Ricardo Robles, de 39 anos, é o candidato do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Lisboa. O engenheiro civil é deputado municipal do Bloco em Lisboa e promete dedicar os próximos quatro anos à capital, abdicando de desafios nacionais, para assumir total responsabilidade na autarquia lisboeta.
Com os motes de transparência, transportes e habitação na campanha, Ricardo Robles pretende que Lisboa seja melhor para os lisboetas, descomplicando a vida daqueles que vivem e trabalham na capital.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o candidato do Bloco de Esquerda a Lisboa falou da governação de Fernando Medina, do que ficou por fazer e do que poderia ter sido feito. Porém, mostrou-se disponível para um acordo, uma viragem à Esquerda também em Lisboa, para ver os seus objetivos cumpridos.
O Partido Socialista está há 10 anos na governação da autarquia de Lisboa. Que balanço faz desta década?
Foram 10 anos, oito anos em maioria absoluta, e esse é o balanço mais importante que fazemos nestas eleições autárquicas. Sabemos que há coisas que melhoraram, com certeza, mal seria. Mas, o que era mais importante na vida das pessoas, a habitação, os transportes, o trânsito, o estacionamento, as creches, as escolas, ficou tudo por fazer. Nós olhamos para os programas do PS de 2007, 2009, 2013 e vemos propostas que agora voltam a ser apresentadas e foram exatamente as maiorias absolutas do PS, em Lisboa, que deram o poder absoluto para não cumprir o que era mais importante. Portanto, a questão da maioria absoluta é fundamental nestas eleições.
Podemos dizer que essa maioria absoluta fez mal à cidade?
Nestes pontos que referi, sim, porque não resolveram, e em alguns casos agravaram, por exemplo a questão da habitação. Sabemos que há uma responsabilidade direta do anterior governo, de Passos Coelho e Assunção Cristas, na lei do arrendamento urbano ou dos Vistos Gold, mas a Câmara tinha instrumentos para fazer muito mais e, não tendo resolvido, agravou alguns destes problemas, nomeadamente na questão da especulação imobiliária em que o património da Câmara entrou nesta lógica, neste mercado especulativo e agravou o preço da habitação em Lisboa.
Fernando Medina tem uma característica que marca os seus dois anos de mandato: a incapacidade de ouvir os lisboetasFernando Medina esteve à altura de António Costa quando passou a presidente da Câmara?
São mandatos diferentes, são lideranças diferentes. Julgo que Fernando Medina tem uma característica que marca os seus dois anos de mandato. Há uma grande continuidade de políticas, naturalmente, mas há uma característica que é a incapacidade de ouvir os lisboetas, uma autossuficiência de quem não precisa da participação dos lisboetas.
Nas últimas eleições, o Bloco não ficou muito longe de conseguir uma vereação. A atual conjuntura pode ajudar a que o resultado seja melhor do que o de João Semedo?
Tudo aponta que sim, os dados que temos e a simpatia das pessoas na rua mostram que há uma conjuntura diferente, ou seja, o panorama político nacional também influencia as eleições autárquicas e as pessoas no país sabem que a sua vida melhorou porque não houve uma maioria absoluta do PS em 2015 e por ter havido uma alternativa ou um compromisso à Esquerda que permitiu melhorar em muitas coisas. As pessoas reconhecem isso.
Acho que na cidade de Lisboa as pessoas vão ter essa perceção quando tiverem de optar por uma maioria absoluta que se volta a esquecer delas ou por dar força ao Bloco de Esquerda para poder estar na Câmara e pôr em cima da mesa o que é prioritário.
Tal como no país, haverá a possibilidade da existência de uma 'mini-geringonça' em Lisboa? O Bloco está disponível para isso?
O Bloco está disponível para uma viragem política à Esquerda na cidade. O que é que isto significa? Significa que no que é prioritário - habitação, transportes, escolas, estacionamento e trânsito -, se nos sentarmos à mesa e conseguirmos encontrar prioridades nestes eixos, então é possível que o Bloco de Esquerda consiga fazer parte de uma solução na cidade de Lisboa.
Esbarrámos sempre no muro da maioria do PS e não foi possível ir mais longeA 'transparência' é um dos seus principais motes para a campanha. Falta transparência na governação da capital?
