De acordo com a agência de notícias AFP, entre as opções altamente controversas defendidas pelos negociadores na 28.ª Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, durante esta semana, está nomeadamente um projeto de acordo que pede a aceleração "dos esforços destinados a eliminar gradualmente os "combustíveis fósseis 'unabated'" e reduzir a sua utilização para alcançar neutralidade carbónica até 2050.
Há também uma opção de "abandonar rapidamente a energia do carvão 'unabated'" -- a energia produzida a partir do carvão que não realiza a extração ou armazenamento de dióxido de carbono (CO2) antes de ser libertado na atmosfera -- no curso desta década.
O problema, segundo os especialistas, é especificar o que este termo 'unabated' realmente significa.
"Termos como 'unabated' não têm um significado claro no momento", declarou esta semana Lisa Fischer, analista do 'think tank' E3G, aos jornalistas.
'Abated' é o termo geralmente usado em relação à captura de emissões de gases com efeito estufa antes de serem lançadas na atmosfera.
Uma nota de rodapé no último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas (IPCC) indica que os combustíveis fósseis 'unabated' são "aqueles que não estão sujeitos a intervenções que reduzam significativamente" as emissões de CO2 na atmosfera.
Por enquanto, as discussões sobre a redução das emissões centram-se principalmente nas tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS, sigla em inglês), que retêm as emissões à saída das centrais elétricas ou das instalações industriais.
A indústria do petróleo e do gás e os principais países produtores, incluindo os Emirados Árabes Unidos, anfitrião da COP28, defendem esta opção.
A curto prazo, o IPCC estima que as emissões de gases com efeito de estufa devem ser reduzidas em quase metade durante esta década para conter o aquecimento global até +1,5°C.
Isto significa substituir rapidamente os combustíveis fósseis por energias renováveis, segundo os especialistas, que observaram que a CCS tem papel reduzido a desempenhar nesta década que é crucial para o clima.
Em 2022, 35 instalações em todo o mundo extraíram ou armazenaram apenas 45 milhões de toneladas de CO2, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).
No entanto, as emissões globais deverão ser reduzidas em 22 mil milhões de toneladas "nos próximos sete anos", declarou Sultan Al-Jaber, presidente da COP28, que também administra a petrolífera ADNOC, dos Emirados Árabes Unidos.
Mesmo a longo prazo, os cientistas preveem que a utilização de técnicas CCS será limitada e concentrada nos setores mais difíceis de descarbonizar, como o setor do cimento.
Num comunicado divulgado antes das negociações sobre o clima, a High Ambition Coalition (HAC), grupo que reúne países como França, Quénia e Colômbia, disse que as tecnologias de redução têm apenas um papel "mínimo" a desempenhar na descarbonização da energia.
A dependência excessiva da CCS em grande escala -- e o seu fraco desempenho -- poderá levar a um excesso de 86 mil milhões de toneladas de emissões de gases com efeito de estufa entre 2020 e 2050, de acordo com uma análise do grupo Climate Analytics.
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