Futuro da TAP? "Infelizmente, não tem hipóteses de correr bem"

Miguel Sousa Tavares defende ainda que a estratégia para companhia aérea do Governo é contraditória, pois se a TAP "é uma empresa de bandeira não pode ser rentável".

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Mafalda Tello Silva
06/07/2020 23:17 ‧ 06/07/2020 por Mafalda Tello Silva

Economia

Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares criticou, esta segunda-feira, a atuação do Governo no acordo alcançado com os acionistas privados da TAP.

"É um dossier que não vai correr bem. Infelizmente, não tem hipóteses de correr bem", conjecturou o antigo jornalista no seu espaço semanal de comentário na TVI24. 

Começando por tratar a "quantia astronómica" de 1,2 milhões injetados agora pelo Estado, Sousa Tavares recordou que, se esse valor for dividido pelos cerca de 10 mil profissionais da companhia aérea, "dá 120 mil euros por trabalhador, o que só por si diz tudo".

Contudo, para o comentador, há duas questões essenciais sobre esta matéria que o 'angustiam'. Em primeiro lugar, o escritor denotou que "os 1,2 mil milhões de euros não vão chegar" e, em segundo lugar, admitiu não antever "qualquer saída estratégica" possível para que se consiga, simultaneamente, "fazer da TAP uma empresa rentável do ponto de vista financeiro" e "uma empresa de bandeira".

"Parecem-me [premissas] incompatíveis, neste momento. A TAP, para ser rentável, não pode ser companhia de bandeira, assim como, se é uma companhia de bandeira não pode ser rentável", insistiu. 

Ainda sobre a solução encontrada pelo Executivo para a companhia aérea, Sousa Tavares manifestou ter uma opinião contrária à expressada pelo ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, divulgada hoje numa entrevista realizada pelo jornal de Negócios, na qual o governante garante acreditar que a cooperação entre a TAP e a companhia brasileira Azul vai manter-se mesmo após a saída de David Neeleman. Para Nuno Santos, esta ligação, a par das rotas para os Estados Unidos, são legados que o norte-americano deixa ao país.

"Ao contrário do que diz com grande otimismo o ministro, não acho que Neeleman - apesar de sair daqui com 55 milhões de euros que nós lhe damos - vá ficar com um espírito desportivo tão grande que vá manter o negócio da Azul com a TAP, nos Estados Unidos. Acho que o ministro está a tomar os seus desejos por realidade. Isso não vai acontecer e, muito provavelmente, a TAP vai perder o negócio nos Estados Unidos que, hoje em dia, era dos mais rentáveis que tinha", concluiu. 

O Executivo anunciou na passada quinta-feira que tinha chegado a acordo com os acionistas privados da TAP, passando a deter 72,5% do capital da companhia aérea, por 55 milhões de euros. "De forma a evitar o colapso da empresa, o Governo optou por chegar a acordo por 55 milhões de euros", informou, na altura, o ministro das Finanças, João Leão, numa conferência de imprensa conjunta com o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, em Lisboa. O Estado aumentou, assim, a participação na TAP dos atuais 50% para 72,5%.

A Comissão Europeia aprovou a 10 de junho um "auxílio de emergência português" à TAP, um apoio estatal de até 1,2 mil milhões de euros para responder às "necessidades imediatas de liquidez" com condições predeterminadas para o seu reembolso.

Uma vez que a TAP já estava numa débil situação financeira antes da pandemia de Covid-19, a empresa não era "elegível" para receber uma ajuda estatal ao abrigo das regras mais flexíveis de Bruxelas devido ao surto, que são destinadas a "empresas que de outra forma seriam viáveis".

 

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