A posição de Paulo Raimundo surgiu na sequência de uma entrevista à RTP na segunda-feira do líder do partido de extrema-direita, na qual disse que os partidos de direita têm de dizer se estão disponíveis para "criar um entendimento" caso alcancem maioria nas eleições legislativas com vista a formar um governo estável.
"Essa afirmação até tem importância neste momento porque ela revela três questões: a primeira é que para lá do discurso todo de André Ventura, ele, no fundo, está a marimbar-se para as pessoas e para os problemas das pessoas. O que quer é chegar ao poder, sejam lá quais forem os meios. E quer chegar ao poder para voltar ao tempo anterior, voltar ao projeto que nós, com a força do povo, interrompemos em 2015", defendeu, acrescentando como segunda vantagem a evidência de que a CDU "é a força mais consequente" no combate à direita.
Paulo Raimundo falava aos jornalistas à margem de uma visita à vala de Almeirim, no distrito de Santarém, onde esteve a alertar para as questões ambientais, dando como exemplo a praga infestante de jacintos no curso de água que vai da Chamusca até ao Tejo. E foi a partir desse exemplo que apontou a terceira vantagem das palavras de André Ventura, ao associar a vala de Almeirim à configuração do parlamento após as eleições de 10 de março.
"A terceira [vantagem], já que estamos neste enquadramento, é que é mais uma razão porque precisamos dos guarda-rios do PEV e do PCP para ir tratar dos jacintos que, pelos vistos, querem florescer na Assembleia da República", salientou, na companhia do cabeça de lista da CDU por Santarém, Bernardino Soares, e das candidatas de Os Verdes a deputadas pela CDU nos círculos de Setúbal e Lisboa -- Heloísa Apolónia e Mariana Silva, respetivamente.
O líder comunista lembrou também que o presidente do Chega "já fez essa manobra nos Açores e vai tentar fazer agora", notando que "é um problema que a direita vai ter de resolver". No entanto, recusou que a campanha eleitoral esteja a ser metaforicamente afetada por uma praga de jacintos, como a vala de Almeirim.
"Com esta dimensão julgo que não. Claro que um jacinto aqui, um jacinto ali... O problema não é um jacinto aqui, um jacinto ali; o problema é que os jacintos juntaram-se todos aqui e o que precisamos é que a partir do dia 10 de março os jacintos não se juntem todos na Assembleia da República. É preciso guarda-rios, é preciso a Heloísa [Apolónia] e outros deputados do PEV e do PCP, os verdadeiros guarda-rios para tomar conta da praga dos jacintos", finalizou.
Na entrevista à RTP, Ventura indicou que há dirigentes do PSD que "se têm feito ouvir" publicamente, lançando os nomes de Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas, Ângelo Correia e Rui Gomes da Silva.
Aos jornalistas, na segunda-feira à noite, em Portalegre, o presidente do Chega foi questionado se estes sociais-democratas lhe transmitiram esta posição diretamente e respondeu que não.
"O que eu disse hoje numa entrevista à RTP foi que alguma destas pessoas, inclusivamente já várias figuras importantes do PSD, disseram que Luís Montenegro tinha de encontrar uma solução", afirmou.
Instado a indicar quem lhe transmitiu essa informação, o líder do Chega escusou-se a fazê-lo: "Se não disse na altura, não vou dizer agora".
"É a evidência de que o PSD não deixará, quando eu chamei as forças vivas, e alguns até já o disseram publicamente, não deixará que o PS governe por causa de um capricho de Luís Montenegro", argumentou.
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