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"Há partidos com cabeças de lista para enfeitar. Andam a enganar o povo"

Carlos Teixeira, de 60 anos, candidato independente à Câmara Municipal de Lisboa, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

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Melissa Lopes
28/09/2017 08:45 ‧ 28/09/2017 por Melissa Lopes

Política

Carlos Teixeira

 

Carlos Teixeira, autarca de Loures entre 2001 e 2013, está na corrida autárquica de Lisboa como independente. Com o apoio do Partido Democrático Republicano (PDR), de Marinho e Pinto, e do Juntos pelo Povo (JPV), forma a coligação ‘Lisboa SIM’. Compromete-se a Servir (quem habita em Lisboa), a Intervir (baixando o custo de vida e da habitação) e a Melhorar (acabar com a EMEL para residentes).

Garante “disponibilidade total” para servir a capital e assegura que essa faceta, combinada com a larga experiência autárquica, o distinguem radicalmente dos outros candidatos que, acusa, “andam a enganar o povo” por nem sequer terem disponibilidade para ir a reuniões de Câmara.

O ex-autarca de Loures sabe que na capital “as exigências são outras”, mas, garante que não descansará até “encontrar soluções para os problemas”. Para isso, aponta como essencial a sua forma de estar na política: “sentir no terreno os problemas das pessoas”, ao invés da “política de gabinete” por muitos praticada. Assume “não ser um pássaro de gaiola, mas sim um pardal de telhado”. Carlos Teixeira apresentou a demissão do PS, partido do qual foi militante durante 31 anos, deixando um agradecimento às estruturas pela “oportunidade de ser candidato”. “Mas também só me deram a oportunidade, mais nada”, faz sobressair. Em Lisboa, pretende intervir em áreas como o emprego, a habitação e a mobilidade, não esquecendo o desporto: propõe inclusivamente a construção de uma cidade desportiva nos antigos terrenos da Feira Popular. 

Presidiu durante 12 anos ao município de Loures. Porquê agora Lisboa?

Lisboa é a minha terra. A terra onde nasci e onde cresci e estudei. Loures foi a terra para onde eu tive que me deslocar, foi lá que arranjei trabalho, em 1981, depois de cumprir o serviço militar. Trabalhei na Câmara Municipal durante seis anos. E quando saí de Loures, em 1987, prometi que havia de voltar. Como gosto de cumprir as minhas promessas, voltei como presidente. Loures diz-me muito, é uma terra muito especial. 

Fui desafiado para ser candidato à Câmara de Loures contra a vontade de muitos militantes do PS, nomeadamente Edite Estrela, coordenadora do partido na federação de Lisboa. Os militantes decidiram que havia de ser eu. Edite Estrela queria que fosse Moita Flores, Armando Vara, as estrelas do partido.

Eu era um homem simples, um homem do povo, um militante recente do Partido Socialista. Um anónimo mesmo dentro do PS e tornei-me presidente da maior câmara socialista de Portugal. Isso deu-me uma força enorme. Em 2005 reforcei essa vitória e, em 2009, bati o recorde de votação na área metropolitana de Lisboa, numa terra comunista por tradição. As estrelas do PCP são de Loures. E não foi por acaso.

Que legado deixou em Loures?

Loures tinha quatro pavilhões desportivos, em 22 anos de gestão da CDU, 10 anos depois, quando saí, Loures tinha 12 pavilhões. Em metade do tempo, construímos mais do dobro. A nível de centros de saúde, havia pedras lançadas em todo o sítio, mas os centros de saúde de São João da Talha e Santo António dos Cavaleiros, foram construídos na minha gestão. A nível de piscinas, havia um balão na cidade de Loures, onde se faziam umas provazitas, e hoje Loures tem quatro piscinas de grande qualidade. Há cem anos que o Hospital de Loures era reivindicado. Havia presidentes de câmara, da CDU nomeadamente, que tiravam fotografias, aparecendo constantemente nos jornais, juntamente com ministros, a anunciar a construção do hospital, mas nunca o fizeram. Porque entendiam que fazer este filme, esta publicidade, é que era importante. Agora não. Posso dizer que o Hospital de Loures está feito, já lá nasceram mais de 10 mil crianças, serve outros concelhos. O hospital foi, para mim, a maior vitória política. Hoje criticam porque a avenida que dá acesso ao hospital tem o meu nome. Não fui eu que escolhi, mas certamente que foi uma homenagem darem o meu nome, como acontece com outros autarcas noutros concelhos. Sinto-me satisfeito com aquilo que fiz.

