O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, discursaram, este sábado, na sessão comemorativa do 114.º aniversário da Implantação da República. Logo após, seguiram-se as críticas dos partidos, que lamentaram discursos "virados para o passado" e criticaram o autarca lisboeta, acusando-o de se ligar à "extrema-direita" e de ser um "pequeno Napoleão".
Em causa está o facto de Carlos Moedas ter defendido que Portugal não pode "aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem", referindo-se à imigração.
"Hoje, assistimos a manifestações de um drama humanitário que nos envergonha a todos como país. Precisamos de imigração, mas não podemos aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem, dá espaço a redes criminosas e multiplica casos de escravatura moderna", disse o autarca, anfitrião das cerimónias oficiais do 5 de Outubro, que decorreram na Praça do Município, acrescentando que "se hoje temos um claro problema de pessoas em situação de sem-abrigo no país, deve-se também à irresponsabilidade em lidar com a imigração".
Para o porta-voz do Livre, Rui Tavares, as palavras de Carlos Moedas colocam-no "a ir atrás do discurso da extrema-direita". Já o Bloco de Esquerda (BE) foi mais longe e acusou-o de ser um "pequeno Napoleão".
"O que ouvimos hoje do presidente da Câmara de Lisboa foi um discurso de um pequeno Napoleão que não reconhece o facto de Lisboa estar pior", afirmou o líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo.
O bloquista contrapôs que "se há portas escancaradas em Lisboa" essas são "à especulação imobiliária e ao excesso de carga turística" que gera falta de habitação, uma área na qual atribui culpas presidente da Câmara de Lisboa.
Por outro lado, os bloquistas aplaudiram o discurso do Presidente da República, que afirmou que "a democracia está viva", embora não seja "perfeita nem acabada", e defendeu que tem de ser "mais livre, mais igual, mais justa, mais solidária".
"República e democracia estão vivas, mas sabem que têm de mudar, e muito: nos dois milhões de pobres e mais os em risco de pobreza, nas desigualdades entre pessoas e territórios, no combate à corrupção, o envelhecimento coletivo, e também de tantos sistemas sociais, na insuficiência do saber, da inovação, do crescimento", elencou Marcelo no seu discurso.
Para o Bloco de Esquerda, Marcelo "fez um discurso que lhe era pedido neste dia republicano" e "recordou que o melhor período da República é da República democrática".
Pelo Partido Social Democrata (PSD), Margarida Balseiro Lopes também destacou a importância que Marcelo Rebelo de Sousa deu à República e à democracia, referindo que "fez sempre essa relação, mas sobretudo alertando para as imperfeições" e para aquilo que é preciso corrigir.
"Falou da necessidade e nós estamos perfeitamente alinhados com essa preocupação com o combate às desigualdades, com combate à pobreza, com o combate à corrupção, mas há uma mensagem que eu queria destacar: a necessidade de rejuvenescer o país", enfatizou a ministra da Juventude.
Posição contrária teve o Partido Comunista Português (PCP), com o dirigente João Oliveira a lamentar que o discurso do Presidente da República não sinalizasse um caminho para "combater a pobreza e as desigualdades sociais".
"O Presidente da República evocou a necessidade de haver mudanças. Disse que havia a necessidade de combater a pobreza, as desigualdades sociais. É difícil não subscrever essas palavras, a questão é como. Sobre isso nada foi dito", apontou.
Já a deputada única do PAN, Inês Sousa Real, criticou os discursos por serem muito virados para o passado e sem tradução numa "mudança efetiva" que é preciso fazer em Portugal, considerando que estas intervenções são "mais do mesmo".
"Olhamos para estas intervenções como mais do mesmo, todos os anos ouvimos o mesmo género de intervenção aqui neste tipo de cerimónias, sendo que evocar a implantação da República tem que ter mais do que uma cerimónia evocativa, tem que se traduzir numa mudança efetiva para o país que queremos construir e para o futuro que queremos deixar para as próximas gerações", criticou.
Para a líder do PAN, este foi "um discurso muito virado para o passado, muito pouco focado naquilo que são os desafios do presente para os portugueses, mas também de Portugal a nível global".
Recorde-se que o 5 de Outubro voltou a ser feriado nacional em 2016, ano em que Marcelo Rebelo de Sousa se tornou Presidente da República, quando o PS governava com o apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda. Este feriado tinha sido eliminado em 2013 pelo anterior Governo PSD/CDS-PP, em período de assistência financeira externa.
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