A maioria absoluta também padece desse problema, convive mal com a transparência e o poder absoluto permite tomar decisões mesmo que elas não garantam transparência nem participação. Tivemos muitos exemplos na cidade de Lisboa, o Hospital da Luz do grupo do BES Saúde, o grupo Mello em Alcântara, a Torre de Picoas na Fontes Pereira de Melo, o prédio na 24 de Julho. São tudo processos em que o interesse da cidade não foi devidamente acautelado e o Bloco de Esquerda bateu-se, na Assembleia Municipal, para que isto fosse escrutinado e houvesse transparência. Esbarrámos sempre no muro da maioria do PS e não foi possível ir mais longe.
A questão do Hospital da Luz, por exemplo, foi uma das suas grandes bandeiras de pré-campanha. Há muito por explicar num caso em que se destruiu um quartel de bombeiros para expandir um hospital privado?
Sim, há muito por explicar. É difícil de compreender como é que o quartel mais moderno da cidade, onde estão também o museu dos bombeiros e a central de telecomunicações mais importante em termos de emergência de Proteção Civil, que custou 12 milhões de euros, foi destruído.
De um momento para o outro, o plano pormenor da zona de Benfica é alterado para que o BES Saúde (na altura proprietário do Hospital da Luz) pudesse expandir-se para a zona onde está este quartel que é um equipamento moderno que é essencial para a cidade. O plano pormenor é alterado, há uma hasta pública, só surge um concorrente e ganha um euro acima do valor base. Isto tem tudo menos transparência.
Ainda no tema da transparência, o que tem a dizer sobre a questão do apartamento de Fernando Medina?
A questão está explicada, porque Fernando Medina mostrou todos os documentos, prestou os esclarecimentos necessário. Julgo que está explicado.
Uma cidade em que não é possível garantir que se chega ao outro ponto para um encontro, compromisso, trabalho, escola, é uma cidade em falênciaNo que toca aos objetivos do Bloco de Esquerda, quais as principais prioridades para a cidade de Lisboa?
Nós temos um programa muito diverso e exaustivo para governar a cidade, ou seja, vamos a todos os temas que implicam a vida na cidade, mas estabelecemos prioridades. E, portanto, entendemos que há eixos fundamentais nos quais temos de insistir e esses são garantir o direito à habitação na cidade de Lisboa, os transportes e a mobilidade. Uma cidade em que não é possível garantir que se chega ao outro ponto para um encontro, compromisso, trabalho, escola, é uma cidade que está em falência. E é esse o caso de Lisboa, nem o transporte individual é uma alternativa, nem os transportes públicos, porque a pessoa vai para a paragem do autocarro e não sabe quando é que o próximo passa, ou vai apanhar o metro e pode ficar no cais porque a carruagem vem completamente cheia.
Mas o que pode contribuir para que a mobilidade seja melhor?
Na questão da mobilidade e dos transportes temos um problema grave para resolver que é o facto de a cidade estar entupida de carros e, portanto, temos de perceber o que é que se pode fazer para resolver a questão do transporte individual. O primeiro passo essencial que, aliás, já devia ter sido tomado há muito tempo, são os parques dissuasores. Aliás, o PS tem isso no seu programa de 2013 e não fez um único. Tinha poder absoluto e esqueceu-se do que era importante. Portanto, parques dissuasores na periferia garantem que quem vem de fora de Lisboa trabalhar ou estudar, pode ter esse sítio para deixar o carro, confortável, perto dos interfaces de transporte público e gratuito. A proposta de Fernando Medina é cobrar uma diária que pode chegar a 11 euros por mês, mais o passe, é um encargo muito pesado.
Depois, recuperar os transportes públicos. A Carris está nas mãos do município há seis meses e, é precisamente nestes meses, que os novos dados que conhecemos indicam que a Carris é a única operadora nacional, de grande dimensão, que continua a perder passageiros: 500 mil passageiros no último semestre. Isso quer dizer que a Câmara assumiu a responsabilidade mas não está a fazer absolutamente nada, ou seja, é preciso recuperar a Carris, com mais motoristas, autocarros, melhorar as carreiras e garantir a totalidade do serviço.
Na questão do metro. O metro é um dos instrumentos mais importantes na mobilidade da cidade, porque tem uma capacidade de transporte absolutamente acima de todas as outras. A Câmara tem de ter uma palavra na gestão do metro, e neste momento não tem, o que não faz sentido. A cidade tem de ter alguma coisa a dizer.