Saiu do Partido Socialista só para concorrer agora a Lisboa? Foi só essa a razão?

Sim, não ficaria bem. Quando apresentei a minha demissão do PS, agradeci a todos, desde ao secretário-geral, ao coordenador da federação de Lisboa, ao presidente da comissão política de Loures, a oportunidade que me deram de ser candidato, mas só me deram a oportunidade, não me deram mais nada. Fui presidente da maior câmara socialista do país, e  nunca dei uma entrevista para o jornal do Partido Socialista. Havia colegas do PS que inauguravam centros de saúde ou bibliotecas e eram primeira página. Eu inaugurei 48. Nunca fui um autarca virado para a política partidária, não fui jota. Fui sempre um político dirigido para as pessoas. 

Concorre coligado com o PDR e o Juntos Pelo Povo. Quais são as suas expetativas? 

As sondagens não me dão 1%, mas não vou desmoralizar. O facto de vir para Lisboa tem a ver com um ciclo que se fechou em Loures. Há outros protagonistas, as pessoas em Loures entenderam que deveriam escolher uma outra pessoa que, certamente, terá mais qualidades que eu para derrotar a CDU e, não fazendo parte desse filme e morando em Lisboa já há alguns anos, decidi aceitar o desafio do PDR, em primeiro lugar. Apesar de uma estrutura pequena, estão empenhados em que tenhamos sucesso. Quisemos juntar mais alguém ao nosso projeto e apareceu-nos de uma forma muito agradável o JPP, que se associou a nós e permitiu formar a coligação 'Sim'.

Porquê 'SIM'?

Porque estamos disponíveis para Servir, para Intervir e para Melhorar. Não estamos aqui para dizer mal de quem quer seja. Temos maneiras diferentes de ver e resolver problemas. Preferia construir, por exemplo, o quartel dos bombeiros do Beato em vez de gastar três milhões de euros a fazer arranjos ao pé do Fonte Nova para retirar lugares de estacionamento. Isto é apenas um exemplo de como seria a minha gestão comparada com a de quem atualmente gere Lisboa.

Não sou um pássaro de gaiola, sou um pardal de telhado. Nunca me senti abandonado pelo PS porque também nunca precisei da ajuda do partido Disse que sempre que fez obra não foi notícia para o PS. Sentiu-se abandonado pelo partido ao longo destes anos?

Não, não me senti. Também nunca procurei ter padrinhos dentro do partido. Há muita gente que precisa de ter os apoios, eu nunca precisei disso. Os meus padrinhos são o povo, as pessoas que me escolhem. Assumo que não sou um pássaro de gaiola, sou um pardal de telhado. Gosto de andar na rua, ouvir e falar com as pessoas. Nunca me senti abandonado pelo PS porque também nunca precisei da ajuda [do partido]. Colaboravam comigo quando era preciso. Quando digo que nunca fui notícia quero dizer que também nunca andei à procura disso. Procurava ser discreto e fazer. Há muita gente que faz muito folclore. A candidata do PAN [a Lisboa], por exemplo, fala de coisas utópicas, histórias que eu conto aos meus netos para adormecer. É política de adormecer. É preciso ter pessoas no terreno que sintam, que vejam como há pessoas que passam fome. Eu não admito que haja um cidadão com fome. Em Loures não havia pedintes na rua, agora já há outra vez. Servíamos, em Loures, cerca de 600 refeições por dia. E isso não foi para o espectáculo, fazíamos o bem pelo bem.

