Ana Sofia Moreira Sá, responsável por marcar as primeiras consultas no hospital de Santa Maria e coautora da carta ao então diretor clínico a contestar o tratamento no caso das gémeas luso-brasileiras que receberam o medicamento Zolgensma em Portugal, foi ouvida esta terça-feira, 3 de dezembro, na comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso.
Questionada pelos deputados, Ana Sofia Moreira Sá revelou que o "acompanhamento deste processo foi de uma forma paralela, não estive muito envolvida". Acrescentando que "soube dentro da unidade que havia estes doentes que estavam a ser seguidos".
Reitera ainda que “as consultas não foram triadas por nenhum dos médicos" de triagem, contrariando o que António Lacerda Sales tinha dito. “Não tive nenhuma responsabilidade”, afirma a médica.
Quanto à coautoria da carta aponta: "É uma situação que já na altura percebíamos que se ia colocar repetidamente e, de facto, hoje em dia vivemos a braços com questões destas diariamente - de doentes que não sendo residentes em Portugal procuram os nossos serviços de saúde por vias que parecem menos oficiais e quisemos chamar a atenção para isso. Temos imensos doentes imigrantes, muitos deles sem residência, que vêm para cá, nomeadamente, para procurar os tratamentos médicos", afirmou na sua declaração inicial, em resposta à deputada do Bloco de Esquerda, Joana Mortágua.
A médica indica que "como médicos não podemos negar tratamento aos doentes, mas percebemos, já na altura, que isto do ponto de vista social e económico e de gestão da saúde no país ia ser um problema e portanto a carta foi nesse sentido, de gerar esse alerta, para que as instituições responsáveis pudessem decidir o que é que achariam mais correto fazer nestas situações", reforçando que "nesse sentido é claro que subscrevi essa carta".
Ana Sofia Moreira Sá revela que a carta referente a este caso, que foi assinada por "todos os médicos que constituíam a unidade de neuropediatria na altura", surgiu "por sentirmos que não seria muito justo que pessoas que não são residentes cá - portanto nós sabíamos que esta família não era residente cá nem pensava vir viver para cá (...) - estar a vir claramente só para fazer uma terapêutica muito cara que não estava a conseguir fazer no seu país".
Ana Sofia Moreira Sá diz que são comuns os pedidos externos de consulta. "Todos os dias temos pedidos de consulta do amigo, do primo, das mais variadas pessoas - alguns desses podem ser de pessoas que tenham algum cargo público, mas o pedido na maioria das vezes não é feito por pressão".
A Assembleia da República tem protagonizado, nos últimos meses, uma comissão parlamentar de inquérito ao caso das duas gémeas luso-brasileiras que receberam tratamento com o medicamento Zolgensma no Serviço Nacional de Saúde, estimando-se que este será o medicamento mais caro do mundo, no valor de dois milhões de euros.
Suspeita-se que as bebés terão tido um acesso privilegiado ao medicamento, com recurso a influências na esfera política, em que são suspeitos o filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, e o antigo secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales.
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