Os autores do estudo que se focou no Centro de Portugal, por ser uma região muito heterogénea, consideram que os turistas da Geração X devem "ser o alvo principal das organizações de turismo", numa altura em que o turismo doméstico pode ser uma "tábua de salvação" para um setor fragilizado devido à crise provocada pela covid-19.
"Os resultados obtidos podem ser uma ferramenta importante para os gestores dos destinos e organizações turísticas, visto que está provado que os turistas das várias gerações formam a imagem dos destinos de forma diferente, o que terá um forte impacto nos seus comportamentos em termos de planeamento e compra de viagens", considera a investigadora principal do estudo, Cláudia Seabra.
O estudo envolveu 622 turistas domésticos que visitaram o Centro de Portugal, pertencentes a três gerações diferentes, nomeadamente Baby Boomers (nascidos entre 1940 e 1960), Geração X (nascidos entre 1960 e 1980) e Millennials ou Geração Y (nascidos entre 1980 e 2000).
Segundo o estudo, os Baby Boomers formam "uma imagem cognitiva de destino assente em duas dimensões, designadamente história e cultura", e "relaxamento e socialização".
Já os turistas nacionais da Geração X têm "uma imagem do destino mais complexa, privilegiando quatro dimensões: simplicidade e autenticidade, boas infraestruturas, relaxamento e socialização e nostalgia".
Os Millennials constroem a imagem de destino essencialmente tendo em conta "os fatores ambiente e nostalgia", acrescenta.
O estudo refere ainda que, no que se refere à imagem afetiva do destino, os turistas da Geração X associam sentimentos mais positivos aos lugares do que os Baby Boomers e os Millennials.
"Isso, provavelmente, ocorre porque os indivíduos da Geração X são mais flexíveis e mais curiosos e, ao mesmo tempo, porque tendem a ser mais empáticos e mais sensíveis. Por outro lado, Baby Boomers e Millennials têm preferências muito semelhantes nos aspetos excitação, autenticidade, relaxamento e novidade, quando se trata de construir a imagem de destino afetivo", justifica Cláudia Seabra.
A docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra sublinha que, "surpreendentemente, os Millennials e os Baby Boomers, apesar de estarem mais distantes em termos de idade, compartilham uma imagem afetiva mais homogénea do que a dos turistas da Geração X".
Ou seja, "avós e netos identificam-se mais do que filhos e pais na formação da imagem dos destinos turísticos", realça.
No entender dos investigadores, "os Baby Boomers adotam comportamentos que são semelhantes aos adotados pelas gerações mais novas para parecerem mais jovens do que realmente são" e, por sua vez, "os Millennials são nostálgicos e mantêm uma conexão próxima com os velhos tempos".
"Os Baby Boomers e os Millennials têm várias semelhanças. Ambos foram criados em tempos de mudança e testemunharam grandes mudanças que moldaram os seus comportamentos e mentalidades. Eles valorizam o tempo e experiências memoráveis, mas também gostam de se sentir seguros, são curiosos, indivíduos independentes e aventureiros, mas procuram ambientes protegidos", explica Cláudia Seabra.
Na sua opinião, as organizações que pretendem atrair turistas nacionais "devem perceber que aqueles constroem a imagem cognitiva de destino com base em conceitos como simplicidade e autenticidade, ambiente, relaxamento e socialização, boas infraestruturas, nostalgia e história e cultura".
"Esse pressuposto significa que estes seis aspetos devem ser valorizados e cuidados no destino de forma global e nas áreas que circundam os hotéis ou restaurantes", sublinha.
A investigadora defende também que é fundamental ter em atenção a dimensão afetiva, porque é "um aspeto crucial valorizado pelos turistas nacionais".
"O que os turistas sabem sobre os destinos domésticos irá influenciar as suas emoções e sentimentos em relação àqueles lugares", considera.
Neste âmbito, "o desenvolvimento de campanhas de promoção de destinos nacionais com base nestas dimensões e atributos levará os turistas a escolher destinos domésticos e formular intenções de compra".