Quando eu lá estava, as pessoas sabiam que podiam entrar e falar com o presidente, hoje é gente fina que não tem disponibilidade para as pessoas. Há partidos políticos que se limitam a ter cabeças de lista para enfeitar e depois não vão às reuniões de câmara.

Refere-se à candidata do PSD, Teresa Leal Coelho?

Também. A Teresa Leal Coelho é deputada, era a número dois do PSD no mandato anterior, foi a duas reuniões. Isso é uma falta de respeito pelas pessoas que elegem. A Assunção Cristas é uma excelente política, uma excelente pessoa, mas é secretária-geral do partido, é deputada, vai ligar alguma coisa à câmara quando for eleita? Vai ter tempo para ir às reuniões? Não, é mentira, andam a enganar o povo. O da CDU, João Ferreira, como é que pode ser deputado europeu e vereador em Lisboa? A CDU é a aldrabice completa, esta gente engana as pessoas de uma forma clara. Alguém minimamente inteligente não vota na CDU. Como é que ele pode estar a defender os interesses dos portugueses na Europa e estar cá ao mesmo tempo? No PDR, por exemplo, o Marinho e Pinto é deputado europeu e mais nada. Assumiu o seu compromisso com o eleitorado, podem uns gostar dele e outros não, mas assumiu o compromisso. Os outros andam a enganar o povo.

No seu caso, estará sempre inteiramente disponível?

Se for eleito, vou cumprir sempre a minha função. Como a minha número dois, a Isabel Elias, que foi vereadora no mandato de Carmona Rodrigues, não faltou a uma reunião. Assumiu a sua função. Esteve presente, daí fazer parte da minha equipa. O nosso compromisso é estarmos presentes. Essa disponibilidade é importante, nós somos os representantes das pessoas. Toda a gente que escolhi para as juntas de freguesia e assembleia municipal, está disponível.

É isso que o distingue dos outros candidatos à CML? Experiência e disponibilidade?

Experiência e disponibilidade total. Não se pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. Quando se tenta fazer duas coisas ao mesmo tempo, há uma que fica para trás. O trabalho autárquico é muito exigente. Aqui em Lisboa, há um desrespeito total pelo cidadão. Não quero acusar ninguém, mas é importante que os autarcas locais se preocupem. Fui ao campo do Palmense, clube onde joguei quando era jovem, tinha mato nas bancadas de quase de um metro. O clube pode não ter capacidade, mas tem a autarquia local que deve ajudar o clube.

Desprezam-se as pessoas, os palácios são arranjados, tudo é arranjado, e as pessoas são esquecidas, é só para turista ver. Se alguém quiser ir a um hotel cá em Lisboa tem de pagar taxa turística. É uma coisa surreal. Não consigo entender como é que as pessoas estão sossegadas e continuam a acreditar neste sistema.

Como é que resolveria, por exemplo, o problema da habitação em Lisboa, de forma a que os mais jovens e os mais carenciados, vivam na capital sem terem todos os meses uma corda ao pescoço?

Há várias maneiras de resolver isso ou de ajudar a resolver. A habitação é um direito constitucional, todas as pessoas tem direito a ela. É responsabilidade, primeiro, do Governo do país. Conseguiram-se fundos comunitários para tudo, menos para a habitação. Foi sempre algo descurado pelos vários governos de Portugal. Conseguiu-se dinheiro para fazer autoestradas, mas para casas para as pessoas não se conseguiu. É responsabilidade do Governo e das autarquias criar condições para primeira habitação.

A Câmara de Lisboa tem cerca de 24 mil fogos e tem quase 90 mil pessoas a habitar essas casas municipais. E há cerca de 15, 20 anos que não se constrói um apartamento em Lisboa. Acabou-se com a EPUL (Empresa Pública de Urbanização de Lisboa), nomeadamente a EPUL jovem que devia ser reativada, principalmente para proporcionar o arrendamento de casas. 