Por último, a questão mais importante para os próximos anos da cidade, que é a da expansão da rede do metro. A proposta de Fernando Medina é absolutamente errada porque não chega a zonas da cidade que sempre foram esquecidas. Se há recursos (que são limitados), não entramos em projetos megalómanos de 20/30 estações para 2030. Então, vamos aplicar bem esse dinheiro para a zona da cidade que não tem sido valorizada.
Prometer estações para 2030 não é resolver o problema imediato das pessoas
E por falar em projetos megalómanos. Como analisa, por exemplo, a proposta do CDS-PP em relação à criação de 20 estações de metro em poucos anos?
É apenas um entusiasmo de campanha eleitoral, as pessoas percebem que não é isso que está em discussão neste momento. Prometer estações para 2030 não é resolver o problema imediato das pessoas.
Mas concorda que essas estações fariam falta à cidade?
Uma coisa é ter um plano estratégico para a cidade, mas o que estamos a discutir é o próximo mandato, os próximos quatro anos, não fazemos promessas para 2030.
E os autocarros da Carris servem o que a capital precisa?
Neste momento não, claramente. Como lhe disse, o último estudo indica que perdemos meio milhão de viagens no primeiro semestre, ou seja, há cada vez menos pessoas a acreditar na Carris como uma alternativa para se poderem movimentar na cidade e isso é um problema enorme que temos de resolver, porque a Carris pode ser uma boa alternativa, mas precisa de ter mais motoristas, autocarrros, carreiras, repor a rede da madrugada para quem trabalha por turnos e não tem alternativas à noite.
Mas, sobretudo, garantir que os horários que estão previstos são cumpridos. As pessoas têm de chegar à paragem e quando diz que passa de oito em oito miutos passa mesmo, e não de 40 em 40 minutos ou 50 em 50 minutos. Isso é que retira a confiança a quem quer andar de transportes públicos.
A cidade pode estar mais bonita depois das obras, mas não se consegue circular
As obras levadas a cabo por Fernando Medina na zona do Saldanha vão ao encontro da mobilidade que deseja para a cidade?
As obras de Fernando Medina, em muitos aspetos, beneficiaram a cidade, com passeios mais confortáveis, zonas por onde as pessoas podem circular com conforto e segurança e isso é importante para a cidade. Todos nos recordamos que, nos mandatos de Santana Lopes e Carmona Rodrigues, os jardins estavam fechados a cadeado, alguns aqui perto do sítio onde estamos [Príncipe Real]. Portanto, a cidade melhorou, a questão é que não resolvemos o problema das pessoas. Houve um grande investimento no eixo central mas quem lá passa de viatura automóvel tem a sua vida muito complicada. É preciso arranjar alternativas para que se possa desfrutar da cidade após estas obras e não tendo uma boa rede de transportes públicos continuamos a ter o mesmo problema, a cidade pode estar mais bonita, mas não se consegue circular.
Ricardo Robles, de 39 anos, é engenheiro civil e deputado municipal do Bloco em Lisboa© Blas Manuel
Fez uma ação de campanha de bicicleta, um meio muito usado em muitas cidades europeias, ao contrário do que se vê em Lisboa. As ciclovias são um incentivo suficientemente forte para levar as pessoas a alterar hábitos?
O que assistimos é a um incremento muito grande, nos últimos meses, de utilizadores de bicicletas na cidade de Lisboa e isso é positivo. É uma alternativa que as pessoas estão a procurar para poderem circular. Há muitas ciclovias em muito mau estado, com muitos obstáculos. Precisamos de pensar bem as ciclovias, de fazer manutenção e, sobretudo, olhar para elas numa perspetiva utilitária, já que muitas ainda são orientadas para o lazer, mas é preciso chegar aos sítios onde as pessoas trabalham, onde vão para a escola, para a universidade e, por isso, pensar uma rede de ciclovias com uma lógica de mobilidade na cidade e não apenas de lazer, essa é a mudança de paradigma que deve ser feita sobre a utilização da bicicleta em Lisboa.
Ainda sobre os temas considerados relevantes pelo Bloco de Esquerda, acredita que o estacionamento que serve a capital é suficiente para os carros e bem gerido?
