Esta posição sobre as eleições legislativas, em que se regista uma subida significativa do Chega, foi transmitida por António Costa à chegada ao hotel onde a direção do PS está a acompanhar a evolução dos resultados.
Interrogado sobre as causas da subida acentuada do Chega face às legislativas de 2022, o ex-líder socialista disse que se impõe "compreender o que esse crescimento do Chega tem de estrutural e de conjuntural".
António Costa apontou então que estas eleições se realizaram num quadro conjuntural "absolutamente atípico".
"Todos temos a noção que estas eleições ocorreram depois de dois anos de uma crise inflacionista como o país não via há 30 anos, que foi dura para as famílias e acompanhada por uma brutal subida das taxas de juro -- e a nossa capacidade de resposta manifestamente não foi suficiente. Criou um mau estar geral", assumiu.
Depois, referiu-se às prováveis causas conjunturais do voto "de protesto" no Chega.
"Estas eleições ocorreram num clima de sobressalto, de dúvidas judiciais por esclarecer, o que cria um caldo de cultura próprio para o populismo. Os próximos tempos, com serenidade e com tempo, permitirão apurar aquilo que a subida do Chega tem de voto estrutural - e representa uma mudança de fundo na sociedade de portuguesa - e o que tem de voto de protesto perante uma conjuntura que desejamos que rapidamente se esclareça", afirmou.
Em relação ao papel desempenhado pelo Presidente da República, referiu que o Governo foi chamado "a exame" quando ainda não tinha concluído dois anos de mandato.
"É manifesto que um grande número de eleitores que votou no PS, em mim, agora não votou", mas recusou-se a comentar a atuação do chefe de Estado, designadamente em matéria de cenários eleitorais.
António Costa sorriu, dizendo que os jornalistas tentam "há quase oito anos" que comente "as palavras diretas, indiretas ou os silêncios do Presidente da República", mas nunca o fez.
"Não comento nem as palavras, nem os passeios, nem os silêncios, nem as fontes de Belém que o próprio já disse que é ele. Não faço qualquer comentário e não vou quebrar essa regra", acentuou.
Questionado se espera que as dúvidas sobre a sua ação no âmbito da "Operação Influencer" se esclareçam ainda a tempo de se candidatar nas eleições europeias, António Costa disse que ninguém da justiça ainda falou consigo e que, pela sua parte, não fala da justiça a partir da comunicação social.
"Quando a justiça quiser falar comigo sobre esse assunto, sabe onde estou, pode telefonar, escrever ou visitar-me. Estou às ordens da justiça, mas não falo com a justiça através da comunicação social", disse.
Antes de deixar uma crítica: "Num estado de Direito, há um espaço para cada matéria: Para o debate político, é o espaço mediático; para a justiça, é no tribunal. E não posso falar sobre um processo que desconheço em absoluto", alegou o primeiro-ministro cessante.
Interrogado se o PS deve viabilizar um Governo minoritário do PSD, recusou-se a "opinar" sobre essa matéria, alegando ser agora militante de base e essa resposta competir ao secretário-geral do partido, Pedro Nuno Santos, mas reconheceu que os socialistas ficaram "aquém" dos seus objetivos, mas também as sondagens erraram.
"Como costuma dizer o Pedro Nuno Santos, quando o PS perder perdemos todos. Mas se é preciso algum responsável estou cá eu para assumir. Como tive já oportunidade de dizer, nenhum secretário-geral do PS que entrasse em funções naquela circunstância tinha a obrigação de ganhar as eleições", respondeu.
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