Há contratos de arrendamento que se podem fazer com os jovens, progressivos, indexados ao seu salário, como se faz na habitação social. Um exemplo, o meu filho vai ter de sair da casa onde está porque o senhorio decidiu fazer alojamento local. Anda à procura de casa em Lisboa e não consegue por menos de 800 euros.

Que outras situações identifica em Lisboa, que precisam de ser corrigidas?

É difícil viver em Lisboa, o dia a dia de levar os filhos à creche, de encontrar estacionamento, do trânsito. Depois aparece a EMEL. É um conflito permanente esta cidade. A cidade tem de ser dos lisboetas e não entrar em conflito com quem habita nela. Têm de ser os políticos os orientadores desse princípio: a cidade amiga das pessoas. Neste momento, a cidade está a ser inimiga, está a afastar a população de todas as formas. As pessoas ficam nervosas, há cada vez mais acidentes, há filas incontornáveis no trânsito, o metro nas horas de ponta está completamente apinhado, há pessoas com bebés a quererem entrar e não conseguem. 

Esse esquecimento das pessoas estará relacionado com a aposta que tem sido feita na área do turismo? Que visão tem do turismo?

O turismo é muito importante. Traz receitas e dá vida à própria cidade. Mas também ter que ser dada a oportunidade aos lisboetas, e aos portugueses, de tirar proveito do turismo. Por exemplo, a nível dos tuk-tuk. Quem os licencia é o Turismo de Lisboa, depois quem passa as licenças para estacionar é a Câmara. Por cada quatro carros licenciados, há um lugar de estacionamento. Depois, as forças de segurança, cumprindo a sua obrigação, andam em cima destes veículos e de quem os conduz porque estão mal estacionados, estão fora de zona. Não há uma regulamentação clara que defina as regras do jogo.

Defendo o turismo mas é importante prepararmo-nos para a eventualidade de isto não durar sempre. As pessoas são praticamente as mesmas que vão circulando por toda a Europa. É importante preparar o futuro. Quando este tipo e turismo acabar, vão ficar, certamente, muitas infraestuturas por utilizar.

É preciso estabelecer limites e que a Câmara tenha autonomia e capacidade de definir tetos máximos para utilização de turismo. Faz-se a reabilitação de muitos edifícios mas para dedicar ao turismo. Há um grande investimento nessa área, mas não se faz reabilitação das casas do parque habitacional.

Pretendo ser a voz e dar voz às pessoas que não têm oportunidade de falar, que quando chega à vez delas já acabaram as fichas. Não irei parar enquanto não encontrar soluções.

Já estou habituado, nunca ganhei eleição nenhuma em sondagens, mas no voto ganhei sempre, que é uma coisa engraçadaEncontrar soluções enquanto presidente ou vereador da Câmara? 

No mínimo, espero ser vereador. E não é só eleger um. Apesar das sondagens mostrarem que são sempre os mesmos a ganhar... Já estou habituado, nunca ganhei eleição nenhuma em sondagens, mas no voto ganhei sempre, que é uma coisa engraçada. Estamos em crescendo, estamos a começar, é a primeira vez que esta coligação vai concorrer, não temos histórico, não temos passado, mas temos identidade. E a identidade são as pessoas que connosco concorrem quer em Sintra, quer em Loures, quer em Cascais. O nosso objetivo é, conforme diz a nossa sigla, servir, intervir e melhorar.

Notícias ao MinutoCarlos Teixeira afirma-se como um candidato experiente que estará sempre disponível © DR

Relativamente aos transportes públicos em Lisboa. A proposta de Assunção Cristas para alargar a rede de metro em 20 estações parece-lhe viável?

