Estas críticas foram hoje feitas por Rui Fernandes, membro da Comissão Política do PCP, no discurso que proferiu no primeiro de três dias de congresso do seu partido, em Almada.
Numa intervenção marcada por ataques à "militarização da União Europeia" e à ação da NATO a nível global, o dirigente comunista advertiu que está em curso um processo de "fuga para a frente" que tem levado as Forças Armadas "a um incontestado declínio".
"Para além da propaganda, a realidade é marcada pela dissonância entre o discurso da exibição de capacidades e a realidade vivida, ou entre a ânsia do atual ministro da Defesa [Nuno Melo] em mostrar resultados e os dados reais que apontam para a perda de mais 500 militares no corrente ano", sustentou.
De acordo com o membro da Comissão Política do PCP, neste momento assiste-se a um "incontestado declínio" das Forças Armadas, que se expressa "na falta de atratividade, no aumento do número de militares do quadro permanente que (no auge da sua experiência) decide abandonar as fileiras, na degradação dos meios ou na sua ausência em áreas vitais para a defesa nacional".
Expressa-se também -- prosseguiu - no "definhamento das condições sociais, desde logo no acesso aos cuidados de saúde, na falta de resposta aos problemas dos ex-combatentes e na recusa em considerar as propostas e as sugestões das associações militares".
Rui Fernandes acentuou que PCP é contra "uma política de defesa e uma política externa assente num alinhamento ideológico desligado dos interesses nacionais", sendo também, em consequência, contra "opções de reequipamento que não partam das necessidades nacionais para garantir o exercício da soberania nos espaços sob jurisdição nacional".
O dirigente comunista criticou então a aquisição de novos meios aéreos e navais, nomeadamente aviões F-35, assim como a decisão de atribuir helicópteros ao Exército.
"Os revigorados impulsos para erguer a União Europeia da Defesa, que enche de júbilo vários protagonistas da política direita, tenderá a enfraquecer as possibilidades de ação autónoma das nossas Forças Armadas e a pretender imprimir um rumo de especialização que afetará as capacidades nacionais", sustentou.
Rui Fernandes criticou ainda que esteja a ressurgir o tema do Serviço Militar Obrigatório "associado à guerra".
"Nesta matéria, o PCP está onde sempre esteve na consideração de um serviço militar com caráter obrigatório, mas numa lógica inserida nos desígnios constitucionais de paz, cooperação, de mais-valia para a capacitação do país e afirmação soberana - e não a partir de lógicas instrumentais ou reboque de outros", contrapôs.
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