A questão migratória começou por ocupar parte significativa do debate promovido pelas rádios, o último antes da votação no próximo domingo e em que o Chega foi o alvo privilegiado das restantes forças políticas concorrentes.
A crítica mais forte veio de João Cotrim de Figueiredo, cabeça de lista da IL, que acusou o Chega de ter "laivos de xenofobia e de racismo".
Na sequência das afirmações do cabeça de lista do Chega, António Tânger Corrêa, de que Vila Nova de Milfontes, no distrito de Beja, conta com metade da população imigrante e de que num espaço comercial havia "pressão noite e dia" e "ameaças" por parte de imigrantes a lojistas portugueses, João Cotrim Figueiredo acusou o partido liderado por André Ventura de ter uma posição xenófoba.
"O que o Tânger Corrêa acabou de fazer foi 'dizer que há um problema de ordem pública ou até de coação associado a imigrantes' quando é uma coação condenável fosse qual fosse o perpetrador e não me venha dizer que não há portugueses que fazem o mesmo, se calhar por vários centros comerciais por aí fora", atirou o candidato da Iniciativa Liberal (IL).
Por sua vez, a "número um" da lista do BE, Catarina Martins, criticou Tânger Correia, que tinha afirmado que "o primeiro passo" era a regularização dos 400 mil imigrantes "para que possam entrar no mercado de trabalho".
"As 400 mil pessoas que estão à espera de regularização estão a trabalhar, o seu processo de regularização não é para entrar no mercado de trabalho", vincou a cabeça de lista do BE, apontando que a posição do Chega "é mentirosa" e que não se pode "deixar passar" isso.
O cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho, considerou não existir excesso de imigrantes em Portugal.
"O problema não é o excesso de imigrantes, isso não existe, o problema é o excesso de imigrantes que não foram regularizados e protegidos", sustentou.
Pedro Fidalgo Marques, do PAN, criticou a ideia de que a imigração traz aumento da criminalidade, apontando que "é erro".
O cabeça de lista do PAN criticou ainda Tânger Corrêa por fazer "acusações sem depois ter consequência".
Já Francisco Paupério, do Livre, defendeu "fronteiras abertas com segurança" e que para tal é preciso coordenação.
A cabeça de lista do PS, Marta Temido, defendeu a reforma que conduziu à extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e destacou a dimensão institucional que se prende com o SEF e com a entidade que lhe sucedeu, a Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) que, sustentou, "tem de ser reforçada".
A questão da transição do SEF para a AIMA continuou presente na campanha com o antigo diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações, António Vitorino, a considerar que o processo "correu mal".
"Naturalmente que esta transição correu mal. Isso não vale a pena mitigar as palavras", respondeu António Vitorino aos jornalistas quando questionado sobre a transição para a AIMA, numa ação de campanha ao lado de Marta Temido, realizada após o debate.
No final do debate, em declarações aos jornalistas, Marta Temido afirmou que espera a presença do antigo primeiro-ministro António Costa nesta segunda e última semana de campanha, mas reconheceu que tem havido "questões de agenda difíceis de gerir".
Temido disse ainda que as eleições europeias "não são uma segunda volta das legislativas, nem são umas primárias de uma outra coisa qualquer. São umas eleições com um valor essencial para a vida dos portugueses e dos europeus", defendeu.
Sebastião Bugalho defendeu que o resultado das eleições de domingo não pode "pôr em causa a estabilidade política do país" e que o debate que está a ser feito é da "Europa pela Europa".
O Chega, por António Tânger Correia, admitiu neste debate que o "principal adversário" do partido nestas eleições é a AD.
João Cotrim de Figueiredo recusou a leitura de que um bom resultado nestas eleições são negativas para a imagem do líder do partido, Rui Rocha, relembrando que, apesar de ter "parte do mérito do que vier a correr bem", a sua candidatura beneficia das "condições todas" que o partido lhe deu e sem as quais "não conseguiria fazer nada".
O cabeça de lista da CDU, João Oliveira, afirmou que o partido fará uma "avaliação em função do resultado" que conseguir nestas eleições, sublinhando que se trata de "uma batalha" que está a ser travada pelos comunistas de "norte a sul do país".
Catarina Martins recusou atribuir responsabilidades individuais no caso de um mau resultado dos bloquistas, sublinhando que o partido é um coletivo e defendeu também que estas eleições diferem das últimas legislativas, uma vez que por haver um círculo único, "não há voto útil" e "as pessoas elegem o representante que querem ver defendê-las".
Pedro Fidalgo Marques, do PAN, defendeu que nestas eleições "não faz sentido haver um voto útil", apelando aos ativistas da causa animal e da proteção animal a voltarem na sua candidatura para consolidar a presença do seu partido.
Mais tarde, em declarações durante uma ação de campanha sobre habitação, Pedro Fidalgo Marques defendeu ser essencial investir mais apoios europeus em habitação social e habitação de renda apoiada, sublinhando que as pessoas têm de ser a prioridade.
"Temos falado muitas vezes de várias políticas -- de migração, de alargamento, de agricultura -- e são todas muito importantes, mas não podemos esquecer o pilar social das pessoas", afirmou, acrescentando que não se pode "fazer nenhuma transição sem ser justa e isso passa por dar um teto às pessoas".
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