Governo quer afastar comunidades locais das ilhas da Ria Formosa

A renaturalização das ilhas barreiras da Ria Formosa promovida pelo Governo visa demolir habitações, afastar as comunidades locais e abrir o caminho para futuros "investimentos turísticos topo de gama", criticou hoje o deputado do PCP Paulo Sá.

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Lusa
10/01/2015 21:18 ‧ 10/01/2015 por Lusa

Política

Paulo Sá

O parlamentar comunista chefiou hoje uma delegação do PCP que se reuniu em Faro com associações de moradores de dois dos núcleos habitacionais de ilhas da Ria Formosa (Culatra e Faro) e, no final, explicou à agência Lusa que o objetivo passa por "reunir o máximo de informação" sobre o impacto da decisão do Governo de avançar para a demolição de residências em domínio público situadas nas ilhas barreira.

Esta informação, complementada com a que for recolhida na segunda-feira e no dia 19 janeiro em encontros com representantes de outros núcleos, servirá para o PCP sustentar depois a ação partidária ao nível municipal e da Assembleia da República, acrescentou Paulo Sá.

O deputado considerou que a opção do Governo de avançar com as demolições tem "por detrás interesses económicos poderosos" e "põe em causa as atividades económicas" tradicionais ligadas à Ria Formosa e que sustentam grande parte da população desses núcleos.

Paulo Sá lamentou que, de todas as intervenções previstas no âmbito da Sociedade Polis da Ria Formosa, o Ministério do Ambiente apenas "tenha decidido avançar com as demolições" e tenha "esquecido e abandonado" aquelas que podiam apoiar as atividades económicas na ria, como a dragagem de canais ou a melhoria das condições de navegabilidade e de atracagem nos núcleos residenciais.

O deputado refutou o argumento do Governo de que as demolições apenas afetam segundas habitações, afirmando que lhe "foram dados a conhecer casos de pessoas que estão a ser visadas e as suas residências são permanentes" e referindo que o PCP "não faz distinção entre segundas e primeiras" habitações.

"A questão deve ser abordada no conjunto. A nossa posição é a de que é uma realidade histórica a existência destas comunidades aqui [nas ilhas barreira], que elas utilizam as ilhas quer como espaço de atividade económica ou de apoio à atividade económica, quer como espaço de lazer, e essa realidade deve ser tida em conta", justificou, frisando que "é compatível fazer isso e defender o ambiente e proteger os valores ambientais" da Ria Formosa.

Paulo Sá considerou que, "em vez de destruir e demolir para renaturalizar", o Governo devia "avançar no sentido de requalificar os núcleos urbanos nas ilhas barreiras" e "apoiar e incentivar as atividades económicas ligadas à ria".

Só na comunidade da Culatra, referiu, os dados apontam para a existência de "90 [atividades] de pesca artesanal e 100 de pesca costeira", o que representa "cerca de 200 pessoas e suas famílias" ligadas à pesca e à apanha de marisco.

"A renaturalização da ria coloca em causa esta atividade económica, que é uma atividade muito importante em termos regionais, e deve ser acarinhada e apoiada", defendeu Paulo Sá, considerando que o Governo está a criar condições para que esta atividade desapareça gradualmente e para que seja depois possível avançar com projetos turísticos topo de gama, como o da Quinta do Lago.

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