Pedro e Helena Roseta viveram o cerco à Constituinte em lados "opostos"

No dia do cerco à Assembleia Constituinte, a 12 de novembro de 1975, Pedro Roseta chegou mais tarde ao parlamento e já não conseguiu entrar, apesar das várias tentativas de diálogo com os manifestantes que se aglomeravam em São Bento.

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© Lucas Neves/NurPhoto via Getty Images

Lusa
16/03/2025 09:07 ‧ ontem por Lusa

Política

Consituição

Lá dentro, a mulher, Helena Roseta, encontrava-se retida, como a esmagadora maioria dos 250 deputados, impedidos de sair pela multidão que se agitava cá fora.

 

Cerca de 100.000 manifestantes, maioritariamente trabalhadores do setor da construção civil, segundo a imprensa da época citada no 'site' da Assembleia da República, exigiam um contrato coletivo de trabalho, entre outras reivindicações a que várias comissões davam expressão.

"Fiquei na pior situação", afirmou Pedro Roseta, 81 anos, durante uma conversa com a Lusa, realizada na biblioteca do parlamento, em que participaram também Helena Roseta e duas das três filhas, Filipa (vereadora na Câmara Municipal de Lisboa) e Catarina (investigadora na área do ambiente).

Encarregado pela direção do PPD, liderada por Francisco Sá Carneiro, de tratar de outros assuntos, o deputado constituinte passou o cerco a andar "de um lado para o outro", na sede do partido, em Lisboa, desdobrando-se em contactos para tentar desbloquear a situação, goradas todas as tentativas de transpor a manifestação para se juntar aos colegas.

"Quando cheguei cá, apesar de tudo (eu só era duro no debate), não me saí mal. Pensei sempre, e não me enganei, até pela forma como falava e pelos valores que transmitia, que eles evitariam matar-me ali. Mas, agora o que podia ter acontecido...", deixou no ar o jurista, indicando que chegou a ter G3 apontadas numa das sessões de esclarecimento que fez pelo país.

"Expliquei a situação e eles - Não. Você quer entrar? Então, não entra!", relatou Pedro Roseta, recordando os insultos que temperaram a conversa. "Foi uma situação delicada".

Nas palavras de Helena Roseta, o cerco à Constituinte foi "o momento de grande confrontação", antes do 25 de novembro de 1975, data que assinala o início do fim do Período Revolucionário em Curso (PREC): "Estes momentos foram todos muito tensos".

No dia do cerco, Catarina Roseta completava cinco anos. Ao contrário da mãe, não se recorda de ter ficado sem festa de aniversário.

A primeira memória que tem da vida, contou a investigadora, é de "um pesadelo com tanques", o que Helena Roseta atribui às imagens que constantemente passavam na televisão.

Lembra-se também de que quando os pais iam jantar a casa era "um dia de festa".

Filipa Roseta não tem memórias deste período, mas a mãe mantém a viva imagem de a filha se lhe ter dirigido, com apenas dois ou três anos, nos seguintes termos: "Estou farta da república!".

"A televisão estava sempre a dar aquela marcha militar tará-tará-rá-rá-rá... E elas queriam ver os desenhos animados", recordou a deputada constituinte, referindo-se à música que foi adotada como hino do Movimento das Forças Armadas (MFA), a seguir ao 25 de Abril de 1974, "A Life on the Ocean Wave".

Leia Também: A herança da Constituição na perspetiva de Filipa e Catarina Roseta

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