Assunção Cristas.
O antigo dirigente bloquista defendeu que foi o mesmo que "PSD e CDS, quando tiveram maioria absoluta, já fizeram". "Tomaram medidas desse tipo, que são cruéis e de perseguição. Não conheço maior extremismo do que isso", apontou.
Francisco Louçã admite que a posição do CDS é conhecida e "coerente", mas "é contraditória com o sentimento popular".
"A moderação, o respeito dos direitos das mulheres, nomeadamente de uma decisão de referendo que é a mulher não pode ser presa por três anos de prisão, que era o que estava no código penal quando aborta, recuar a essa perseguição é de enorme moderação", apontou.
Face a estas declarações, Manuel Ferreira Leite interveio para dizer que "isso não estava no programa de governo da AD" e que tal foi esclarecido por Luís Montenegro.
Louçã notou, contudo, que "Paulo Núncio estava em representação da AD". "Se é abuso dele ou não, que seja posto na ordem", rematou.
Recorde-se que foi durante um debate promovido pela Federação Portuguesa pela Vida que Paulo Nuncio, candidato a deputado por Lisboa nas listas da Aliança Democrática (AD) às eleições legislativas de março, afirmou que "a única forma revertermos a liberalização da lei do aborto passa por um novo referendo".
Paulo Núncio mostrou-se ainda a favor de iniciativas que possam "limitar o acesso ao aborto", tais como taxas moderadoras. Note-se que essa medida chegou a ser implementada pelo governo PSD/CDS-PP, em 2015, mas acabou por ser revogada pela maioria parlamentar de Esquerda.
O centrista foi amplamente criticado e obrigou Montenegro a esclarecer. O presidente do PSD assegurou que a AD não vai mexer na lei do aborto na próxima legislatura, considerando que este é um assunto arrumado e que a posição de Paulo Núncio só a ele vincula.
"Esse assunto é um assunto que está absolutamente arrumado. Nós não vamos ter nenhuma intervenção nesse domínio na próxima legislatura", declarou Luís Montenegro.
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