Francisco Louçã voltou, na segunda-feira, à SIC Notícias, para comentar a crise política que o país vive, depois de o jornal Expresso ter revelado que o grupo Solverde paga uma avença mensal de 4.500 euros à empresa Spinumviva, dos filhos e da mulher de Luís Montenegro, com quem o primeiro-ministro é casado em comunhão de bens adquiridos.
O antigo Conselheiro de Estado não tem dúvidas de que "o Governo é o epicentro deste conflito". "Gerou-o e Luís Montenegro é o cabeça desta crise", acrescentou. Por isso, ao ir para eleições, como Louçã acredita que o primeiro-ministro quer desde a noite das eleições, "não se pode apresentar como vítima".
"O Governo quer eleições [...], Luís Montenegro pensou logo na noite das eleições - faz na próxima segunda-feira um ano - como fazia um truque 'à António Costa'. Provocar uma crise, pondo a culpa na oposição e fazer disso uma tentativa de reforço", afirmou, garantindo que o "guião está escrito" desde essa altura.
"Tentou-o no Orçamento, não resultou. E tentou agora, mas desta vez há uma diferença. António Costa provocou uma crise para ter maioria absoluta - coisa que Montenegro nunca conseguiria - mas com o Orçamento. Luís Montenegro ameaçou com a moção de confiança num caso de uma empresa que é uma avença de uma empresa de casinos e em que há uma aparência de promiscuidade, um conjunto de perguntas não esclarecidas sobre um comportamento pessoal dele que vai demonstrando cada dia condenável e insuportável", atirou ainda o fundador e antigo coordenador do Bloco de Esquerda (BE).
Para Francisco Louçã é importante então ter um apurado "sentido de responsabilidade", o que se traduz numa "investigação completa, muita informação, transparência completa e não se arrastar uma crise".
Dissolução da AR seria um "enorme peso" para Marcelo
Já sobre a posição do Presidente da República, Francisco Louçã defende que "tudo o que [Marcelo Rebelo de Sousa] não quer é uma sucessiva crise política".
"Ele já dissolveu o Governo vezes de mais, já dissolveu o Parlamento vezes de mais, já provocou eleições vezes demais. E, quando olhamos para trás, houve pouca ponderação como as crises políticas foram geridas. A terceira num mandato seria um peso enorme para ele", rematou.
Recorde-se que amanhã, quarta-feira, é debatida e votada a moção de censura do PCP ao Governo de Luís Montenegro. Os comunistas decidiram avançar com uma moção de censura depois de, no sábado à noite, o primeiro-ministro ter feito uma declaração ao país na qual admitiu avançar com uma moção de confiança ao Governo se os partidos da oposição não esclarecessem se consideram que o Executivo "dispõe de condições para continuar a executar" o seu programa.
Declaração feita pelo primeiro-ministro na sequência da polémica em redor da Spinumviva - até sábado detida pela sua mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, e filhos -, que recebe uma avença mensal de 4.500 euros do grupo Solverde.
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