"O Mundial é a clássica das clássicas. É uma prova muito apetecida, porque é o título de campeão do mundo e todos o querem. Marca a carreira de um atleta para sempre. Não é uma corrida fácil para ninguém. Todos nós partimos com uma ambição e temos corredores que realmente têm esse talento. Agora, são 270 quilómetros, com o passar dos quilómetros as coisas começam a endurecer, começam a aparecer as dificuldades, mas, pela experiência que eles já têm - e têm tido competições à altura para estarem preparados -, penso que podem fazer uma boa corrida", perspetivou, em declarações à agência Lusa.
João Almeida, Rui e Ivo Oliveira (UAE Emirates), Rui Costa (EF Education-EasyPost), Nelson Oliveira (Movistar) e Afonso Eulálio (ABTF-Feirense) vão representar a seleção portuguesa no domingo, nos 273,9 quilómetros entre Winterthur e Zurique, na Suíça, num percurso com 4.470 metros de acumulado.
O quarto classificado do Tour2024 é, segundo José Poeira, "um dos corredores que pode estar bem" na seleção, mas há "mais", como Rui Costa, o campeão mundial de fundo de 2013, que "vem de uma paragem por queda na Volta a Espanha, mas fez o Luxemburgo e foi melhorando durante a corrida".
"Aquela queda prejudicou bastante e não se sabe o ponto dele para fazer 270 quilómetros. Mas acho que o percurso assenta-lhe bem também, tem uma boa experiência nestas corridas de um dia, tem uma boa leitura de corrida, falta ver como vai estar. Penso que poderá estar bem", acrescentou.
O selecionador nacional de estrada antecipou uma corrida dura, em que vai "ficar um lote de corredores em cada volta mais restrito", considerando que Almeida "vai lá estar" com os favoritos, entre os que destacou o esloveno Tadej Pogacar, o belga Remco Evenepoel e o ainda detentor da camisola arco-íris, o neerlandês Mathieu van der Poel.
"Penso que ele [Almeida] poderá estar na discussão da corrida, agora se a gente faz medalha ou um lugar de destaque sem ser medalha... penso que sim, que é possível [lutar por uma medalha]. Eles estão com essa vontade. É uma prova de um dia, mas que marca a carreira de um atleta, e ele está vocacionado para isso, está com essa ambição", revelou.
Poeira acredita que Pogacar, que tem o título mundial como objetivo declarado, atacará, restando saber se "vai sozinho ou se leva companhia", nomeadamente de um dos lusos.
"A corrida vai ser muito atacada [...]. A leitura da corrida manda muito na parte final", avaliou, considerando que Portugal poderá aproveitar as "marcações mais cerradas" entre os principais candidatos.
O selecionador explicou ainda à Lusa porque decidiu convocar Afonso Eulálio, que corre na portuguesa ABTF-Feirense, do terceiro escalão mundial, algo que não acontecia desde que Rafael Reis foi convocado para o Mundial de 2021.
"Achei que podia trazer um rapaz ainda jovem, que tem talento. Está numa fase de transição. No ano passado era sub-23, agora é elite de primeiro ano. Tem muito tempo para crescer", notou.
Questionado sobre as críticas de que foi alvo por optar por levar apenas três elites (em vez dos seis a que Portugal tinha direito) aos Europeus, ao invés de recorrer a ciclistas do pelotão português, Poeira respondeu que "qualquer pessoa tem direito à opinião, mas não tem direito à decisão".
"Falam por falar. O que acontece nos últimos anos é que, umas vezes, não têm competições para se preparar -- após a Volta, não havia muitas, por acaso este ano houve o JN mas também já ficou um bocado lá atrás. Depois, há a experiência de correr num pelotão destes - eles [críticos] não percebem isso de maneira nenhuma. Estes corredores que correm aqui fora correm sempre uns com os outros, as mesmas distâncias, as mesmas Voltas, o que é uma vantagem. Conhecem a forma de correr, a capacidade de cada um, como é que cada um reage em cada momento. Há uma leitura de corrida, uma capacidade física, de resistência", enumerou.
Especificamente sobre os Europeus, que decorreram na Bélgica, o selecionador lembrou que "era uma clássica na Flandres, com estradas estreitas, paralelo, tudo aquilo que é típico numa corrida daquelas".
"E nós levámos os corredores que se adaptam àquele percurso, porque correm muitas vezes naquele tipo de corridas, nas mesmas estradas. [...]. É preciso técnica, estar ali, conseguir estar na frente, porque o pelotão parte. É preciso ter uma visão de corrida, ter a capacidade de estar naquele ponto e saber onde estão os corredores que vão atacar naqueles pontos. Por vezes, uma pessoa que não esteja preparada para isso ou não esteja habituada a correr num ciclismo destes, se calhar não consegue estar no sítio", justificou.
Poeira evocou o currículo recente da seleção nacional para responder àqueles que "tiveram o prazer de denegrir".
"Portugal tem tido boas prestações no ciclismo quando participa com as seleções. Nem sempre calha bem, pode haver um azar pelo meio. Se as pessoas quiserem ver de há uns anos a esta parte, podem ver que os resultados têm sido ótimos. Somos um país periférico, um país pequeno. Em muitos anos, aconteceu que Portugal, nos elites, no contrarrelógio e prova de estrada, se calhar era dos poucos países - ou quase inédito - que ficava com dois dentro dos 10 primeiros", salientou.