Depende das zonas da cidade. Há zonas da cidade onde ainda não existe essa pressão ou pode existir sobretudo para quem vem de fora e utiliza zonas de bairros residenciais para deixar o seu carro, mas, em particular, em alguns bairros, e sobretudo à noite, temos esse problema. Há pessoas que chegam a casa e não conseguem estacionar ao final do dia. É preciso encontrar alternativas dentro desses bairros, é possível fazê-lo com parques subterrâneos de grandes empresas que não estão a ser utilizados à noite e fazer um protocolo entre a Câmara e essas empresas para que seja utilizado por residentes. É também possível fazer com espaços públicos que só utilizam estacionamento de forma diurna e também espaços que estão devolutos há muitos anos, é preciso falar com esses proprietários e saber se há projetos para o local.
O impacto que Assunção Cristas como ministra teve na vida de quem mora em Lisboa foi absolutamente devastadorO tema do arrendamento é um dos seus principais focos e tem estado em cima da mesa em todas as campanhas, tendo em conta os preços praticados na capital. Quais as soluções apresentadas pelo Bloco para este problema?
Todas as principais candidaturas estabelecem a habitação como uma prioridade, mas precisamos de saber o que é que se propõe exatamente. À Direita, vimos a prática dos últimos anos, quando tiveram responsabilidades sobre a matéria das cidades, como no governo de Passos em que houve uma lei que foi a mais violenta desde o 25 de Abril do ponto de vista social, que foi a lei dos despejos e do aumento das rendas, de Assunção Cristas. Portanto, o impacto que Assunção Cristas como ministra teve na vida de quem mora em Lisboa foi absolutamente devastador. Depois tivemos a lei dos Vistos Gold, que aumentou de uma forma absolutamente especulativa o preço da habitação em Lisboa, para que os milionários angolanos e chineses pudessem lavar dinheiro na cidade.
Depois temos a alternativa do Partido Socialista e a alternativa do Bloco de Esquerda. O PS propõe uma parceria publico-privada para a habitação, ou seja, envolve fundos imobiliários que constroem ou reabilitam e ficam com 30% de todas as casas, isto é, 2.500 casas que são património municipal, são entregues aos fundos.
O Bloco, pelo contrário, propõe utilizar todo este património municipal e ir buscar financiamento. São 7.500 casas e são 560 milhões de euros em quatro anos, o que dá cerca de 140 milhões de euros por ano, em que vamos ter 30 milhões da taxa turística, 50 milhões de financiamento bancário como o Banco Europeu de Investimento, a taxas de juro muito baixas, 50 milhões do fundo de estabilização financeira da Segurança Social. António Costa disse que ia disponibilizar esse fundo para reabilitação urbana e habitação no país e, portanto, a cidade também deve beneficiar disso e 10 milhões de cooperativas de habitação. Com este bolo, conseguimos garantir que todo o património da cidade pode ser disponibilizado, reabilitado, naturalmente, para habitação a custos acessíveis.
Estes valores e outros necessários para os objetivos do Bloco são suficientes para cumprir as promessas para o próximo mandato?
Fizemos propostas que estão bem fundamentadas do ponto de vista das contas, ou seja, baseamo-nos em cálculos sérios para poder apresentar alternativas. Sempre que apresentamos propostas, apresentamos contas. A Câmara está financeiramente mais folgada do que estava há uns anos e, portanto, temos a capacidade de investir naquilo que é prioritário.
O turismo é uma vantagem da cidade, o problema é quando não criamos regras
O turismo era visto como algo fantástico para a cidade e, nos últimos tempos, essa ideia mudou um bocadinho, com opiniões controversas sobre o tema. Como é que o Bloco vê o que se está a passar?
O turismo é uma vantagem da cidade, o problema é que quando não criamos regras ao turismo, essa vantagem pode perder-se rapidamente. Ou seja, quem quer vier visitar Lisboa, se não é bem recebido, se as condições para os recebermos não são boas e se não há cidade onde eles querem visitar uma cidade, as pessoas deixam de vir. O facto de nos últimos anos se ter feito uma aposta no turismo sem regras - abertura de hotelaria sem limites, alojamento local sem regras, não há reforço de infraestruturas de mobilidade como os transportes públicos - criou um problema para quem nos visita e, sobretudo, para quem cá vive.
Podemos estar a potenciar aquilo que pode ser um problema mas que, na realidade, deve ser uma vantagem para a sociedade.