A Assunção Cristas não propõe nada de novo. Todas as estações estão previstas, ela foi ver os estudos que estavam feitos e disse, como qualquer um pode dizer. Agora, é importante que dissesse qual é a primeira estação a ser feita, depois a segunda, a terceira e por aí diante. Porque estes políticos de bancada, da Assembleia da República, estão habituados a propor porque não têm responsabilidades governativas. Todas as estações do metro são precisas. É importante é que os políticos estabeleçam prioridades e digam qual deve ser a primeira a ser feita. Eu digo: Telheiras – Carnide ou Pontinha, para fazer o círculo. 

É preciso que haja dinheiro também.

Sim. Por isso é que é preciso definir prioridades. O dinheiro vai aparecendo. Como é que se fizeram as outras estações? Ora, nós podemos pagar a dívida não fazendo obras. O Salazar também fazia isso. Atrasou o nosso país, não fazia nada, não gastava dinheiro, punha no mealheiro. Como a CDU faz em Loures, mete tudo no mealheiro, não faz obra e diminui a dívida. Não. A dívida é para ser gerida.

Quando começamos a nossa vida adulta, endividamo-nos, Portugal está endividado. Falamos da dívida como se fosse um mal, mas a dívida é um bem necessário, é antecipar o futuro. Há a dívida boa, que resulta de investimento, e, portanto, vê-se para onde foi o dinheiro, há obra. O problema é quando há dívida e não se sabe o que é que se fez. Na minha visão, deve antecipar-se o futuro e, depois, a dívida vai-se pagando. Podemos ter divergências de opinião e de opção. Aqui em Lisboa, eu isentava os parquímetros do lado direito e do lado esquerdo seria a pagar, ou vice-versa. Agora dizerem que punham os dois gratuitos... Certamente que não é possível fazê-lo.

Se for eleito, vai acabar com parquímetros?

Somos contra os parquímetros, mas em determinados locais. E somos contra o abuso que existe designadamente as tarifas que são pagas. E contra a perseguição que é feita aos condutores de automóveis.

Há um novo fundamentalismo em Lisboa que é o fundamentalismo 'EMELiano'. É uma guerrilha aquilo que fazem às pessoasRefere-se à "perseguição" feita pela EMEL?

Sim. Há um novo fundamentalismo em Lisboa que é o fundamentalismo ‘EMELiano’. É uma guerrilha aquilo que fazem às pessoas. Nem os contactos telefónicos nos parquímetros estão atualizados. Acho que é de propósito. Esta perseguição aos cidadãos é incorreta. Aceito que haja em determinadas zonas, em zonas históricas, em zonas que o trânsito não seja aconselhável. É importante fazer os parques dissuasores nas fronteiras dos vários municípios com Lisboa. Isso é uma competência que já está delegada na autoridade dos transportes da junta metropolitana de Lisboa e que, apesar de estar constituída, de ter pessoas a receber salário (um representante do PS, um da CDU, um do PSD), não fazem nada.

Podia arranjar-se uma solução deste género: Por cada litro de gasolina gasto, um cêntimo podia reverter para a CarrisE em relação à Carris, o que faria? Privatizava?

Temos o exemplo do Barreiro. Um dos grandes problemas lá é o transporte municipal que não faz a ligação a outros meios de transportes. A câmara tem feito um esforço enorme para manter esse transporte municipal. É sempre difícil ser o município a assumir essa responsabilidade. Entendo que a responsabilidade da Carris devia ser da Junta Metropolitana. A propósito de quê é que é a Câmara de Lisboa a gerir a Carris? Devia ser uma responsabilidade metropolitana. E em vez de andarmos a taxar nos parquímetros, podia arranjar-se uma solução deste género: por cada litro de gasolina gasto, um cêntimo podia reverter para a Carris. Esse cêntimo daria para sustentar a Carris e subsidiar as pessoas que realmente andam de transportes públicos. 

Tem faltado inteligência a quem governa?

Há pessoas muito inteligentes e certamente muitas ideias têm surgido. Idiotas há muitos, políticos é que há poucos. Por vezes, não se consegue pôr em prática por falta de financiamento, também não podemos ser utópicos, mas é importante que haja uma união entre os autarcas. Cada um continua a puxar para o seu lado.

