"O senhor primeiro-ministro não teve uma afirmação feliz. Ainda que houvesse apenas um caso de violência doméstica, seria sempre um caso a mais, e estas questões não podem ser geridas com base nas perceções, têm de ser geridas com base nas evidências, e eu creio que Portugal tem mesmo um problema de violência doméstica que não pode ser tratado com ligeireza", afirmou Rui Rocha em Tomar (Santarém), à margem da sessão de encerramento do 12.º Congresso da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos (APECATE).
Em causa estão as declarações de Luís Montenegro, numa conferência sobre combate à violência contra mulheres e violência doméstica, quando se mostrou convicto de que o aumento dos casos se deve ao facto de haver mais denúncias e não a um "aumento real", declarações que motivaram críticas do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, a que se juntou hoje o líder da IL, Rui Rocha.
"O problema é sério de mais para estarmos a fazer guerra política com esta matéria", declarou Rui Rocha, tendo feito notar que a afirmação de Montenegro foi proferida na segunda-feira, 25 de Novembro, dia em que se assinalou a luta contra a violência doméstica.
"A mensagem a passar é que um caso que existisse seria sempre um caso a mais e este é um combate que a sociedade portuguesa deve continuar a fazer", defendeu.
O primeiro-ministro insistiu hoje que o aumento da criminalidade participada da violência doméstica se deve ao trabalho desenvolvido "e não tanto ao aumento da criminalidade em si", devolvendo acusações de ligeireza a quem não vê "essa evidência".
Luís Montenegro respondeu assim de forma implícita ao secretário-geral do PS Pedro Nuno Santos -- sem nunca referir o seu nome -, numa intervenção na tomada de posse do diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Orlando Carvalho, e do diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, que decorreu no Ministério da Justiça, em Lisboa.
Numa publicação via redes sociais, Pedro Nuno Santos acusou na segunda-feira o primeiro-ministro de "enorme falta de sensibilidade, empatia e respeito pelas vítimas" nas declarações a propósito de violência sobre as mulheres por considerar ser preciso "menos ligeireza e mais respeito pelos factos".
Montenegro disse hoje ficar perplexo como é que, perante a profundidade deste crime de dimensões "absolutamente trágicas" se pode querer "desviar a atenção", nomeadamente do trabalho das forças de investigação.
O primeiro-ministro defendeu que o crime de violência doméstica, cometido habitualmente contra pessoas em situação de maior vulnerabilidade, é talvez "o mais violento de todos", classificando-o como "um autêntico crime de terror"
Na sua publicação nas redes sociais, Pedro Nuno Santos escreveu: "O cidadão Luís Montenegro tem o direito de achar coisas, mas a um primeiro-ministro exige-se menos ligeireza e mais respeito pelos factos, especialmente quando falamos de violência exercida sobre mulheres".
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