'Sekiro: Shadows Die Twice'. Está à altura do desafio?

Conhecida pela trilogia ‘Dark Souls’, a FromSoftware oferece uma nova experiência que é tão distinta como estranhamente familiar. ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ promete ser um teste às habilidades mesmo dos fãs mais ávidos do estúdio nipónico.

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Miguel Patinha Dias
12/04/2019 11:55 ‧ 12/04/2019 por Miguel Patinha Dias

Tech

Análise

Os jogos que compõem a trilogia ‘Dark Souls’ são frequentemente apontados por uma boa quantidade jogadores como os mais difíceis que alguma vez jogaram. Pois bem, o estúdio FromSoftware voltou à carga e mostra que é sempre possível ir mais além e apresenta o seu desafio mais exigente até à data. Tanto que certamente ninguém o censurará se não o conseguir acabar. E não, não é um exagero.

‘Sekiro: Shadows Die Twice’ é particularmente distinto não só da série ‘Souls’ como também de ‘Bloodborne’ e, no entanto, apresenta uma temática estranhamente familiar e de acordo com o legado do estúdio nipónico liderado por Hidetaka Miyazaki.

A narrativa de ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ é sem dúvida uma das mais trabalhadas no passado recente da FromSoftware, apresentando como protagonista um ninja conhecido simplesmente como Wolf no período Sengoku no Japão, desolado pela guerra.

É no meio desta guerra que Wolf se vê envolvido, procurando salvar o seu senhor raptado antes do início do jogo, uma criança de nome Kuro. A história ainda é simples mas os temas de lealdade, redenção e sacrifício aguentam-se bem, com o fator distintivo a ser os elementos de fantasia característicos da FromSoftware.

Mais do que isso, Miyazaki volta a aplicar neste ‘pano de fundo’ nipónico o habitual elemento decadente, mostrando horrores de guerra raramente exibidos numa cultura reconhecidamente vista como nobre e elegante. Os fãs de filmes do realizador Akira Kurosawa como ‘Seven Samurai’ facilmente reparararão na mesma linha estética em ‘Sekiro: Shadows Die Twice’.

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Duro de roer

A temática é uma das poucas semelhanças que os fãs da FromSoftware vão encontrar entre ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ e os outros jogos do estúdio. Mas não nos entenda mal, porque o jogo continua duro de roer. Dizemos mesmo mais, ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ pode muito bem ser o jogo mais difícil, desafiante, impiedoso e menos benevolente do estúdio nipónico.

Mais semelhante a ‘Bloodborne’ que ‘Dark Souls, ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ apresenta uma única personagem, sem qualquer espaço de escolha para melhorar atributos ou diferentes armas visto que só tem uma espada como arma principal. Estamos perante um verdadeiro jogo de ação onde o que é testado é somente a habilidade do jogador e não a consistência como a personagem é desenvolvida.

Os únicos atributos que pode melhorar são as barras de saúde, postura (já lá vamos) e ataque e só é possível fazê-lo à medida que vai eliminando bosses e mini-bosses, sendo que cada um deles é cautelosamente distribuído ao longo do jogo para que nunca esteja demasiado forte. Assim a FromSoftware garante que cada confronto é exigente, tenso e um teste às capacidades do jogador. Haverá pelo menos uma situação em todo o jogo em que contemplará a possibilidade de desistir por completo e ninguém o censurará por isso. ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ não foge à questão e só conseguirá seguir em frente com persistência e melhoria constante.

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Voltamos a enaltecer que ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ exigirá toda a sua experiência enquanto jogador e um tempo de reação afinadíssimo devido à mecânica principal do jogo. Ainda terá de se comprometer com cada tentativa de ataque e esquivar-se nos momentos certos mas, ao contrário de ‘Bloodborne’ e ‘Dark Souls’, o objetivo de ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ é ficar bem próximo dos inimigos e tentar defletir cada um dos ataques.

É ao defender-se de um ataque nos últimos momentos que o conseguirá defletir e, no caso do inimigo decidir começar uma combinação, deve fazê-lo antes de cada um. Isto acaba por tornar ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ mais semelhante a um jogo de ritmo, onde cada ‘saraivada’ de ataques é acompanhada de sons agudos de metal contra metal e faíscas a voar por todo o lado. É quando a barra de postura enche na totalidade, no topo do ecrã, que o inimigo deixará de conseguir defender e poderá aplicar um golpe fatal.

Nunca deixa de ser gratificante e serve bem como testemunho do caminho que percorreu e das lições que aprendeu até então.

Estas lições são, claro está, ensinadas a ‘custo’ em confrontos com os já mencionados bosses cujas lutas têm lugar em cenários que (eles próprios) inspiram medo e respeito do jogador. É provável que, de tantas tentativas para derrotar um boss, que os cenários lhe fiquem gravados na memória e, verdade se diga, muitos deles não são nada menos que épicos.

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Enquanto os bosses são autênticos testes de final de período, diríamos que os mini-bosses são fichas de avaliação intermédias. Significa isto que menosprezar algum dos mini-bosses resultará numa derrota total. Felizmente, ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ apresenta-lhe uma benesse que lhe permitirá corrigir um erro fatal.