O turismo é a prova de que as rosas também têm espinhos?
O turismo é a prova de que se não criarmos regras podem-se criar problemas graves na cidade e, por isso, o Bloco de Esquerda entende que devem ser criadas regras muito claras, sobretudo ao nível da hotelaria e do alojamento local, no reforço da mobilidade dos transportes públicos, na dispersão da carga turística que hoje está muito concentrada no centro da cidade, mas podemos criar alternativas para que os turistas possam visitar o resto da cidade.
Como é que devem ser usadas as receitas provenientes do turismo?
Essa é a questão fundamental sobre os benefícios do turismo na cidade. Naturalmente que há benefícios que vão diretamente para economia privada, mas há uma receita, que é a da taxa municipal turística, que é uma boa ideia. Aliás, o Bloco era o único partido que em 2013 defendia que fosse criada esta receita, o PS implementou-a e nós achamos bem. Mas estamos totalmente em desacordo com o PS quando entrega esta receita a um fundo de investimentos que é gerido pelos donos dos hotéis. 15 milhões de euros foi a receita de 2016 e este ano vai ser superior. Defendemos que isto é uma receita do município e deve ser o município a aplicar esta receita.
O compromisso político do Bloco é que este valor seja aplicado na habitação, na aquisição de património para garantir arrendamento a custos acessíveis.
O programa da CDU tem muitos pontos convergentes com o do Bloco. Não foi ponderada uma coligação?
O Bloco de Esquerda tem muitas convergências com a CDU. Cada um apresenta o seu projeto nestas eleições, a democracia funciona assim.
Em termos nacionais, está satisfeito com os objetivos conseguidos, até aqui, pela chamada ‘Geringonça’?
Sou candidato à Câmara Municipal de Lisboa. Acho que está muito por fazer mas acho que não ter existido uma maioria absoluta do PS conseguiu melhorar em algumas coisas a vida das pessoas.
O paradigma da chantagem de que as maiorias absolutas é que resolvem os problemas desmoronou-se com as eleições legislativas de 2015E a imagem do Bloco de Esquerda saiu favorecida com este acordo?
Sim, as pessoas perceberam que foram os votos à Esquerda do PS que permitiram que não houvesse essa maioria absoluta e, portanto, o paradigma da chantagem de que as maiorias absolutas é que resolvem os problemas desmoronou-se com as eleições legislativas de 2015. Entramos numa nova fase da democracia em que as alternativas à maioria absoluta encontram melhores soluções para a sociedade e para o país.
E acredita que a próxima legislatura possa ser uma continuidade da que agora vivemos?
Agora vou concentrar-me nas autárquicas que é esse o meu objetivo.
Como espera ver a cidade de Lisboa daqui a quatro anos?
Espero que possamos estar a fazer um balanço positivo da eleição do Bloco na Câmara Municipal de Lisboa, da representação do Bloco na CML. Isto significaria que pudemos solucionar muitos dos problemas da habitação, que conseguimos arranjar alternativas, que morar em Lisboa deixou de ser uma missão impossível. Espero que façamos um balanço positivo da mobilidade, que aqueles que deixaram de usar transportes públicos voltem a andar e possam dizer que confiam nos transportes em Lisboa e que a cidade deixe de estar sufocada com o trânsito.
Caso não chegue a presidente mas consiga um mandato do Bloco na Câmara, será possível negociar com quem vencer?
O Bloco tem sido muito claro sobre o que pretende para a CML e Medina tem sido muito ambíguo quando lhe são feitas essas perguntas. Nós queremos participar na solução da vida das pessoas, ou seja, encontrar soluções nos transportes, na habitação, nas escolas, creches e etc., mas, para isso, é preciso que as pessoas no dia 1 de outubro vão votar, a abstenção é inimiga da democracia.
Está preparado para ser presidente da Câmara de Lisboa?
Estou preparadíssimo, tenho feito a minha atuação política em Lisboa nos últimos anos e assumo essa responsabilidade de nos próximos quatro anos ficar a tempo inteiro na cidade de Lisboa. Lisboa tem desafios muito importantes e não pode ser assumida em part-time.
Isso é uma promessa de que não agarrará um compromisso político em termos nacionais?
É um compromisso de que ficarei na cidade de Lisboa a olhar para as prioridades de Lisboa. Assumo essa responsabilidade totalmente.