Além do músico e compositor, o projeto mobiliza Sónia Tavares, Paulo Praça e Fernando Ribeiro, que há 15 anos se juntaram para revisitar o repertório de Amália.
A banda atua no próximo 01 de março no Coliseu do Porto e, uma semana depois, no dia 07, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
Em declarações à agência Lusa, Nuno Gonçalves disse que este regresso aos palcos foi "mais um impulso" indo ao encontro de "uma pulsão do público".
"Há 15 anos, quando a banda se formou, foi mais com o intuito de mostrar os fados de Amália a uma nova geração, da década de 1970, que não assistiu à Amália no seu apogeu".
"A minha geração tinha uma dívida para com a grande diva do fado. A ideia primordial era apresentá-la com uma nova roupagem a uma geração que não a tinha conhecido como deve ser", acrescentou.
Decidiram regressar 15 anos depois, porque começaram a perceber que havia "uma pulsão do público" para que tal acontecesse. "Sentimos isso nos concertos dos The Gift, dos Moonspell, nos do Paulo Praça, sentíamos que as pessoas nos pediam que regressássemos".
"Mas não interessava regressar só por regressar, tinha de haver algum motivo. Começámos a olhar para a discografia de Amália Rodrigues e percebemos que havia fados que mereciam ser trabalhados".
Há cerca de um ano, surgiu assim uma recriação do "Fado Amália" (José Galhardo/Frederico Valério) o que os motivou a fazer novos espetáculos.
"Sentimos que era o momento de ir para estúdio e trabalharmos novas canções e de as apresentarmos nos palcos dos coliseus".
O lote de novas canções que a estrear nos coliseus inclui: "Povo que Lavas no Rio" (Pedro Homem de Mello/Fado Vitória, de Joaquim Campos), "Lisboa Não Sejas Francesa" (José Galhardo/Raul Ferrão), "Estranha Forma de Vida" (Amália/Fado Bailado, de Alfredo Marceneiro), e "Barco Negro" (David Mourão-Ferreira/Caco Velho/Piratini), além do "Fado Amália".
Do alinhamento fazem ainda parte três outras canções, todas musicadas por Alain Oulman: "Rasga o Passado", poema de Álvaro Duarte Simões, "Soledade", de Cecília Meireles, e "Com que Voz" , de Luís de Camões.
Para trabalhar este repertório, o músico disse que tentam "sacudir o peso da responsabilidade".
"Se partíssemos para este projeto balizados pelas regras não teria o efeito que tem. Obviamente respeitamos os poetas, a obra, as linhas harmónicas de cada tema, mas depois tentamos trazer a nossa liberdade artística em prol das canções".
A possibilidade de poder trazer algum desconforto aos puristas do fado, é algo que "mais excita" os músicos, "mais astúcia" lhes traz, "mais motivação" lhes dá, disse à Lusa Nuno Gonçalves.
"Lá está, 'o fruto proibido é o mais apetecido'. Ou seja, o 'fado proibido' é o mais apetecido, e gostamos disso - tentar levar a nossa capacidade artística explorar fados que à partida são intocáveis", acrescentou.
Questionado sobre onde encontram inspiração nas melodias fadistas, o músico citou o exemplo da recriação de "Formiga, Bossa Nova" (Alexandre O'Neill/Alan Oulman): "Fizemos com que o 'lead' da canção fosse uma coisa inventada por nós, e hoje em dia temos uma melodia que começa a música que não está gravada na versão original. Ou seja, é também uma maneira, através dessas melodias que inventamos por cima da harmonia recriada, [de fazermos com que] as canções sejam um bocadinho nossas; que consigamos incluir algum elemento fresco, novo, nosso".
O músico deu conta do trabalho que tem em mãos sobre "Povo que Lavas no Rio". "Tenho aqui duas ou três melodias assentes numa harmonia ou numa progressão harmónica que tem os mesmos acordes, mas não tem a mesma ordem. É este lado de redescobrir melodias novas que me excita muito enquanto mentor deste projeto".
Sobre as novas canções do projeto que vão apresentar nos coliseus, o músico afirmou: "Pretendemos que as pessoas que vão estar sentadas nos coliseus sintam um bocadinho que estão a ver história; que estão a ver pela primeira vez as músicas a serem interpretadas; [que experimentem] essa ideia da magia de ser interpretada pela primeira vez ao vivo, que se perdeu".
Questionado se está em projeto um novo álbum, Nuno Gonçalves respondeu: "Veremos, veremos se temos espaço nas nossas agendas, se há vontade editorial disso, e também se conseguimos trabalhar mais duas ou três canções. Mas, sinceramente, neste momento, não é o que nos motiva mais".
O espetáculo vai ser gravado por uma televisão, adiantou o músico.
Sobre o espetáculo, Nuno Gonçalves realçou "o peso dos músicos e criatividade que vai estar em palco".
A banda vai ser acompanhada por um coro de sete vozes, um quarteto de cordas, composto por solistas da Orquestra Sinfónica do Porto-Casa da Música, o baterista Mário Barreiros, o baixista Carl Minnemann e o multi-instrumentista Israel Costa Pereira, nas guitarras elétricas e acústicas, teclados e xilofone.
A ideia "é encher o palco de música, luz e cor", rematou Nuno Gonçalves.
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