Trata-se da possibilidade de ressuscitar. Depois de cair em batalha terá a opção de recomeçar a partir do último ponto de gravação ou ressuscitar no mesmo local, permitindo-lhe retomar a luta ou fazer uma retirada para recuperar o fôlego. Esta é mais uma forma que a FromSoftware encontrou para adicionar estratégia a ‘Sekiro: Shadows Die Twice’, dando sempre aos jogadores uma escolha que terão de assumir.

Morrer ou ressuscitar é uma escolha mais profunda do que pode parecer à partida. Ao longo da narrativa o jogador travará conhecimento com várias personagens, as quais podem vender itens ou proporcionar auxílio. São estas mesmas personagens que podem ficar com uma estranha doença caso ressuscite em demasia, uma consequência palpável que mesmo que possa ser curada com um item raro serve para que, enquanto jogador, pense nas consequências dos seus atos no mundo de jogo.

Um canivete suíço... à ‘mão de semear’

Mesmo que ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ seja um jogo mais ‘focado’ que os outros títulos da FromSoftware, os produtores introduziram um importante elemento que será certamente de grande utilidade: uma prótese de braço.

O protagonista fica sem um dos braços no início do jogo. O membro é substituído pela referida prótese que, mesmo discreta, é central no jogo e muda-o por completo quando comparado com os jogos anteriores da FromSoftware.

Esta prótese é usada para equipar em simultâneo no máximo três ferramentas com utilidades diferentes. Seja para lançar shurikens, soltar pequenos foguetes, expelir fogo ou até para fazer uso de um ‘guarda-chuva’ metálico, não faltam ferramentas para encontrar pelos cenários ou variações para desbloquear com materiais. De notar que estas ferramentas podem ser especialmente úteis contra diferentes tipos de inimigos ou combinar melhor com os distintos estilos de luta que o jogador decidir equipar, providenciando aos jogadores algum ‘espaço de manobra’ para criarem o seu próprio estilo.

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A prótese faz também uma importante adição à jogabilidade, nomeadamente sob forma de uma corda que o jogador poderá lançar para aceder a áreas inacessíveis. Além de proporcionar uma exploração mais vertical, esta corda também serve para expandir um elemento de ação furtiva que estava presente de forma muito discreta nos outros jogos da FromSoftware.

A Inteligência Artificial (IA) nem sempre é brilhante e apresenta frequentemente momentos de julgamento duvidável – não é normal que um inimigo não nos veja ao seu lado mas seja capaz de nos avistar a vários metros de distãncia – mas é sempre satisfatório eliminar todos os inimigos de uma área sem alertar ninguém. Nem sempre poderá tirar partido de uma abordagem discreta mas, sempre que é possível, vale a pena aproveitar esta pequena vantagem.

Considerações finais

É um lugar-comum dizer que um determinado jogo não é para toda a gente mas, se houver caso em que essa ideia se aplica, é em ‘Sekiro: Shadows Die Twice’. Mesmo que tenha alguma liberdade na forma como progride, este é o jogo mais linear alguma vez feito pela FromSoftware e indubitavelmente o mais focado. Contrariando o que muitos jogos fazem hoje em dia em que se procuram adaptar para apelar à maior quantidade possível de jogadores, ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ vai exatamente na direção contrária e pede uma mentalidade muito específica e habilidades afinadas para ser vencido.

Enquanto em outros jogos da FromSoftware era possível ter algumas ajudas através do modo online, esta possibilidade não está presente em ‘Sekiro: Shadows Die Twice’. Terá de contar apenas com o seu instinto e capacidade de reagir a ataques, defleti-los e contrariar na altura certa com as técnicas adequeadas.

Fica também claro que a equipa da FromSoftware se esforçou para melhorar a forma como conta uma história. Ainda assim, há elementos que podiam ter sido melhor explorados e conceitos clarificados. Fica a ideia que certas mecânicas poderiam ser explicadas mais eficazmente de modo que os jogadores não se sentissem tão ao ‘sabor do vento’.

Nota também para o departamento gráfico que, mesmo não proporcionando um detalhe fora de série, é elevado pelo design artístico da FromSoftware e oferece visões que certamente se manterão na memória por muitos anos. A banda sonora, por outro lado, não é tão consistente. Ainda que hajam temas com acordes apropriadamente relaxantes e fiéis à cultura nipónica, o tema de batalha rapidamente se torna exaustivo e, infelizmente, acaba por ficar na cabeça.

Pontos fortes

- Combate tenso vai colocá-lo à prova

- Exploração vertical com uso de corda

- Múltiplas próteses para descobrir e melhorar

- Estética japonesa

Pontos fracos

- Inexistência de níveis de dificuldade será mal vista por alguns jogadores

- Banda sonora podia ser mais rica

Ideal para…

‘Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura’. Se não tem problemas com o princípio por detrás deste provérbio então ‘Sekiro: Shadows Die Twice’ é um jogo para si. Independentemente do seu grau de familiaridade com os jogos da FromSoftware – até porque não é garantido que os fãs do estúdio nipónico sejam capazes de desfrutar – para gostar deste título deve sobretudo apreciar o desafio que ele proporciona. Não é um jogo com que seja possível relaxar e irá certamente resistir a que progrida mas, uma vez conquistado, ficará certamente como um dos seus maiores orgulhos enquanto jogador.

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