Com a maioria das empresas a meio-gás e os estabelecimentos comerciais fechados por imposição legal na sequência do estabelecimento do estado de emergência para combater a pandemia, o setor do turismo em Lisboa, Sintra e Cascais prevê quebras acima de 70%.
Apesar das baixas perspetivas, a Câmara Municipal de Sintra está já a preparar uma campanha de promoção que será anunciada em maio para dinamizar o setor do turismo.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, sublinhou que em termos quantitativos as expectativas para a época alta são más.
"Vamos ter de certeza uma quebra muito significativa no afluxo turístico em Sintra. Estávamos com uma afluência de turismo enorme. Só a [Quinta] Regaleira tinha ultrapassado um milhão de visitantes, a [Palácio] Pena o segundo monumento mais visto em Portugal. Tínhamos filas enormes para comprar bilhetes, filas enormes para o autocarro para ir à Pena", disse.
No entendimento de Basílio Horta, esta era uma realidade que não podia continuar e, por isso, considera que "esta pandemia" deve servir para se fazer uma reflexão profunda sobre o que vai ser o turismo do futuro.
"Temos de pensar seriamente. A primeira coisa a ver é se conseguimos alterar o critério da quantidade e do lucro bruto. Este deve ser mudado para o critério da qualidade e do desenvolvimento turístico", explicou.
De acordo com Basílio Horta, se tudo continuar igual vai haver outra pandemia.
"Obviamente que não vai mudar de um dia para o outro, mas temos de aproveitar esta diminuição para ir à qualidade, fazer roteiros com património, com os palácios, com as quintas, com as casas da arquitetura tradicional de Sintra, encarar e divulgar uma oferta deste género", referiu.
O autarca de Sintra estima uma quebra no turismo entre 70 e 75%, mas lembra que o município tem levado a cabo vários apoios de incentivo às micro e pequenas empresas para evitar o seu encerramento definitivo.
Também o vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, adiantou à Lusa que a quebra no setor do turismo em Cascais "é abismal", superior a 70%, salientando que as perspetivas para a época alta são também más.
"Temos consciência que não vai ser um verão fácil. Todos os festivais de música e grandes eventos, como o Estoril Open, foram cancelados. Percebe-se que o turismo só terá oportunidade de arrancar outra vez em setembro", disse.
Miguel Pinto Luz adiantou que a câmara está a reforçar o investimento em todos os grandes eventos que atraem muitas pessoas a Cascais e a tentar redirecioná-los para o final do ano ou até para 2021.
"O próximo ano será um ano de reforço da promoção internacional, da promoção 'online', reforço para qualificar o destino. Estamos preocupados, a falar com todos e ainda estamos todos a tentar perceber e aprender como podemos sair disto de forma coletiva", indicou.
Apesar disso, Pinto Luz disse que vários investidores mantiveram a vontade de continuar com os processos para novos hotéis.
No que diz respeito à cidade de Lisboa, a presidente da União de Associações de Comércio e Serviços (UACS), Lurdes Fonseca, estimou à Lusa que o verão "vai ser atípico e com muitas incógnitas".
"Sabemos já que pelo menos uma centena de pequenas e microempresas não vai reabrir pelos mais variados motivos, desde a insolvência, o receio de pedir crédito devido à idade, entre outros. Por isso, as perspetivas não são positivas", disse.
De acordo com Lurdes Fonseca, o próximo verão vai ser diferente nas várias zonas da cidade de Lisboa, porque a capital é muito abrangente em termos de tipologia de comércio.
"Lisboa tem várias zonas. Há zonas em que o comércio é mais de proximidade e acho que esses não terão tantas dificuldades, o seu mercado é quase exclusivamente interno, por isso vai depender um pouco do compHortamento do consumidor, de como este se vai pHortar a partir da reabertura", explicou.
No entanto, há, segundo a presidente da UACS, zonas em que os clientes são essencialmente turistas.
"Com estes vai haver mais dificuldades. Não sabem como vão sobreviver e captar clientes. Por isso, temos realidades diferentes dentro da cidade Lisboa", disse.
Contudo, Lurdes Fonseca considera que ainda é cedo para ter uma perspetiva correta de como vai correr a época alta.
"Só depois da reabertura e de ver qual vai ser a reação das pessoas após o confinamento e como se vão compHortar enquanto consumidores é que vamos conseguir perceber as consequências. Sabemos que nada vai ser igual, mas este é um setor resiliente", referiu.
Em Portugal, morreram 973 pessoas das 24.505 confirmadas como infetadas, e há 1.470 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.