Cinco reclusos fugiram, durante a manhã de sábado, do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, localizado no distrito de Lisboa - e considerado de alta segurança. Desde então, passaram três dias e o Governo pouco ou nada disse sobre o incidente. Até o Ministério da Justiça ter anunciado, esta segunda-feira, que a ministra Rita Júdice falará sobre o incidente na terça-feira.
No entanto, antes do anúncio, o silêncio do Governo motivou críticas dos vários partidos. Desde a Esquerda à Direita, a opinião foi unânime: a ministra da Justiça precisa de dar explicações.
Durante a tarde de domingo, o líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, foi dos primeiros a pronunciar-se e anunciou, em conferência de imprensa, que o partido vai chamar "com caráter de urgência" a ministra da Justiça, Rita Júdice, e as ex-ministras socialistas Francisca Van Dunem e Catarina Sarmento e Castro para prestarem esclarecimentos no Parlamento sobre a fuga.
Rui Rocha adiantou que, além da ministra e ex-ministras, quer também ouvir o diretor-geral da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), Rui Abrunhosa Gonçalves, o presidente da Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, o presidente da Associação Sindical das Chefias do Corpo da Guarda Prisional e o presidente do Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional.
"São as pessoas e entidades que, nesta altura nos parecem ser aquelas que podem contribuir para um esclarecimento do que se passou", explicou, sublinhando que "uma coisa é certa: algo falhou".
Já na manhã desta segunda-feira, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, defendeu também que a ministra da Justiça "tem de dar explicações".
"É óbvio que perante uma fuga desta dimensão e com este perigo e risco envolvido seria muito importante que o Governo pudesse falar e que a Ministra da Justiça pudesse falar sobre esta matéria. E o seu silêncio nunca é bem recebido nem nunca é entendido da melhor forma", considerou Mortágua, em declarações aos jornalistas, em Lisboa.
"A responsável máxima pelas prisões é a ministra da Justiça e, portanto, tem de falar e tem de dar explicações ao país", frisou.
Por seu turno, o presidente do Chega exigiu responsabilidades ao diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, mas criticou também o silêncio da ministra da Justiça e do primeiro-ministro, Luís Montenegro.
"O Estado português falhou, o diretor dos Serviços Prisionais tem de assumir responsabilidades por este falhanço, porque este é um falhanço que envergonha Portugal", afirmou aos jornalistas, em Castelo Branco, acrescentando que "está objetivamente comprovado que houve negligência de serviços e que houve falha de serviços".
O líder do Chega criticou também o silêncio da ministra da Justiça, Rita Júdice, defendendo que já devia ter pedido desculpa publicamente aos portugueses pelo risco e pelo prejuízo causado à imagem do Estado português.
À semelhança dos restantes partidos, o Partido Comunista Português (PCP) defendeu que a fuga revela "falhas graves de segurança" e considerou "inexplicável" o silêncio do Governo sobre este caso.
"O PCP considera que o ocorrido revela falhas graves de segurança, que importa apurar em toda a sua extensão, que confirmam os alertas do PCP e as iniciativas que ao longo dos anos apresentou", lê-se num comunicado.
Para o partido, a situação "torna ainda mais inexplicável o silêncio do Governo sobre este acontecimento e as medidas que urge adotar".
Marques Mendes e Santos Silva entre os críticos
Além dos partidos, também outros políticos criticaram o silêncio do Governo, como Luís Marques Mendes, do Partido Social Democrata (PSD), e Augusto Santos Silva, do Partido Socialista (PS).
Na noite de domingo, Marques Mendes manifestou "grande estranheza sobre o silêncio do Governo", considerando que "é muito estranho, para não dizer insólito, que passadas 24 horas o Governo ainda não tenha dito uma palavra, sobretudo a ministra da Justiça".
"Não é o Governo que tem culpa desta fuga. Nem provavelmente pode ser associada ao Governo responsabilidade por problemas de segurança nas prisões porque tem apenas quatro meses de vida. Mas é o Governo que está em funções, é a ministra da Justiça que está em funções. Os governos são para os momentos bons, mas também para os menos bons. Os ministros são para as ocasiões fáceis, mas também para os momentos difíceis", atirou.
Por sua vez, Augusto Santos Silva, antigo presidente da Assembleia da República, lamentou que não tenha havido "nem uma palavra de tranquilidade à opinião pública, nem uma palavra de estímulo às forças que procuram capturar os evadidos, nem uma palavra de garantia sobre o cabal estabelecimento das responsabilidades".
Recorde-se que a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) anunciou, na manhã de sábado, que cinco reclusos fugiram do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, no distrito de Lisboa.
Uma avaliação preliminar, através das imagens de videovigilância, aponta que os cinco homens terão fugido pelas 10h00 "com ajuda externa através do lançamento de uma escada, que permitiu aos reclusos escalarem o muro e acederem ao exterior", referiu a DGRSP.
Os evadidos são dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e 61 anos.
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Condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, entre os crimes estão tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.
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