No dia seguinte à queda do Governo, motivada pelo chumbo de uma moção de censura, o Conselho Nacional do Partido Social Democrata (PSD) reuniu-se e foi unânime em responsabilizar o Partido Socialista (PS) pela crise política.
No seu discurso, o presidente do PSD, Luís Montenegro, fez questão de assegurar que "não vai desistir" e está "para dar e durar". O (ainda) primeiro-ministro foi mais longe e assegurou que as eleições antecipadas devem-se ao "sucesso do atual Governo" e da sua própria "popularidade".
"A minha convicção é que a principal razão pela qual vamos ter uma dissolução da Assembleia da República, muito previsivelmente, e eleições antecipadas, a principal, a grande razão, aquela que não é assumida, mas verdadeiramente está por detrás do comportamento dos partidos que derrubaram o Governo, é simples e facilmente explicável às pessoas. A razão para esta situação é o sucesso do atual Governo e a popularidade do primeiro-ministro", atirou.
Sem nunca dizer o nome de Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, o líder do PSD criticou "os políticos que veem muito curto, que veem pouco, que olham pouco para o país", considerando que estão "a trair o que verdadeiramente é o interesse nacional".
Também José Pedro Aguiar-Branco lançou críticas a Pedro Nuno Santos, acusando-o de ter feito "pior à democracia em seis dias do que André Ventura em seis anos".
No seu discurso, e fazendo questão de salientar que falava na qualidade de militante do PSD e não na de presidente da Assembleia da República, Aguiar-Branco disse não considerar normal que "um líder de um partido fundador da democracia" possa dizer o que se pode ou não fazer fora da política ou que um deputado se possa "substituir à Polícia Judiciária ou ao Ministério Público, para perseguir outros deputados, ministros ou primeiros-ministros".
"O Chega inventou a técnica, o PS institucionalizou. O Pedro Nuno Santos fez pior à democracia em seis dias do que André Ventura em seis anos", considerou, segundo fontes presentes na reunião.
Presente no Conselho Nacional do PSD esteve também a ex-líder dos sociais-democratas, Manuela Ferreira Leite, que fez questão de deixar uma palavra de apoio ao primeiro-ministro.
"Vinha cá pedir para não desistir porque o país precisa de si", apelou, acrescentando que "o PSD nunca poderia alinhar em nenhuma decisão que não fosse a recondução de Luís Montenegro".
"Não acredito que o dr. Mário Soares ou o dr. Jorge Sampaio fizessem uma campanha na base do lançamento de lama. Nunca vi nada tão baixo na política portuguesa como aquilo a que assisto neste momento", disse ainda, referindo-se a antigos líderes dos socialistas.
A única crítica da noite veio pelo presidente da concelhia de Lisboa, Paulo Ribeiro, que questionou Montenegro se tinha "condições éticas e políticas" para se recandidatar.
O social-democrata criticou a forma como decorreram os trabalhos, comparando-as a "umas jornadas parlamentares", um protesto que já tinha sido feito à mesa por Luís Rodrigues, que encabeçou no último Congresso uma lista alternativa à da direção para o Conselho Nacional, e desistiu cerca da meia-noite de intervir.
Na resposta a Paulo Ribeiro, o primeiro-ministro disse que se não tivesse essas condições não se recandidataria e, à saída aos jornalistas, apenas disse: "Saio daqui muito confiante, mas já estava".
Recorde-e que a moção de confiança ao Governo foi anunciada pelo primeiro-ministro a 5 de março, na abertura do debate da moção de censura do PCP ao seu executivo, perante dúvidas levantadas quanto à vida patrimonial e profissional de Luís Montenegro e foi rejeitada na terça-feira com os votos contra do PS, Chega, BE, PCP, Livre e deputada única do PAN, Inês Sousa Real. A favor estiveram o PSD, CDS-PP e a Iniciativa Liberal.
A atual crise política teve início em fevereiro com a publicação de uma notícia, pelo Correio da Manhã, sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, - e que passou esta semana apenas para os filhos de ambos - levantando dúvidas sobre o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.
Leia Também: Averiguação preventiva não tem prazo e entidades podem recusar fornecer dados