PS vê protestos sobre Gaza como "grande desafio" para democratas
O secretário-geral da Juventude Socialista, Miguel Costa Matos, considera os protestos contra o apoio de Washington à guerra de Israel na Faixa de Gaza um "grande desafio" para os democratas, com potencial para afetar as presidenciais.
© Lusa
Política Miguel Costa Matos
"No sistema eleitoral americano, em que todos os votos do colégio eleitoral vão para o candidato que venceu esse estado, é especialmente delicado quando temos pessoas que votam em branco ou em outros candidatos, como Robert F. Kennedy Jr. [candidato independente]. E, portanto, quer essa questão, quer a questão de Gaza, são um grande desafio para os democratas", avaliou à Lusa o deputado e vice-presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista (PS).
Miguel Costa Matos encontra-se em Chicago para participar, esta semana, na Convenção Nacional do Partido Democrata, que irá confirmar a nomeação de Kamala Harris e Tim Walz como candidatos à presidência e vice-presidência dos Estados Unidos da América, respetivamente.
À margem da convenção, milhares de pessoas têm protestado contra a posição do Governo de Joe Biden e Kamala Harris de continuar a financiar a guerra de Israel contra o Hamas no enclave palestiniano, que já fez mais de 40 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Vários manifestantes garantiram à Lusa, em Chicago, que não irão votar em Kamala Harris por causa do contínuo apoio a Telavive, avaliando que a atual vice-presidente mantém a mesma postura de Biden.
Esse descontentamento vem sendo visível desde as eleições primárias, no início do ano, quando milhares de democratas decidiram votar em branco, em protesto pela forma como o atual Governo democrata tem apoiado Israel.
Contudo, para Miguel Costa Matos, Kamala Harris "tem sido muito mais clara a defender um cessar-fogo em Gaza" em comparação com Joe Biden.
"Ela tem a capacidade de influenciar o resto da administração a ter um discurso que, de facto, demonstre que não estão fixados na defesa de Israel e são capazes de reconhecer as violações de direito Internacional, de direitos humanos, da forma como Israel está a travar esse combate. Isso é muito importante e ela está a conseguir fazê-lo", advogou o deputado português.
"É natural que demore algum tempo até que os ativistas que estão a protestar reconheçam isso", disse, considerando ainda positivo haver uma pressão pública na defesa da Faixa de Gaza, "senão estariam ainda presos àquilo que são os interesses instalados de Israel".
O secretário-geral da Juventude Socialista foi convidado para estar presente na Convenção Democrata como deputado progressista, na sequência da sua participação em várias das últimas edições do 'Progressive Governance Summit', 'Progressive Governance Seminar' e 'Global Progress Summit', em que participou como orador em assuntos económicos.
Na convenção, que vai decorrer até quinta-feira, Kamala Harris e Tim Walz aceitarão as respetivas nomeações como candidatos a presidente e vice-presidente dos Estados Unidos, numa corrida em que enfrentarão o magnata republicano Donald Trump, após Joe Biden ter renunciado à corrida à Casa Branca.
Em menos de um mês, a candidata democrata conseguiu virar as sondagens dos estados críticos a seu favor, o que levou a um aumento de republicanos que ameaçam com uma "guerra civil" caso Donald Trump seja derrotado.
À Lusa, Miguel Costa Matos admitiu que há "claras tentativas de mudar as regras do jogo em alguns estados" e de "pôr em causa aquilo que é o normal funcionamento das eleições", considerando um "risco a repetição dos distúrbios de 06 de janeiro de 2021", quando apoiantes de Donald Trump invadiram violentamente o Capitólio para tentar travar a confirmação da vitória eleitoral de Joe Biden.
"Há de facto uma grande polarização. Na sociedade em geral nota-se essa polarização e nota-se o reforço de medidas de segurança face ao aumento da violência política que temos visto nos últimos meses na América", afirmou.
"Isso é alarmante, mas é necessário que Kamala Harris, ao vencer esta eleição, transmita uma mensagem de unidade entre todos os americanos, incluindo aqueles que não concordam com ela e, portanto, a capacidade de fazer uma política de inclusão e não a política de exclusão", acrescentou.
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