Este aviso foi transmitido por Pedro Nuno Santos em conferência de imprensa, depois de o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter apresentado as principais medidas do Governo para uma maior regulação das migrações.
Tendo ao seu lado a líder parlamentar socialista, Alexandra Leitão, e o "vice" da bancada do PS Pedro Delgado Alves, Pedro Nuno Santos começou por manifestar dúvidas sobre o sucesso de alterações ao nível da lei de estrangeiros no controlo de fluxos migratórios, contrapondo que é na "regulação e fiscalização do mercado de trabalho que as medidas podem ter maior impacto".
Em relação ao plano do Governo, o secretário-geral do PS disse "acompanhar objetivos de reforço dos meios da AIMA (Agência para a Integração, Migrações e Asilo) e dos serviços consulares".
"Mas a grande medida concreta deste plano é o fim [na lei de estrangeiros] da figura jurídica manifestação de interesses. Este conceito tem como objetivo regularizar a situação de trabalhadores que já estão a trabalhar em Portugal há pelo menos um ano, com contrato de trabalho e com descontos para a Segurança Social. Ora, o fim imediato desta figura jurídica vai deixar uma situação de vazio. Podemos estar a criar um problema para o futuro, com trabalhadores a trabalhar, a descontar mas sem possibilidade de se regularizarem", avisou o líder socialista logo na sua declaração inicial.
Neste ponto, deixou uma pergunta: "Como deve o país tratar alguém que está há mais de um ano a trabalhar em Portugal, que tem contrato de trabalho e descontos para a Segurança Social? A verdade é que o Governo não dá resposta e não se prevê que o reforço dos serviços consulares seja suficiente para que se acabe com esta figura jurídica", completou.
Perante os jornalistas, Pedro Nuno Santos rejeitou uma relação entre esta figura jurídica e a existência de cerca de 400 mil processos pendentes na AIMA e não excluiu em absoluto uma revisão da lei de estrangeiros.
"Mas não queremos que se alimente a ideia de que é através de alterações legislativas que vamos conseguir controlar os fluxos migratórios", ressalvou.
O secretário-geral do PS considerou que o plano apresentado pelo Governo "é vago" na generalidade das áreas que incide, sem quantificação e sem calendários, "embora seja concreto em relação ao fim da manifestação de interesse".
"No plano, nós não temos a apresentação de medidas para aumentar a fiscalização do cumprimento da legislação de trabalho, nomeadamente em relação à fiscalização dos contratos de trabalho e das empresas de prestação de serviços, de forma a combater empresas e contratos e trabalho fictícios. Sobre o mercado de trabalho o plano não diz nada -- e essa é uma área central, assinalou.
Interrogado sobre o balanço que o PS faz no que respeita ao funcionamento da AIMA, Pedro Nuno Santos defendeu que ao longo dos últimos anos os governos socialistas "foram dando respostas às exigências muitas vezes vocais do setor empresarial nacional sobre a necessidade de trabalhadores estrangeiros em Portugal".
"As instituições têm o seu tempo e a AIMA tinha já um plano para a regularização de pendências. Este Governo anunciou um reforço de meios para resolver as pendências, embora sem se comprometer com um prazo. Por isso, parte do anúncio do Governo é bem-vindo mas não é novo. E o que é novo pode trazer problemas agravados aos trabalhadores estrangeiros", insistiu.
De acordo com o Plano de Ação para as Migrações hoje aprovado em Conselho de Ministros, é criada "a Unidade de Estrangeiros e Fronteiras (UEF) na PSP, atribuindo-lhe as competências do controlo de fronteira, de retorno (hoje na AIMA) e de fiscalização no território nacional".
Este Plano de Ação para as Migrações do Governo português prevê também a transformação do atual visto de mobilidade para imigrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) num visto comunitário (Schengen), que permite circular pela União Europeia.
Em conferência de imprensa, entre outras medidas, o primeiro-ministro anunciou o fim do regime excecional que permitia a um estrangeiro entrar em Portugal e só depois pedir autorização de residência. Logo depois, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, adiantou que será criada uma estrutura de missão para regularizar processos pendentes, estimados em 400 mil.
[Notícia atualizada às 19h49]
Leia Também: Plano para migrações? "Igual aos que têm sido apresentados pelo Governo"