Notícias ao MinutoSai do PS, ao fim de 31 anos,  para abraçar um novo desafio como independente© DR

Falando do polémico duplex de Fernando Medina, um assunto que fez correr muita tinta. Considera este um facto relevante nestas eleições autárquicas?

Não é relevante. As declarações entregues no Tribunal Constitucional (TC) sobre rendimentos são anuais. Fernando Medina não teria de apresentar, ao comprar o apartamento, imediatamente a declaração a dizer que comprou o apartamento, se a declaração é anual. Podem ser apresentadas até fevereiro de cada ano. E, portanto, Fernando Medina tem toda a legitimidade para apresentar a declaração da aquisição do imóvel até essa data. Não tinha de o fazer agora a meio deste ano. As pessoas deviam estar mais preocupadas em encontrar soluções para os problemas, em vez de andarem a fazer denúncias destas.

Tendo sido, como afirma Medina, uma denúncia anónima que surgiu de uma estrutura partidária, considera que foi feita com o intuito de denegrir a imagem do autarca candidato?

É daquelas coisas da política em que eu não me revejo. Quando se quer ganhar, tem que se ganhar com ideias, com projetos e com credibilidade. Não é denegrindo a imagem dos outros. Já estou habituado a que isso aconteça.

Já aconteceu consigo?

Diziam que eu tinha a família toda em Loures. Foi a imagem que passou de mim. A minha mulher era funcionária dos serviços camarários há 30 anos, eu não tinha de a despedir. E quem diz isso também tem lá a mulher, a prima, etc. Todos podiam ter menos o Carlos Teixeira. Quando eu e a minha mulher fomos trabalhar para os serviços municipalizados, em 81, fomos através de um concurso público. Nunca gostei de alimentar essas polémicas. Essa situação que levantaram ao Fernando Medina é vergonhosa e não vem a propósito. 

André Ventura é uma pessoa que não tem educação e que quer protagonismo a todo o custo.  É desprezívelDe uma polémica para outra. O que lhe apraz dizer sobre o candidato a Loures André Ventura?

O André Ventura tem a legitimidade que a liberdade lhe vai proporcionando. É uma pessoa que não tem educação que quer protagonismo a todo o custo. É inadmissível como é que há pessoas destas a quem lhes é dado palco na televisão. Não tem respeito pelos outros, tem falta de educação. Tem a sua maneira de ser e de estar na vida, mas lamento que tenha este tipo de atitudes. Há pessoas para tudo, há assassinos, há ladrões e há pessoas mal educadas. É simplesmente uma pessoa mal educada que pretendeu usar todos os meios para ser ouvido. Essas pessoas precisam de falar nos outros para se evidenciarem. Só as pessoas de mente fraca é que utilizam esses meios. Não tenho nem terei prazer em conhecê-lo. É desprezível.

Mas há, ou não, problemas de integração da comunidade cigana, em Loures?

Ele quer falar nisto porque não faz ideia. A nível do Rendimento Social de Inserção (IRS), a comunidade cigana representa apenas 4% no país. É um rasgo de ignorância total. Ao usar esse argumento está também a ofender todos os outros que vivem deste rendimento. As  pessoas podem achar piada ao que ele diz. Mas em Loures, comigo, todos tinham direitos e todos tinham deveres. Se não pagavam a água, a água era cortada. Não havia ‘gaitas nem gaitinhas’. Houve, inclusivamente, uma manifestação porque eu não cedi. Quando não pagavam as rendas, iam para tribunal imediatamente. Não havia facilidades nem impunidades. Ele enganou-se no concelho. Em Loures, nunca houve impunidade e sempre houve um excelente relacionamento com a comunidade cigana, como havia com qualquer outra comunidade.

O tema dos ciganos foi uma maneira de André Ventura dar nas vistas. Foi mesmo à ‘gandino de segunda’, como se diz no meu bairro. A comunidade cigana, como todas as outras, tem pessoas boas e pessoas más.

