Pelo menos dois deputados do partido Chega têm problemas – e acusações – relacionados com a imigração ilegal, ainda que o coletivo de extrema-direita tenha como bandeira o combate ao que diz ser "uma imigração descontrolada" e defenda que "só pode ficar em Portugal um imigrante que não cometer crimes, e se cometer crimes será expulso".
O deputado eleito pelo círculo da Europa, José Dias Fernandes, trabalhou e viveu como imigrante ilegal em França durante vários anos, depois de ter emigrado para aquele país na década de 70. O homem, empresário natural de Viana do Castelo, confessou até ter sido expulso "duas vezes", numa entrevista ao LusoJornal.
"Fui expulso duas vezes. É verdade. […] Tentei Andorra e voltei para França e fui expulso novamente. Voltei em 1978, outra vez", contou.
Só durante a presidência de François Mitterrand, do Partido Socialista, é que o agora deputado eleito conseguiu "fazer os papéis" e obter a autorização de residência. Mas, caso as medidas defendidas pelo coletivo em que se insere tivessem sido aplicadas em França, o homem não poderia ter regressado.
Emigrante há 50 anos, José Dias Fernandes disse ainda ter sido "perseguido", ainda que tenha conseguido "furar porque insisti mais do que uma vez, fiz como os imigrantes fazem hoje". Assumindo saber "as dificuldades do imigrante comum", o empresário mostrou-se até solidário com quem, tal como ele, deixou o seu país em busca de melhores condições de vida, mesmo que de forma ilegal.
Contudo, José Dias Fernandes não é caso único no partido de extrema-direita. Marcus Santos, o quinto eleito no círculo eleitoral do Porto, foi detido duas vezes sob acusações de imigração fraudulenta no estado norte-americano da Florida, segundo registos criminais publicados na plataforma Arrests.org.
Natural do Rio de Janeiro, no Brasil, o homem de 44 anos foi detido aos 25 anos, tanto em dezembro de 2004, como em fevereiro de 2005. Desconhece-se, contudo, se chegou a ser condenado ou expulso do país.
Face ao ‘burburinho’ nas redes sociais, o antigo atleta disse não ter "nenhum problema com a justiça norte-americana ou de qualquer outro país", ignorando a existência dos registos de detenção.
"Todos os anos vou aos Estados Unidos, onde sou recebido por todos os meus alunos com muita admiração e carinho. Estas últimas fotos são de 2022. Deus abençoe a América. Viva Portugal", escreveu.
Não tenho nenhum problema com a justiça americana ou de qualquer outro país.
— Marcus Santos (@marcussantosbtt) March 22, 2024
Todos os anos vou aos Estados Unidos onde sou recebido por todos os meus alunos com muita admiração e carinho.
Estas últimas fotos são de 2022 .
Deus abençoe a América 🇺🇲
Viva Portugal 🇵🇹 pic.twitter.com/E2uqBXJyly
Saliente-se que o programa do partido de extrema-direita, que elegeu 50 deputados nas eleições do dia 10 de março, quer obrigar os imigrantes no país a cinco anos de contribuições antes de terem acesso a apoios sociais, cidadãos que, em 2022, foram responsáveis por um lucro de mais de 1.600 milhões de euros na Segurança Social. Pretende, além disso, que os imigrantes que façam pedidos de asilo "se mantenham nos centros de apoio temporários" até obterem validação, bem como o "repatriamento de quem incumprir a lei penal" portuguesa.
O Chega, que propõe quotas anuais para a entrada de estrangeiros em Portugal assentes "nas qualificações dos imigrantes e nas necessidades da economia portuguesa", quer, também, que seja feito um "diagnóstico dos setores com mais carência de mão-de-obra em Portugal, assim como a análise dos riscos da imigração não integrada".
Revogar o acordo de mobilidade da CPLP, criar o crime de "residência ilegal em solo português" ou reverter a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) são outras das medidas, que se juntam às propostas de retirar a nacionalidade portuguesa a cidadãos binacionais que cometam crimes violentos, como homicídio, violência doméstica ou terrorismo, e limitar os números de atestados de residência que são atribuídos por morada "em função da tipologia da mesma e aumentar a sua fiscalização".
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