O que é que fez, no tempo em que foi presidente, para melhorar a integração desta comunidade em Loures?

Com o o contrato local de segurança, que a partir de 2009 passou a ser competência da vereadora Sónia Paixão [atual candidata do PS a Loures], foi feito um trabalho excelente que envolveu toda a comunidade, escolas, empresas, rodoviária... Pusemos as pessoas a praticar desporto. Tínhamos ciganas a praticar esgrima. Nós integrámos. Apareceu um desestabilizador. O governo do PSD e do CDS, que governou entre 2009 e 2013, desintegrou o contrato local de segurança. E esta gente vem agora falar e só dá tiros nos pés. 

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Bernardino Soares afirmou que quando chegou à Câmara de Loures se deparou com uma "dívida gigantesca", "uma estrutura completamente desorganizada" e "muitas injustiças". Como comenta estas acusações?

Ele realmente chegou lá, nem estava à espera de ser eleito. Em 2001, Loures era o segundo município mais endividado do país. Não foi preciso ele fazer auditorias. Era recorrente em primeiro lugar Setúbal e em segundo lugar Loures. Resultado de 20 e tal anos de gestão da CDU. Não me queixei, não disse mal de ninguém, fui eleito foi para resolver problemas. Quando o senhor Bernardino chegou a Loures, encontrou o município no top 10 com capacidade financeira. Eles é que são uns incompetentes que não conseguem fazer nada, zero.

Naturalmente que Loures tinha dívida, alguma ainda vinha do tempo deles. Quando entrei, tínhamos 72 milhões de euros de dívida, quando saí deixei a dívida em 48 milhões. E quando chegámos lá, havia essa dívida, mas estava tudo por fazer, as escolas estavam a cair.

Tem pena de não ter podido continuar a ser presidente de Loures?

Fui muito feliz em Loures, não nego. Fui derrotado pela Assembleia da República, pela lei da limitação dos mandatos.

Não concorda com essa lei?

Nunca concordei, desde o primeiro dia. Porque, por exemplo, os deputados entram de calções e saem de bengala. Quem fez a lei foram aqueles que se perpetuam no poder. A maior parte dos deputados ninguém conhece, nunca deram a cara. Fazem leis sem nunca sequer sentir no terreno que lei estão a fazer. Quando se faz alguma coisa, tem que se sentir. É preciso sentir, estar no terreno, envolver as pessoas, é preciso dar um abraço à velhinha e ao menino da primeira classe e que, anos mais tarde, nos reconhece. Uns dizem que é ser populista, mas não, é estar próximo e sentir os problemas das pessoas.

O que espera que possa vir a acontecer neste novo capítulo da sua vida, nestas eleições em Lisboa?

Não é fácil, a nossa estrutura é jovem e não é tão organizada quanto a dos outros partidos. Não temos candidaturas a todas as freguesias, quisemos ir com os pés assentes no chão, temos 14 candidaturas e temos boas hipóteses de dar luta em algumas delas, elegendo pessoas para as assembleias de freguesia. Temos ideias interessantes, não há uma ideologia definida por quem quer que seja. Dei a liberdade aos candidatos para escolherem a sua equipa. Dei uma ou outra sugestão. As equipas estão a ser constituídas por cidadãos que, na sua esmagadora maioria, nunca estiveram na política. 

É importante para revigorar a política?

Sim. Aqui quando alguém levanta o braço não faço ideia do que vai dizer. E isso dá-me a possibilidade de alargar os horizontes. Em Lisboa é diferente [de Loures], é outro mundo, as exigências são outras. Temos de ter a capacidade de receber, não só os estrangeiros, como todos os portugueses que visitam Lisboa. Já houve, durante o verão, colaboração da polícia espanhola, dado o número de turistas. Esse é um bom exemplo e há outros que se podem levar por diante, em colaboração do Governo com os municípios.

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